quarta-feira, setembro 05, 2007

Pinças



[1996]

Eduardo Pitta (EP) tece de novo algumas considerações em que sou referido a propósito do seu post “Gosta de maçaroca, e daí?" e sobre elas gostaria de, muito sucintamente, dizer o seguinte:

1 – O Espumadamente, blog individual assinado por Espumante, não é um blog anónimo. O nome verdadeiro do seu autor consta do endereço electrónico disponibilizado no perfil da página. Acresce que muita gente me conhece pessoalmente e o próprio EP teve essa oportunidade. Se assino como Espumante é por razões absolutamente extrínsecas ao facto de prezar ou não o anonimato e é irrelevante estar a referi-las. Fica só por entender porque é que se EP referisse o meu “nick” isso poderia dar azo a trocadilhos maliciosos. Mas não creio ser importante.

2 – No caso em apreço, reli novamente o material disponível ao incidente da casa de banho do aeroporto de Minneapolis. Em parte alguma desse material pude descortinar que um polícia tinha sido destacado para aliciar homossexuais em casas de banho públicas. No caso em apreço, o aliciamento partiu do senador e não do polícia. Pelo que a interpretação da história fica desde logo inquinada por alguma perversão. Deliberada ou por rigor omisso. Pareceu-me que o polícia estava a cumprir uma tarefa e, a avaliar pelo relatório, fê-lo bem. Do ponto de vista do seu cumprimento. Se a tarefa era boa ou má, isso já é outra coisa.

3 – No restante e no essencial, mantenho as linhas gerais do meu post anterior. Interpretei a posição de EP como de acordo ao mail que recebeu do seu amigo devidamente identificado mas de identificação omitida no post e escrevi um pequeno texto onde produzi a minha discordância. Sem má-fé, como EP sugere que pode ter sido. Também me agradou ver que EP concede que o título do seu post poderia conduzir a interpretações diferentes do que ele pretenderia significar. E parece-me consensual que estamos a tratar com gente educada e íntegra como me parece ser EP e como me prezo eu próprio de ser, pelo que pressinto não haver razão para remoques.

De resto, não creio que temas envolvendo homossexualidade tenham obrigatoriamente de ser tratados com pinças. É falando nas coisas com naturalidade que se confere ao fenómeno a naturalidade de existir. Nem a sociedade em geral tem de adquirir posturas de cariz paternalista ou, ao contrário, persecutória, nem os homossexuais têm de se colocar num plano de intocabilidade que, por vezes, acaba por se tornar exigência pré-estabelecida de boa moral. Eu quero poder criticar um homossexual seja no que for sem me ver peado por um cenário circunstancial de politicamente correcto. E isso é, no fundo, o que me pareceu ter acontecido com o incidente de Minneapolis. Um empolamento e um aproveitamento do caso. Mas isso, penso eu.

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7 Comments:

At 8:45 da manhã, Blogger 125_azul disse...

Suponho que, para além do resto o teu último parágrafo encerre definitivsmente a questão.
Beijinhos

 
At 10:18 da manhã, Blogger zero disse...

No ponto três do seu post, a dada altura, EP aparece travestido de ED. Pode ter sido intencional - um 'trocadilho malicioso' diria o ED, perdão, EP - ou um erro de digitação.

Em todo o caso ...

 
At 10:27 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

zero
Foi naturalmente, um lapso. Agradeço-lhe o reparo.
Aproveito para dizer que estou com dificuldfades em comentar no "25 cm de neve". Mas tentarei mais tarde.Uma vez mais obrigado pela chamada de atençao ao erro.

 
At 3:18 da tarde, Blogger Mente Assumida disse...

Caro Espumante,

Relativamente ao que escreveu, permita-me ainda um par de palavras sobre o ponto 2.
Disse que em parte alguma conseguiu «descortinar que um polícia tinha sido destacado para aliciar homossexuais em casas de banho públicas».
Tomo a liberdade de lhe perguntar se está inteirado do caso protagonizado por Bob Allen, um político republicano da Flórida que foi detido em Julho de 2007 por, alegadamente, ter aliciado um polícia descaracterizado (como dizem os americanos, «an undercover male police officer») para a prática de actos sexuais a troco de 20 dólares (ver notícia).
Como se pode ver, é o decalque do sucedido com o senador Craig. Estas duas histórias chegaram ao conhecimento de toda a gente porque envolveram figuras públicas, mas sabe-se lá quantos mais cidadãos foram sujeitos, por parte da polícia, a situações como esta.
Embora o meu caro Espumante não tenha descortinado que o polícia foi, de facto, destacado para provocar situações de apelo ao aliciamento (ou seja, não aliciou, mas provocou esse comportamento nos outros), a verdade é que o foi.
Aliás, a "técnica" nem sequer é recente. Esta prática é correntemente adoptada pela polícia nos E.U.A..
Há já algum tempo que as queixas começaram a surgir, uma vez que as pessoas se sentem perseguidas e propositadamente enganadas, ou seja, conduzidas a adoptar esses comportamentos (não é toa que se diz que «a ocasião faz o ladrão» e aqui quem cria a ocasião é a própria polícia).
Veja-se, a título de exemplo, este artigo publicado no site ABC Newspapers já em 1 de Julho de 2004 (!), no qual se descreve uma operação deste género levada a cabo por uma equipa de quatro polícias descaraterizados que passou a frequentar um parque habitualmente frequentado por homens com intuitos de "engate", digamos assim (o que não significa que tivessem relações sexuais ali, ressalve-se). Mas pior do que isso ainda é o facto de o departamento de polícia envolvido ter publicado no site o nome dos homens que foram detidos nestas operações, o que constitui uma grosseira e inaceitável violação dos direitos fundamentais desses indivíduos.

Este tipo de actuação por parte da polícia está a incutir nos americanos uma cultura de medo e recalcamento em relação à sua sexualidade. As pessoas sentem-se constantemente vigiadas e perseguidas nos espaços públicos. Mais uma vez, cabe lembrar que as pessoas que frequentam determinados espaços com o intuito de "engatar" estão convictas de que as outras pessoas que l´estão foram à procura do mesmo, pelo que fazem a investida (aliciam) na convicção de que o outro está interessado. Não foi sempre assim que se desemvolveram as relações humanas? Não nos aproximamos todos de quem pressentimos que deseja a nossa presença?
Como consequência da disseminação desta atitude policial, teremos novamente a "guetização" da sexualidade humana! Daí que seja verdadeiramente preocupante a sucessão destes casos nos E.U.A.!

Por último, gostaria de acrescentar uma consideração pessoal sobre tudo isto. Tendo em conta que estamos a falar de uma figura pública e, mais, de um senador que sempre foi um acérrimo atacante dos homossexuais, a mim custa-me, francamente, a acreditar que o senador tenha aliciado o polícia sem ter tido antes sinais muito claros da disponibilidade do agente. Larry Craig tinha demasiado a perder para inconsequentemente aliciar um homem sem ter a certeza de que a investida ia ter sucesso.
Só que não convém à polícia contar essa versão, caso contrário, seria como se a sua actuação, em vez de desencorajar à prática do crime, o incentivasse. Só que o que se passa na realidade é que incentiva mesmo e propositadamente.
Por seu turno, ao senador também não convém dizer que só aliciou porque foi aliciado, pois estaria assim a admitir a sua homossexualidade ou bissexualidade, algo que sempre condenou (e de maneira odiosa) nos outros. Ao senador Craig só convém uma coisa: negar veementemente o facto, sob pena de ver irremediável e definitivamente comprometida a sua carreira política (lembremo-nos que ele chegou onde chegou porque fez coisas que agradavam a gente que não gosta particularmente de homossexuais...).
Tudo isto redunda numa tremenda hipocrisia de contornos homofóbicos que me repulsam inteiramente. Mas isto, como disse, é só mesmo uma consideração pessoal.

Quanto ao seu último parágrafo, concordo quando diz que houve empolamento e aproveitamento do caso, mas não pelos homossexuais. Aos homossexuais incomoda apenas, como, de resto, julgo que deveria incomodar a toda a gente (mas isso, penso eu), que esta prática de "montar o cerco" continue a ser levada a cabo com inteiro atropelo pelos direitos fundamentais das pessoas. Estou em crer que se se tratasse de uma situação envolvendo pessoas de sexo diferente, a insurgência teria lugar de igual forma e pelos mesmíssimos motivos (pelo menos eu insurgir-me-ia).
A indignação não advém do facto de se tratar de dois homens, mas sim de dois seres humanos.

Uma vez mais, bem haja pela sua preocupação em querer trocar ideias sobre o tema. É importante falar sobre as coisas para as compreender melhor. E vou mais longe do que o Espumante: para mim não há nenhum assunto que deva ser tratado com pinças. Os assuntos devem ser todos é tratados com seriedade.

Cumprimentos.

 
At 7:29 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

azulinha
Encerra, sim, Azulinha.

 
At 7:31 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mente assumida
dar uma resposta breve poderia configurar a ideia de que me estou a furtar á discussão. Vou ler o artigo que cita e prometo responder, tá?

 
At 10:06 da tarde, Blogger Hipatia disse...

Raio de mania com os nicks alheios! E se não tivesses o nome no e-mail? E daí? Onde fica mais ou menos válida uma opinião? E não é de dar uma opinião que afinal isto tudo se faz? Eu quase nunca concordo com as tuas opiniões - especialmente se metem política e futebol - mas em nada afecta a minha leitura do que escreves o facto de te conhecer o nome, a cara e até o carrinho. Nem acho que deva afectar. E faz alguma diferença nas tantas vezes que não concordas comigo o facto de até já me conheceres a cara e o nome e ainda assim eu continuar a ter um blogue onde não constam dados pessoais e onde teimo em assinar apenas com um nick?

E obrigada pelos parabéns :)) Beijo

 

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