Couch day
[1824]
Há quem trabalhe muito e não pareça. Há quem pareça e não faça nenhum. Há quem se preocupe, quem não se preocupe ou nem sim nem não, antes pelo contrário. Eu não sei bem em qual destes pressupostos me enquadro verdadeiramente, mas trabalho, como as pessoas, vivo com intensidade o que faço, independentemente de gostar ou não da tarefa que desempenho e prezo-me de me anichar numa matriz de total lealdade a quem me paga, num registo que eu definiria, mais ou menos, por do anything, legal.
Por vezes sinto que estudei muito e aprendi muito pouco, apesar de ainda ser do tempo em que tínhamos sempre a mesma professora para a primária, um exigente currículo escolar secundário e até para se entrar para a Universidade havia uma coisa que hoje parece estranhíssima e que dava pelo nome de exame de aptidão. De um modo geral, acho que a qualidade do ensino do meu tempo não era má, os professores eram competentes e, por muito que doa a algumas consciências da paróquia, não me ocorre que o espectro do regime político da altura se projectasse nas matérias que me obrigavam a estudar. Talvez com a excepção de uma disciplina específica que dava pelo nome de O.P.A.N., palavrão que queria dizer Organização Política e Administrativa da Nação mas eu acho que o nome diz tudo e aquele livrinho castanho e de pequeno formato pretendia exactamente ensinar-nos como se regia e organizava, politica e administrativamente, a República Portuguesa. Nada, afinal de muito grave, comparado com a pressão a que, mais tarde, as crianças e adolescentes tiveram de suportar em matéria de pedagogia moderna, progressista, claramente inquinada de ideologia política, enviesada e condicionada por uma execrável militância posta à frente dos interesses das crianças que gerou noções distorcidas de liberdade e parametrizadas pelos dogmas que tanto trabalho haviam dado ao Iluminismo do século XVIII. Um exemplo claro do que digo foi, por exemplo, uma “saída” imbecil de um apresentador de televisão, há dias, (Carlos Malato) que, dirigindo-se a um participante de um concurso televisivo e, completamente fora de qualquer contexto político, se tenha referido a Vasco de Graça Moura como um indivíduo que apesar de conhecidas as suas posições políticas, era um bom escritor. Esta aberração televisiva, imbecil que seja, não deixa de revelar uma série de vertentes que no seu todo valeria a pena escalpelizar se não corrêssemos o riso de estar a comparar a craveira intelectual de Vasco de Graça Moura com a parolice de um apresentador pateta de televisão.
Distraí-me e saí do contexto do post. Porque eu estava a dizer que, por vezes, tenho a sensação que estudei muito e aprendi pouco, não obstante eu considerar que a qualidade do ensino da minha geração não era má. Talvez por achar que aprendi muito mais quando estudei menos. Ou seja, trabalhando, no pleno uso dos meus teóricos e empíricos conhecimentos académicos e na sua aplicação no terreno. Porque foi o trabalho que me possibilitou muitas viagens, muita experiência e um alargamento do próprio conhecimento. Certamente por ter tido o privilégio de ter trabalhado durante alguns anos para uma multinacional do ramo.
Voltando ao post, dito isto, como diz o Marcelo, passei mal a noite. Uma indisposição gástrica inesperada (eu bem que não queria aceitar aquela sopa indiana a saber a cravinho…) fez-me passar mal a noite. De manhã estava a cair de sono e com a boca a saber a varetas de chapéu-de-chuva. Pensei, cheio de boas intenções: - Vou tomar um duche, um café fresquinho e volto para a cama para repor os níveis de serotonina. Assim fiz, apenas até à parte de voltar para a cama. Porque depois do duche fiquei fresco como uma alface (ok, digamos… uma alface com uma semana de frigorífico, mas uma alface). Mas insisti na ideia. E a ideia foi manter o roupão, encostar-me no sofá e entregar-me de alma e coração a um saudável exercício de “mapling” que em dez minutos me atirou para o sono e me repôs os níveis todos que eu necessitava.
Feito um par de telefonemas a dizer onde estava (porque há sempre imensa gente que precisa de falar comigo a partir das dez da manhã o que, considero eu, é um claro sinal de envelhecimento, não vai muito longe a altura em que muita gente queria falar comigo mas era a partir das dez da noite, o que era muito mais saudável, divertido, variado e totalmente seguro para o “spleen”, acabei por trabalhar na mesma. Tantos foram os telefonemas que recebi e que tive que fazer.
Este post tem assim uma razão de ser. Mesmo em casa, acabei a trabalhar. Eu não queria, sabia que o mundo não acabava, mas a vida hoje é assim. A não ser que estejamos tipo ligados como se vê nalgumas anedotas, somos todos ligaduras, os braços levantados por roldanas e as pernas abertas e com pesos nos pés, acabamos ao telefone a dizer coisas que dizemos todos os dias, frequentemente às mesmas pessoas. E, mesmo assim, com as tais ligaduras, pesos e roldanas, temos de nos assegurar de que (este assegurar de que, aqui, vai bem, acho eu de que...) não há por ali um kit mãos livres.
E para aqueles (aqueles e aquelas como diria Guterres e diz agora Ségolène) que eventualmente tenham tido a pachorra e chegado ao fim deste post, as minhas desculpas pelo post ser como a Itália. Longo e chato. Mas, que diabo. Entre o “trabalho” sempre haveria de sobrar um tempinho para fazer o post da praxe.
Há quem trabalhe muito e não pareça. Há quem pareça e não faça nenhum. Há quem se preocupe, quem não se preocupe ou nem sim nem não, antes pelo contrário. Eu não sei bem em qual destes pressupostos me enquadro verdadeiramente, mas trabalho, como as pessoas, vivo com intensidade o que faço, independentemente de gostar ou não da tarefa que desempenho e prezo-me de me anichar numa matriz de total lealdade a quem me paga, num registo que eu definiria, mais ou menos, por do anything, legal.
Por vezes sinto que estudei muito e aprendi muito pouco, apesar de ainda ser do tempo em que tínhamos sempre a mesma professora para a primária, um exigente currículo escolar secundário e até para se entrar para a Universidade havia uma coisa que hoje parece estranhíssima e que dava pelo nome de exame de aptidão. De um modo geral, acho que a qualidade do ensino do meu tempo não era má, os professores eram competentes e, por muito que doa a algumas consciências da paróquia, não me ocorre que o espectro do regime político da altura se projectasse nas matérias que me obrigavam a estudar. Talvez com a excepção de uma disciplina específica que dava pelo nome de O.P.A.N., palavrão que queria dizer Organização Política e Administrativa da Nação mas eu acho que o nome diz tudo e aquele livrinho castanho e de pequeno formato pretendia exactamente ensinar-nos como se regia e organizava, politica e administrativamente, a República Portuguesa. Nada, afinal de muito grave, comparado com a pressão a que, mais tarde, as crianças e adolescentes tiveram de suportar em matéria de pedagogia moderna, progressista, claramente inquinada de ideologia política, enviesada e condicionada por uma execrável militância posta à frente dos interesses das crianças que gerou noções distorcidas de liberdade e parametrizadas pelos dogmas que tanto trabalho haviam dado ao Iluminismo do século XVIII. Um exemplo claro do que digo foi, por exemplo, uma “saída” imbecil de um apresentador de televisão, há dias, (Carlos Malato) que, dirigindo-se a um participante de um concurso televisivo e, completamente fora de qualquer contexto político, se tenha referido a Vasco de Graça Moura como um indivíduo que apesar de conhecidas as suas posições políticas, era um bom escritor. Esta aberração televisiva, imbecil que seja, não deixa de revelar uma série de vertentes que no seu todo valeria a pena escalpelizar se não corrêssemos o riso de estar a comparar a craveira intelectual de Vasco de Graça Moura com a parolice de um apresentador pateta de televisão.
Distraí-me e saí do contexto do post. Porque eu estava a dizer que, por vezes, tenho a sensação que estudei muito e aprendi pouco, não obstante eu considerar que a qualidade do ensino da minha geração não era má. Talvez por achar que aprendi muito mais quando estudei menos. Ou seja, trabalhando, no pleno uso dos meus teóricos e empíricos conhecimentos académicos e na sua aplicação no terreno. Porque foi o trabalho que me possibilitou muitas viagens, muita experiência e um alargamento do próprio conhecimento. Certamente por ter tido o privilégio de ter trabalhado durante alguns anos para uma multinacional do ramo.
Voltando ao post, dito isto, como diz o Marcelo, passei mal a noite. Uma indisposição gástrica inesperada (eu bem que não queria aceitar aquela sopa indiana a saber a cravinho…) fez-me passar mal a noite. De manhã estava a cair de sono e com a boca a saber a varetas de chapéu-de-chuva. Pensei, cheio de boas intenções: - Vou tomar um duche, um café fresquinho e volto para a cama para repor os níveis de serotonina. Assim fiz, apenas até à parte de voltar para a cama. Porque depois do duche fiquei fresco como uma alface (ok, digamos… uma alface com uma semana de frigorífico, mas uma alface). Mas insisti na ideia. E a ideia foi manter o roupão, encostar-me no sofá e entregar-me de alma e coração a um saudável exercício de “mapling” que em dez minutos me atirou para o sono e me repôs os níveis todos que eu necessitava.
Feito um par de telefonemas a dizer onde estava (porque há sempre imensa gente que precisa de falar comigo a partir das dez da manhã o que, considero eu, é um claro sinal de envelhecimento, não vai muito longe a altura em que muita gente queria falar comigo mas era a partir das dez da noite, o que era muito mais saudável, divertido, variado e totalmente seguro para o “spleen”, acabei por trabalhar na mesma. Tantos foram os telefonemas que recebi e que tive que fazer.
Este post tem assim uma razão de ser. Mesmo em casa, acabei a trabalhar. Eu não queria, sabia que o mundo não acabava, mas a vida hoje é assim. A não ser que estejamos tipo ligados como se vê nalgumas anedotas, somos todos ligaduras, os braços levantados por roldanas e as pernas abertas e com pesos nos pés, acabamos ao telefone a dizer coisas que dizemos todos os dias, frequentemente às mesmas pessoas. E, mesmo assim, com as tais ligaduras, pesos e roldanas, temos de nos assegurar de que (este assegurar de que, aqui, vai bem, acho eu de que...) não há por ali um kit mãos livres.
E para aqueles (aqueles e aquelas como diria Guterres e diz agora Ségolène) que eventualmente tenham tido a pachorra e chegado ao fim deste post, as minhas desculpas pelo post ser como a Itália. Longo e chato. Mas, que diabo. Entre o “trabalho” sempre haveria de sobrar um tempinho para fazer o post da praxe.
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Etiquetas: ócio, post chato
6 Comments:
:=)
A Itália não é chata!
;))))
Vá ...
... beijinhos, de melhoras! :))
Sinapse
IL
Touched com o teu enorme comentário :)))
Sinapse
Há um álbum do Astérix em que o Obélix passa toda a história do livro a dormir e é arrastado pelo Astérix que é designado para uma missão na Suiça. O Obélix acordava de vez em quando, mas sempre que acordava coincidia com eles a travessarem a superfície plana de um lago gelado.
No dim da história, na festa habitual da aldeia e antes do bardo ser amordaçado :)) perguntam ao Obélix: - How did you find Switzerland? E ele respondeu: - Flat. :))
Ciomo li este álbum na A. do Sul a versão inglesa acabava assim...
Quanto à itália, está bem de ver que a itália é chata... no mapa. Ou não será?
Também há o Chile, compridíssimo mas com muito relevo também.... xacáver o que é que se arranja... já sei: Moçambique, quase 3.000 kms de comprido e com umas montanhecas aqui e ali como quem tem umas borbulhas
:))
Beijinhos e obrigado pelas melhoras. Post chato aquele, não foi?
:))
E já tás melhorzinho?
azulinha
Completamente pronto para outra :))))
Beijinho
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