Boçalidade
[1589]
Um homem morre. Por força de uma carreira brilhante em vida, é merecedor de várias manifestações de respeito e carinho. Mas há uma que lhe está reservada, no Dragão, sob a forma de assobios e de vaias. Porque Bento, o homem que morreu, cometera o crime grave de ter sido jogador do Benfica.
O facto de os minutos de silêncio se terem transformado, em Portugal, em minutos de palmas já me causava alguma estranheza. Poderei estar errado mas julgo que Portugal será o único país em que o minuto de recolhido silêncio que se convencionou dedicar a quem parte se tornou em minuto de aplauso. Agora que se tenha passado do aplauso ao assobio e à vaia energúmena e labrega é que não me passaria pela cabeça. Mas aconteceu. Um dia destes aparece por aí um sociólogo iluminado a explicar os porquês de uma reacção que só pode ter a ver com a boçalidade. Nada mais que isso.
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Um homem morre. Por força de uma carreira brilhante em vida, é merecedor de várias manifestações de respeito e carinho. Mas há uma que lhe está reservada, no Dragão, sob a forma de assobios e de vaias. Porque Bento, o homem que morreu, cometera o crime grave de ter sido jogador do Benfica.
O facto de os minutos de silêncio se terem transformado, em Portugal, em minutos de palmas já me causava alguma estranheza. Poderei estar errado mas julgo que Portugal será o único país em que o minuto de recolhido silêncio que se convencionou dedicar a quem parte se tornou em minuto de aplauso. Agora que se tenha passado do aplauso ao assobio e à vaia energúmena e labrega é que não me passaria pela cabeça. Mas aconteceu. Um dia destes aparece por aí um sociólogo iluminado a explicar os porquês de uma reacção que só pode ter a ver com a boçalidade. Nada mais que isso.
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Etiquetas: Bento, boçalidade, minutos de silêncio
5 Comments:
eergh! estou totalmente a leste do que se passou, mas só por si, parece-me uma coisa horrível e lamentável... triste, triste...
Não sabia ... porque, tal como a Miss Spring, estou completamente a leste de tudo o que tem sido notícia ...
... e sinto-me profundamente envergonhada por ser do Porto.
As tuas palavras são as palavras certas, são as palavras sentidas, são as palavras que traduzem exactamente o que eu pensei e senti, quando soube dessa reacção que envergonha, que magoa e faz doer. Será que o valor da vida e da morte não provoca o respeito, seja qual for a raça, o credo, a ideologia, o clube?
Beijinhs para ti e obrigada pelas linhas que a tu humanidade ditou.
...que a tua humanidade ditou, digo.
Não me causa assim tanta estranheza os aplausos no silêncio: se em vida o aplaudiríamos, porque é que em morte não havemos de o fazer? Estranhei da primeira vez que me deparei com isso... Explicaram-me que era uma forma de homenagem superior. Interiorizei o conceito e agora não estranho.
Quanto aos assobios, obviamente, que que não posso concordar, nem sequer perceber... O silêncio é, no mínimo, uma questão de respeito, não tem sequer de ser uma bajulação. Pode haver quem entenda que a homenagem vai além do respeito e sinta o silêncio como um profundo reconhecimento e até quem pretenda exteriorizá-lo com os tais aplausos. Mas é, de facto, inconcebível que haja quem entenda que a memória deva ficar aquém do respeito...
Resta-me dizer que não soube o que se passou no Dragão, mas acredito - mera convição! - que os assobios não foram generalizados, e arrisco mesmo dizer que partiram apenas dos Super... Nem todo o portista é boçal, rude e estúpido e não é a primeira vez que em estádio os Super incitam reações que não são aprovadas pelos restantes espectadores...
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