Manias ao léu

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Incumbência recebida da Laura Lara. Citar cinco manias e citar cinco vítimas para a confissão seguinte.

Minha querida amiga, eu não sei bem o que entendes por um post de antologia a partir de manias que eu eventualmente tenha. Mas vou tentar corresponder ao teu apelo. Começo por dizer que não tenho cinco manias, devo ter cinco mil o que, à partida, me coloca, “desde logo” (esta aprendi com os comentadores dos telejornais), um necessário exercício selectivo, o estabelecimento de uma escala de prioridades, qualquer coisa como, “qual a melhor ou a pior mania eu tenho”? Ou a mais gira? Ou a mais idiota? Como vês, a dúvida levanta-se de imediato (ia a dizer "desde logo" outra vez…) e eu receio que opte por um conjunto de manias que não tenham graça, por um grupo de manias demasiadamente confessionais, por um grupo de manias que sugiram em quem me lê o tremendismo da dúvida se estarei a passar algum mensagem subliminar a alguém, enfim, tudo isto é um problema, mas eu não quero deixar de responder. E eis que, de repente (assim como a neve no outro dia em Lisboa) percebo que uma mania já eu confessei – qual seja o uso em regme de permanência daquilo a que eu ( e não só) chamo um “complicómetro”, que é um “gadget mental” que serve para complicar o que é fácil e para dizer em mil palavras, tal como acabei aliás de fazer, aquilo que poderá desde já, ser registado em seis palavras:

1ª mania – Sou um “gajo” complicado e palavroso

Posto isto e depois de falar na minha primeira mania, há uma outra que não sei se é boa se é má, mas que referiria (e agora vou desligar o complicómetro, senão o Blogger account "desconecta-me" - não acredito que tenha dito isto…) desde já e com muita veemência – sou incapaz de arrumar o carro por cima das linhas de parqueamento e cada vez que vejo alguém a parar o carro por cima das linhas ocupando três lugares e sair com uma cara de quem acha que os gatos comem alpista, dá-me vontade, se for mulher, perguntar-lhe se a celulite lhe tolhe os movimentos, se for homem, perguntar-lhe se ele foi sempre estúpido ou se foi operado em pequenino. Temos, assim, a minha segunda mania:

2ª mania - Rigor no parqueamento automóvel

Chegado aqui lembro-me de um factor que tem sido determinante na minha vida. O convencimento de que toda a gente é como eu. Boa ou má, mas como eu. Donde eu, implicitamente, espere que não haja divergências de opinião, de sensibilidade, de gostos, de apreensão da lógica e da racionalidade. Tudo na mesma onda, pelo que é só uma questão de harmonizar pequenas diferenças de pormenor. Puro engano. Os kilociclos são tantos e as bandas disponíveis tão numerosas que as pessoas (talvez felizmente) são um emaranhado de sentimentos, emoções, gostos, manias, capacidade reactiva, cada uma à sua maneira e isso, frequentemente, tem-me causado dissabores. Mais grave ainda. Quantos mais anos anos vivo, mais esta mania se acentua, pelo que penso que há aqui um claro défice de inteligência (esta aprendi numa viagem à Madeira) da minha parte, pois já devia ter percebido o que aqui explico. Logo,

3ª mania – tendo a pensar que toda a gente pensa como eu

Para a mania seguinte, escolho (e agora vou mesmo ser confessional) a vaidade. Por razões absolutamente ininteligíveis, sinto-me vítima de uma pontinha de vaidade. Por vezes acho que sou inteligente, outras que sou irresistível com as mulheres, frequentemente que sou um excelente condutor de automóveis e outras minudências no género. Nem a evidência de não ter conseguido resolver alguns problemas na minha vida (inteligência), ter sido preterido por um par ou dois de mulheres (irresistível) e ter tido um punhado de acidentes (bom condutor de automóveis) me faz saber dosear as coisas. Talvez porque, em contraponto, resolvi muitos problemas da minha vida, NÃO fui preterido por um considerável número de mulheres e conquistei algumas taças em automobilismo, o que contribui muito para que mantenha esta mania (a da vaidade) latente e num saudável estádio de manutenção, antes de, em definitivo, eu perder todas as razões para ela. Assim,

4ª mania - vaidade (em doses moderadas, mas vaidade)

Finalmente chegamos à última das manias… e acho que só pode ser uma. Paixão. Sou um maniento e militante apaixonado. Tenho a mania (estou a falar muito a sério…) que nada se faz sem paixão. Desde o carro que se compra, à mulher que se ama, tenho irremediavelmente que me apaixonar. Se uma paixão errada por um carro é de relativa facilidade em corrigir, já uma mulher (vade retro quem ousar pensar que estou a comparar mulheres aos carros, os carros consomem muito menos…) não é assim tão fácil. Mas, o essencial, a paixão, fica. E fica bem. Porque acho que quando a vida fluir num leito anódino, neutro e árido de emoções será assim como uma espécie de Guadiana num Verão violento e antes de se lhe ter regularizado o caudal. Seca, parada, estéril e chata. Aqui fica, assim, a minha última mania

5ª mania – a paixão

Como vítimas e dando de barato que já vi duas ou três recusas masculinas e ainda que muitas das pessoas que conheço já foram distinguidas com a selecção, passo o testemunho a:

Ana
Catarina
Lilla Mig
Luna
Xana (que ainda não tem blog, mas já devia ter e só não responde senão quiser, pois tenho a certeza que tem meios e local para o fazer.

E agora vou pedalar vinte quilómetros de bicicleta, seis ao lado do mar, oito por pinhais e seis no meio de casas cheias de gente a flanar na sala, a fazer nenhum, de roupão, a tomar café, ler o Expresso e fumar um cigarro. Hummmmm…