Pesporrência e Absurdo

[351] - A sobranceria é um fenómeno próprio de países atrasados – não me espanta assim que Portugal esteja na linha da frente, neste particular.

A sobranceria acompanhada de evidente irritação e pesporrência continua a ser um fenómeno próprio de países atrasados, mas com factores agravantes, como é evidente.

A sobranceria irritada e pesporrente e, ainda, inquinada de um discurso falacioso, mesmo com arrebiques de pedagogia de extracção de jardim de infância raia já o absurdo e merece mesmo um vigoroso protesto. E configura ainda um inevitável sentimento de desilusão, revolta e rejeição ao mesmo tempo que, paradoxalmente, gera um campo de indiferença pelos mentores do nosso universo sócio-político. E a indiferença é o pior dos inimigos de uma sociedade desejavelmente saudável e desenvolvida.

A actuação recente de Jorge Sampaio é um bom exemplo do que acabo de afirmar. Isto, na minha pessoalíssima opinião, está bem de ver. Eu sei que o homem é agastadiço, irritável, de difícil trato e de um, para mim, inesperado espírito de calculismo e conveniência, como o provam recentes decisões (??) por ele tomadas.

Mas ver o meu Presidente de República no interior de um autocarro, de microfone em punho, a vociferar contra o inferno do IC19, e acusando a crescente motorização, consubstanciada no elevado número de viaturas com um só condutor, como causa principal do caos do IC19 e a apelar para a nossa cidadania para um esforço colectivo e solidário (!!) na resolução destes problemas, é um espectáculo patético, degradante, grotesco e terceiro mundista.

Como se a balbúrdia instalada no Concelho de Sintra fosse culpa dos utentes da via - que tiveram a triste e pouco cívica ideia de ir comprar casa para um dos melhores exemplos de caos urbanístico, logicamente aprovado e, quiçá, impulsionado pelos edis. Edis de que, aliás, o próprio Jorge Sampaio fez parte num passado recente e onde não deixou obra que se visse, a não ser pela negativa, como me ocorre ter sido o caso da electrocussão de uma criança por desleixo da Câmara e a ideia peregrina do túnel do Marquês (injustamente atribuída a Santana Lopes que se limitou a pegar num projecto já iniciado), no intuito óbvio de beneficiar a área comercial da Rua Castilho. Entre outros exemplos.

ADENDA: O António Ferrão chama-me a atenção, através de comentário, para o facto da electrocussão da criança ter acontecido com João Soares e não com Jorge Sampaio.

Foi um erro grosseiro da minha parte que não sou jornalista, não tenho arquivos e, por vezes, confio demasiado na minha memória. Assim como quem toca um instrumento de ouvido. Erro de que me penitencio, como é evidente, ao mesmo tempo que agradeço ao António.