terça-feira, maio 03, 2005

A "Bisga"



[347] - Eu explico:

A Rua João de Deus é aquela que vai por ali acima, da Calçada da Estrela, ali à Basílica. Faz a curva, transforma-se em Rua dos Navegantes, vira à direita e já é Buenos Aires, segue por ali fora até ao fundinho e depois segue por ali abaixo até Santos. Se não expliquei bem, perguntem à Carris, que o 23 que vem dos Prazeres faz exactamente este percurso.

Ora, a Rua João de Deus é a subir, como disse, tem passeio sem carros (sim, tem os tais dos pilaretes, senão como é que queriam?) e é muito agradável, porque tem árvores e cócó de cão na calçada. O lado direito de quem sobe faz uma parede abrupta (sem link...) para um jardim cá em baixo cheio de carros e também algumas flores a atirar para o murcho e alguns arbustos ressequidos, montinhos de areia, bandeirinhas vermelhas das obras, pedras de calçada portuguesa que eu não sei se arrancaram ou se vão ser colocadas, um par de buracos e um arrumador. Também, não é só carros...

Hoje à tarde estacionei o carro no tal jardim (explicando melhor, é aquele espacinho entre a Basílica e a entrada do Hospital Militar), exactamente abaixo da Rua João de Deus. Como saí mais cedo e me deve ter dado qualquer coisa assim a atirar para a ménage, lembrei-me que tinha um dos esguichadores (isto diz-se?...) de água do parabrisas desalinhado. Já me acontecera, num sinal vermelho, accionar a coisa e dar uma esguichadela numa senhora que estava no passeio e que me fez corar com os gestos que me fez para dentro do carro. Ora, se bem me lembrei, melhor achei que poderia muito bem usar um alfinete que tenho sempre no carro (não me perguntem porquê, mas tenho sempre um alfinete no carro, entre outras coisas, claro) para alinhar o esguicho (isto é uma forma feiota de dizer a coisa, mas não me ocorre outra).

Estava eu naquela responsável e altamente especializada operação, debruçado sobre o parabrisas e meticulosamente calculando o ângulo do esguicho por forma a que o mesmo batesse no vidro com ar de Professor Pardal a preparar um novo invento e eis que... um «OVNI» se estatela ruidosamente no vidro. Malditos pombos, pensei eu.

Mas eis que uma observação mais atenta me diz que:

- Não havia pombos nas redondezas;

- O excremento de pombo é assim para o cinzento, a atirar para o esverdeado e laivos de esbranquiçado (depende dos locais de Lisboa, tem a ver um bocado com o que comem, mas é de identificação razoavelmente fácil);

- O OVNI estatelado no vidro tinha a ver com tudo menos com um «presente» de pombo. Não sou columbófilo, mas que diabo, toda a gente apanhou já com uma «pombadela» ao longo da vida. O OVNI era assim para o viscoso, escorregadio, espumoso e... bem, não digo mais porque alguém pode estar a jantar e eu não quero estragar a digestões;

- O carro estava estacionado imediatamente abaixo da João de Deus.

Ora, adivinhem o que seria o tal OVNI.

Ainda andei uma dezena de metros na esperança de identificar o autor de tão poderosa e lusa «bisga», mas debalde. Vi meia dúzia de pessoas a subir e a descer a rua, todas elas com a expressão inocente de quem seria incapaz de mandar uma «bisga» em arco, atirada duma rua para uma fantástica trajectória de, pelo menos, uns dez metros mais abaixo.

Contei até dez...pensei em emigrar...deixar de fumar... ir a Fátima a pé...qualquer coisa que sossegasse esta minha terrível mania que eu tenho de que vivo num país onde os homens ainda medem as suas capacidades e auto estima por uma formidável «bisga» atirada de uma rua para um desnível de cerca de dez metros. Mesmo que ela (a bisga) se estatele num parabrisas de um carro. Ou, de preferência, isso mesmo.

12 Comments:

At 9:21 da manhã, Blogger Passada disse...

A tal, que me enerva e enoja profundamente. O tal hábito do tempo dos bárbaros. A tal cena que não aguento. O tal ato de gregório oficializado. A tal cultura que faz dos portugueses assim meio atrasaditos. E ninguem leva a mal esse perfeito nojo. Tinha que o dizer.

 
At 6:35 da tarde, Blogger Hipatia disse...

Podia ter sido na tua cabeça, Espumante... Já viste que afinal tiveste sorte?

(não faz parte do ritual de crescimento masculino aprender a arremessar a bisga?... é que sempre pensei que sim, eheheh)

 
At 7:08 da tarde, Blogger t-shelf disse...

Blaarrrgh, como é possível! Melhor ainda, no outro dia observei o mesmo fenómeno no feminino (sem o requinte do tiro à distância claro)o que ainda é mais desconcertante.

 
At 7:08 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mmicr
E disseste bem :)
Em matéria de bisgas, parece que nunca estivemos em desacordo, estivemos?
:))

 
At 7:13 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Hipatia
Isso és tu que tens uma visão distorcida dos rituais masculinos, em termos de bisgas :
Toun a brincar e... sim,tens razão. A bisga, bem elaborada, faz parte do currículo do macho luso
blarghhhh
:)

 
At 7:17 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

t-shelf
O episódio que contei releva de um episódio verdadeiro e não de qualquer fantasia de quem lhe apeteceu escrever um post e não tinha assunto.
Quanto à cuspidela feminina, confesso que ainda não tive ocasião de observar... mas não percamos a esperança. Um dia será.
:)

 
At 7:30 da tarde, Blogger t-shelf disse...

oh espumante, longe de mim duvidar da veracidade do episódio... (até porque tenho um diploma em posts sem assunto ;))

P.S. Conheço alguém que também anda sempre com um alfinete no porta-moedas e que quando lhe relatei (há minutos atrás) esse teu hábito limitou-se a responder: Claro! com toda a convicção de quem valida uma evidência absoluta.

 
At 8:22 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

t-shelf

A razão por que o teu amigo anda sempre com um alfinete não sei. Agora eu, está claro que ando com um alfinete no carro por força de... hummm porque... claro... isto é... hummm por que raio mesmo é que eu andarei sempre com um alfinete no carro?
:)

 
At 8:25 da tarde, Blogger t-shelf disse...

Será para ajeitar o "caudal" do limpa-pára-brisas? O do meu marido/amigo/namorado/m-shelf é para isso..:)

 
At 10:44 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

t-shelf
Não fazia ideia de o teu amigo do alfinete era o teu marido, desculpa :))))

E ele tem razão. É mesmo para isso, para afinar o ãngulo do esguicho e limpar o orifício. Coisas de "gaijos" :))))))

 
At 10:46 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

t-shelf
Não fazia ideia de o teu amigo do alfinete era o teu marido, desculpa :))))

E ele tem razão. É mesmo para isso, para afinar o ãngulo do esguicho e limpar o orifício. Coisas de "gaijos" :))))))

 
At 9:18 da manhã, Blogger t-shelf disse...

No problem espumante. Coisas de gaijos indeed.

 

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