terça-feira, maio 06, 2014

E a gaivota que nunca mais pára…


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Acordei com o barulho da TV, que é o que normalmente acontece a quem adormece com ela ligada.

Estremunhado, ouvi a cena da gaivota voava, voava, asas de vento, coração de mar… e a bicha nunca mais parava. Voava, voava, voava. A minha primeira reacção foi presumir que Otelo, Vasco Lourenço e Mário Soares, rodeados pela Avoila, Nogueira, Jerónimo e correlativos e, lá mais para trás, Tó Zé Seguro a ver no que «aquilo» dava, tinham feito outra revolução e vinham pela avenida abaixo a cantar a gaivota.

Pára a música e oiço um repórter da RTP chamado Fonseca a perguntar ao povo o que é que achava da comunicação de Passos Coelho sobre a saída da «troika». Quer-se dizer… a pergunta não era bem assim, era mais do género:

- Então e agora? Sente os bolsos mais cheiinhos?
- Então já nota diferença na sua vida, depois da «troika» ir embora?
- Então acha que o povo anda mais satisfeito com a saída da troika? (Falta referir que nesta altura via-se em cenário de fundo um avião, convenientemente da Lufthansa, a desaparecer ao longe, presume-se que levando no seu bojo os malfeitores que andam a roubar o nosso dinherinho…)

A estas perguntas (estas e mais cem delas, mas todos no mesmo género) respondia o povo, rindo (o povo português ri sempre, quando não está a chorar) com tiradas extraordinárias desde dizer que em vez de andarem a plantar árvores de sombra em Lisboa deviam era plantar árvores de fruta para as crianças comerem, que os caixotes de lixo agora andam sempre a ser rebuscados por crianças e velhinhos com fome, que o comércio está mal (tudo isto é dito a rir) e que o Passos Coelho é que tem a culpa.

A reportagem acaba mais ou menos aqui. O povo a rir, a gaivota a voar e o coro a cantar o «somos livres» e o rapaz Fonseca da RTP com a satisfação do dever cumprido. Pela minha parte ainda penso se um dia destes não me dá para, de uma vez por todas, mudar de latitude.

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