domingo, abril 13, 2014

Lusoterapia


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Acontece que estou rouco que nem uma hiena engasgada. Ontem, então, não era rouco, era total e inapelavelmente afónico. Claro que Murphy, um amigo crónico desta casa, esteve sempre presente e poucas vezes como ontem o telefone tocou tanto.

Hoje acordei um pouquinho melhor. De afónico passei a rouco, grau 4, numa escala de 1 a 5. Coisa assim tipo gorila chateado nas montanhas do Burundi. Mas saí… estivera ontem todo o dia em casa, pelo que achei saudável sair. Problema é esta ancestral mania dos portugueses de terem receita para tudo. E quando não têm, pelo menos conhecem o melhor médico do mundo. Ora reparem:

Ao balcão da Sacolinha:

- Eu:  Grumpf (entenda-se, quero dois croissants de cereais para levar).
- Empregado: Aqui tem. De seguida, em tom confidencial: Olhe, uma casquinha de limão em água quente, mel e duas folhinhas de hortelã. Parece esquisito, mas olhe que melhora em duas horas. A minha sogra blá, blá, blá,blá…
- Eu: Grumpf (entenda-se, ok, obrigado, vou tratar disso já de seguida)

A pagar, à saída

- Eu: Grumpf (entenda-se, queria pagar, por favor).
- Menina simpática do caixa: Pois sim. Ui, que coisa, senhor, olhe, descanse em casa, beba muita, mas muita água e faça um chá de rodelas de cenoura e cascas de cebola, mas só as cascas, entende? Vai ver que passa logo, logo. A minha avó blá, blá, blá, blá... 
- Eu: Grumpf (entenda-se, obrigado vou já comprar as cenouras e as cebolas)

A entrar para o carro

- Amiga minha a estacionar à frente do meu: Oi, tudo bem?
- Eu: Grumpf (entenda-se: tudo bem obrigado e tu, também?)
- Ela: É pá, que coisa, estás rouco?
- Eu: Grumpf… (entenda-se: xiça, nota-se muito?)
- Ela: É pá, vai já comprar mel, mas mel a sério, não é desse industrial, mel biológico. Mistura com aguardente, pode ser brandy, mas bagaceira branca é melhor. Depois bebes um pouco e o resto esfrega no peito, a seguir põe uma toalha quente e deixa-te ficar com ela aí uma hora. Vais ver como passa logo. A minha mãe, blá, blá, blá, blá…
- Eu: Grumpf (entenda-se: pá, vai chatear o Camões, pá… tenho já tanta coisa para comprar, tanto conselho dado que já não vai dar para a aguardente e para a toalha – claro que este meu grumpf foi mesmo grumpf, não ia mandar a minha amiga chatear o Camões, ainda que me tivesse apetecido).

Muitos grumpfs e muitos conselhos depois, cheguei a casa. Trazia no ouvido dicas sobre limão, mel, açúcar, cenoura, cebola, romã (esta da romã não é liberdade poética, aconteceu MESMO *), flores de pessegueiro, urtigas (eu seja ceguinho), noz-moscada e mais uns quantos ingredientes que me aconselharam. Até um link para um blog me deram. Reflecti sobre o gene que faz de nós o homo terapeuticus, certamente uma versão ibérica do erectus que se fixou aqui pela Península e que fez com que soubéssemos sempre a cura das maleitas todas e, mesmo assim, andássemos sempre doentes. Ou conhece-se algum português que não sofra de qualquer coisinha, mesmo sabendo de antemão como curá-la?

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4 Comments:

At 9:06 da tarde, Blogger estouparaaquivirada disse...

Eu alinho nas cascas de cebola que já experimentei :))))
"de médico e de louco todos têm um pouco"

Ainda deves estar a arrumar a despensa depois conta qual escolheste e como passou!
Melhoras rápidas

 
At 8:20 da tarde, Blogger ana disse...

toma o que quiseres, mas não fales. A pior coisa para as cordas vocais é força-
las nessas alturas.

 
At 6:31 da tarde, Blogger Isabel Mouzinho disse...

Boa Páscoa, Nelson!
Um beijinho

 
At 10:23 da tarde, Blogger redonda disse...

Eu já tentei o limão e o mel. Adiei o chá das cascas de cebola. Chocolate é má ideia. Codipront também.

 

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