As diferenças
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Um jogador do Sporting (Insua) cuspiu fragorosamente na cara
de um adversário. As televisões viram, a federação agiu, castigando-o.
Mais tarde, na conferência de imprensa de Vercauteren, treinador
do Sporting, um jornalista perguntou o que é que ele (Vercauteren) pensava do
castigo aplicado ao Insua (Os jornalistas desportivos têm normalmente perguntas
idiotas para colocar, com a agravante de estarem convencidos que estão a descobrir
a cana para o foguete…).
Vercauteren, um homem normalzinho da cabeça, parece ter até
ficado admirado com a pergunta e respondeu o óbvio. Que toda a gente tinha
visto o que se passara e que, naturalmente, as autoridades se limitaram a actuar,
castigando o jogador. Os jornalistas e comentadores televisivos em geral ficaram
muito admirados com a atitude bonita de Vercauteren. Aquilo que era ou deveria
ser o reconhecimento normal de um erro de um dos seus jogadores tornou-se num
foco de loas e cantatas ao treinador belga, ele próprio provavelmente muito
surpreendido com o que se estava a passar.
É evidente que ser português e viver em Portugal tem as suas
vantagens para perceber esta patetice. Porque o normal seria ouvir um José
Guilherme Aguiar ou um Manuel Serrão, num daqueles pedagógicos programas de
tagarelice desportiva da SIC-N e da TVI24 exprobar a Federação e perguntar:
Então e quando o Luisão deu uma cotovelada a não sei quem? E quando o Xavi
Garcia deu uma joelhada a não sei quem? E quando o Garaygdeu uma pontapé na
cara de não sei quem? (Resta dizer que o não sei quem joga no Porto, naturalmente).
Daí a chegar ao Calabote de há cinquenta anos atrás seria um passo e às tantas
o que se exigiria era que a Federação pedisse desculpa ao FêQuêPê por o Insua
ter cuspido na cara de não sei quem (sendo que o não sei quem aqui é do Rio
Ave).
Toda uma diferença de comportamento, toda uma
diferença de saber estar na vida. A tragédia é que esta forma de estar não é
exclusiva do futebol. Basta ir à Assembleia da República, observar o que se
passa na justiça e sentir o que vai pela comunicação social em geral, para
perceber que por lá tudo se passa exactamente da mesma maneira
.
Etiquetas: coisas da bola
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