Será que fomos operados?
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A esquerda mimética agarra-se agora a Manuela Ferreira Leite. Depois de Medina Carreira, a «velha», termo carinhoso com que os socialistas a apodavam quando ela era rançosa e esclerótica, empolga agora as virtualidades desta esquerda frenética que aproveita qualquer Constança para ir a qualquer festança. E ela aí está agora, glosando a entrevista da «velha» até à exaustão.
País extraordinário, este. Não sei bem onde «isto» vai parar. O que sei é que a nossa democracia continua a ser sui generis. Até o seu pregoeiro mor acha que um governo legítimo tem de ir abaixo, senão é uma catástrofe. Provavelmente uma catástrofe quase tão grande como aquela que ele próprio, Soares, nos causou no primado da sua governação e depois nas sequelas socialistas, tipo guterristas e socráticas, que nos couberam em sorte.
Nós somos um bocadinho como a selecção nacional. De vem em quando mostramos arreganho, construímos umas jogadas boas, «fazemos bem», mas depois vêm uns pontas de lança trapalhões e irresponsáveis e estragam tudo. Bolas fora, à barra, perdidas, falhadas e, no fim, zangamo-nos todos uns com os outros e achamos que há uma data de gente que teve culpa das nossas asneiras. Em política é a mesma coisa. Vamos encaminhando a coisa mais ou menos, depois embirramos com algumas criaturas e colaboramos na festança socialista, preparada para lixar isto tudo outra vez. E no Sábado lá vamos nós todos para uma manifestação não sei das quantas, com a comunicação social histérica a dar conta da indignação de gente esclarecida que ultimamente tem vindo a ser entrevistada. Até Vasco Lourenço botou faladura. Um homem que, como se sabe, entende imenso de finanças, macroeconomia e democracia. E nas redes sociais multiplicam-se posts obnóxios e patetas e causas para aderência. Um deles, que me ocorre, diz: «Não precisamos da troika para nada». «Prontes». Como se a troika um dia tivesse acordado e, de livre iniciativa tivesse decidido: - Vamos ali à Tugaland chatear aqueles gajos.
Nós somos assim. Não sei se já nascemos assim ou se fomos operados. Mas que somos, somos. Numa altura em que a insatisfação é consensual, convinha deixarmos de ser assim e procurar vias legítimas e genuinamente construtivas para corrigirmos rumos e disparates e procurarmos os meios mais adequados para levarmos a bom termo estas medidas austeras e difíceis mas que só existem porque andámos eufóricos a votar sistematicamente num grupelho de irresponsáveis. É isso que queremos de novo?
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Etiquetas: Ai Portugal, momento político
2 Comments:
O pior não é a colagem que fazem à "velha", o pior é que a senhora foi para ali desfiar o rosário de amarguras pessoais e políticas, os cortes e as inibições que agora e antes a afectaram, sem pensar que há gente que nunca, em nenhuma circunstância contribui para isto e que viu o seu rendimento disponível cortado em 30% desde o ano de 2011.Gente que sobrevive num país que é o seu e onde se sente bem, mas no qual década após década - desde os idos de sessenta viu a família emigrar - com vagas nos anos 80 e novamente agora - e tem que ouvir e repetir nos órgãos de comunicação sempre alinhados para o mesmo lado, num elitismo bacoco e que já não se aguenta, desabafos, irritações e exaltações que mais a cheiram a vingança.E sejamos justos e honestos: "não pode estar de consciência lavada", quem também tomou decisões e pactuou, tendo até nalgumas situações acobertado e defendido gente pouco séria e alguns sem qualquer tipo escrúpulo em matéria financeira.Quem é tão parcial na sua forma de estar e trabalhar não pode vir falar em país destroçado, porque os destroços são fruto de muitos embates - ainda que os últimos tenham sido os que tudo fizeram ruir.
É curioso como os comentadores, políticos e politologos escrevem eou falam cheios de certezas e soluções, esquecendo-se que ou Já estiveram no Governo ou ainda lá vão parar e vão fazer exactamente o que todos fazem: VERIFICAR o verdadeiro estado da Nação e tentar cumprir o que prometeram.Se o vão conseguir ou não o tempo o dirá.
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