Prós e contras
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Ontem vi um homem dos seus sessenta anos num Bentley descapotável. Olhei e dei comigo a pensar nas vantagens e desvantagens de ter um descapotável. Coincidentemente, tenho alguns colegas que acham que os homens chegam inevitavelmente a uma fase em que são como a gasolina. Ou lhe juntam uma série de aditivos ou causam carvão nos pistões, válvulas, cames, bielas e lhe reduzem a performance ou sujeitam-se às consequências. Um deles, dos tais colegas, chegou a dizer-me que não há Lacoste, sapatos de vela sem meias nem Ferragamo, Kenzo, Gucci ou outras renomadas men’s fragrance que nos valha, uma vez dobradas as tormentas do Cabo dos 60 anos. Apenas um descapotável poderá amenizar o metafórico cenário de carvão nos pistões, válvulas, cames e bielas (ai que até me arrepiei) e mesmo os aditivos, por muito eficazes que sejam, não se vêem. E se um homem, dobrado que seja o tal cabo e antes que ele, homem, ficar dobrado também, tem mais é que ir a correr comprar um convertível e esparramar o seu automobilístico charme pelas ruas da cidade.
Não fiquei de todo convencido. Mas, pelo sim pelo não, armei-me em Fátima Campos Ferreira e rascunhei uma lista de prós e contras. Comecei pelos contras:
- Vou ali comprar tabaco e já venho… e não posso deixar nada no carro porque tenho uma altíssima probabilidade de ser roubado;
- A avaliar pelo pó que tenho no carro vinte quatro horas depois de ir às escovas, imagino o pó que não se entranha em tudo o que é orifício na consola, nos estofos e em todo o lado onde o pó chega. E eu odeio pó;
- Sou um homem de ar condicionado em regime de permanência. Salvo melhor opinião, num descapotável não dá muito jeito ligar o ar condicionado;
- Um bom sistema de som no carro perde, de certeza, eficácia, nas escâncaras de um carro sem tejadilho;
- Total ausência de privacidade. Desde pick the nose até ajeitar os «documentos», tudo num descapotável é livremente franquiado aos transeuntes;
- Impossibilidade de entrarmos numa altercação com outro automobilista, dada a ausência da chapa protectora da cabine;
- Perigo real de apanharmos num olho com um produto do desporto favorito dos lisboetas, qual seja o de mandar uma substancial e sonora escarreta à distância;
- Na eventualidade de um acidente, apesar daqueles arquinhos de Santo António mais ou menos rudimentares, não simpatizo com a ideia de me ver sob um carro capotado, sem capota, passe o paradoxo;
- A possibilidade real da putativa vantagem de nos passearmos num descapotável ser anulada por uma mulher inteligente (vai havendo, por aí…) que considere que um descapotável para um homem depois de passar o tal cabo dos sessenta é claramente um aditivo.
Há mais, mas isto fica muito extenso. Sobre vantagens, só me ocorre uma. O prazer de uma brisa de Verão batendo nos cabelos e acariciando-nos a face. No meu caso, o cabelo já não é muito, fica prejudicada assim a imagem romântica dos cabelos soltos ao vento como a gente vê no cinema. E quanto ao prazer da carícia do vento na face, pois talvez usando uma bicicleta. Faz vento na mesma, sai bem mais barato e tira a barriga.
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Etiquetas: coisas boas
1 Comments:
Ia comprar um descapotável, mas com essa da escarreta já não compro. Iaaaac
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