terça-feira, dezembro 21, 2010

Papos de Anjo. Porque me apetece.


Os genuinos. Com a inveitável calda de açúcar

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Fatias do Céu, Orelhas de Abade, Toucinho do Céu, Abade de Priscos, Jesuítas, Cardeais, Bolo dos Santos, Papos de Anjo… alguns nomes, entre muitos outros, que constituem a chamada doçaria conventual portuguesa que continua a salivar muitos portugueses e estrangeiros e que terá surgido pelo elevado número de conventos que existiam em Portugal (segundo li algures, só em Lisboa, na primeira metade do século passado, existiam mais de trinta). Com tanto convento e tantas freiras é natural que entre as orações, meditação e tarefas domésticas, sobrasse algum tempo para as religiosas se deitarem a alguns ingredientes, sobretudo ovos, e produzissem extraordinárias combinações de sabores. A denominação dessas iguarias haveria de vergar-se, naturalmente, a uma espécie de liturgia intrínseca que transbordava das orações para as malgas onde amassavam os ovos, o açúcar e as farinhas e o resultado deu no que se sabe. Chamar Orelhas de Abade a um doce é um opróbrio do bom gosto, se não fosse o gosto bom de uma orelha do dito. Mas entende-se o fenómeno como um exemplo da submissa entrega das servas do Senhor.

Mas eu queria mesmo era falar de Papos de Anjo. Tropecei aí numa foto da Ana Vidal e lembrei-me de no Verão passado eu ter percorrido meia cidade do Porto, a pé, procurando Papos de Anjo. O Porto era tido como a alma mater dos papos de anjo, daí eu ter pensado que bastaria entrar numa vulgar pastelaria e encomendar um par deles. Debalde. Não tinham, não sabiam quem tinha e corri mesmo sérios riscos de ser expulso de um café por ter perguntado se ali era o «piolho» e afinal não era piolho e o dono do café dizia que não era piolho mas eu pensava que era piolho não gostou que eu pensasse que o café dele se chamava piolho e aquilo ia dando uma piolheira desgraçada.

Acabei na conhecida Confeitaria Cunha, na Sá da Bandeira (que tal um alfacinha como eu, conhecer a Cunha na Sá da Bandeira?), onde me disseram: - Papos de Anjo? Sim, claro que temos. E trouxeram-nos um doce «talequalzinho» os ovos-moles de Aveiro. Como eu desde que uma vez discuti com um automobilista na rotunda da Boavista aprendi a que no Porto a gente não contraria ninguém, deglutimos o doce e disse que os Papos de Anjo estavam uma delícia. Mas que ainda hoje continuo de boca aguada para os verdadeiros, com calda de açúcar, continuo. A culpa é da Ana Vidal que mantém esta deliciosa mostra de razões para gostar de Portugal.

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7 Comments:

At 11:04 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Creio que a "alma mater" dos papos de anjo é Amarante e não o Porto.
Acontece que a primeira pertence à Diocese da segunda daí podendo resultar, possivelmente, alguma confusão.
Residente na área há cerca de 30 anos, confesso que nem desconfio do sítio onde se podem apreciar os melhores.
No que toca aos doces conventuais, a avaliar pelo que tenho lido e ouvido, resultaram da necessidade de aproveitamento das gemas porquanto as claras eram usadas para engomar os cabeções (?) dos hábitos.
Quanto à Cunha, que tem andado de trespasse em trespasse, não me sugere que tenha vindo a ganhar qualidade ao longo dos últimos 20 anos, pelo menos.
Falando do comportamento dos motoristas, devo dizer-lhe que o seu sentimento relativamente ao Porto é, em tudo, idêntico ao meu quando tenho que conduzir em Lisboa - sinto-me completamente "estrangeira" quanto à forma, modo de conduzir e linguagem.
Tenha um Bom Natal.
Lucília Vieira

 
At 12:09 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Lucília Vieira

Agradeço o esclarecimento e correcção sobre o posicionamento de Amarante e ainda sobre o pormenor da necessidade e aproveitamento das gemas dos ovos. Ocorre-me agora que sim, já tinha ouvido falar no uso das claras e da necessidade de aproveitamento das gemas.
Também me tenho apercebido da degradação da qualidade da Cunha ao longo dos últimos anos. E é pena, sobretudo em relação à chocolataria.
Já agora, creia-me um fervoroso admirador da cidade do Porto. Não me sinto estrangeiro nessa cidade, independentemente do trânsito que é realmente caótico (bem pior que o de Lisboa, convenhamos, Lisboa tem melhores serventias rodoviárias e a agressividade do motorista portuense é bem maior). Notei na Lucília um certo azedume, mas creia-me rigorosamente alheio aos bairrismos. De resto, a maioria dos habitantes de Lisboa nem sequer são lisboetas. São de Viseu, de Viana, de Castelo Branco, do Alentejo e até do Porto imagine :)))Mas isso não me condiciona ser muito crítico relativamente ao bairrismo exacerbado dos portuenses, mau grado os bons amigos que tenho aí nessa cidade. Falo de um modo geral, evidentemente.
Agradeço e retribuo com simpatia os seus desejos de Bom Natal.
NR

 
At 12:20 da manhã, Anonymous IL disse...

Ora aqui está como tiveste uma ideia, saborosa :=)

IL

 
At 5:35 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 5:35 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

IL

De vem quando dá-me para aqui. Gostas assim tanto de papos de anjo?
:))

 
At 1:19 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Vai ao "Bem Simples" que você encontra a receita da Palmirinha Onofre. Tem o passo a passo para que você mesmo faça. A receita é do Brasil, mas é original, fácil e deliciosa.

Link:
http://www.bemsimples.com/br/receitas/65977-papo-de-anjo

Enjoy!

 
At 1:21 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Sorry, correção:
"Vá ao Bem Simples"...

 

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