Mexer na pilinha
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Há uma atracção incontornável pela coisa sexual. Qualquer dissertação filosófica, científica, política, cultural e, até, económica, resvala sem remissão para o conforto freudiano do recurso à sexualidade. Por um lado, porque é necessário passar um certificado de modernidade a qualquer medida de alcance social e nada melhor para o fazer que não seja a demonstração de quão naturais e modernos nós somos a tratar destes assuntos. Por outro porque, mas isto digo eu, que de pilinhas só percebo da minha e nem sempre lhe entendo as manias, talvez porque em miúdos todos passámos pela fase «do mexer na pilinha», em que nos púnhamos em roda mexendo no membro («zinho», porque isto se passa nos dois, três aninhos) e, mais tarde, por brincar aos médicos, quando a pilinha se começa já a eriçar com uns impulsos que não entendemos bem mas que nos proporcionam um prazer estranho, sobretudo quando fazíamos de médicos e as nossas amigas, tudo miudagem de oito a dez anos, faziam de doente.
O tempo passa e quando julgamos que estas manifestações mais ou menos pueris de sexualidade se vão amalgamando num conceito mais ou menos filosófico e razoavelmente contido pelas exigências da sociedade, surgem exemplos destes que, aliados a muitos outros em que a sexualidade está invariavelmente presente, me faz pensar que o «mexer na pilinha», no fundo, não nos abandona nunca e qualquer situação a isso nos conduz. Só assim entendo que um «snif kit», um estojo destinado aos snifadores de cocaína idealizado pela Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida contenha um gel e um preservativo. Não snifo cocaína, mas não estou bem a ver a utilidade de gel e preservativo para uma cena de coca, a menos que snifar coca hoje em dia contenha nuances desconhecidas para mim, pode ser até que o snifar tenha hoje um conceito mais lato e exija assim o uso de um preservativo no nariz. Sabe-se lá o que as fumarolas de coca nos induzem a cheirar… já o gel, desisto. Não entendo mesmo, pelo que o mais lógico me parece ser mesmo a eventualidade de uma «snifadela» nos conduzir a episódios mais lascivos e que recomendem o uso do gel e do preservativo.
Custa-me a entender que numa fase crítica da vida nacional em que milhares de hipertensos não tenha dinheiro para pagar a parafernália de hipotensores, inibidores de coagulação de plaquetas sanguíneas, reguladores de colesterol, tenha de fazer uma ginástica tremenda para dispor dos seus medicamentos diários para não morrer de enfarte, enquanto se pode tranquila e gratuitamente obter um modernaço «snif kit» nos lavabos de um clube nocturno. E com direito a coito asseado e seguro em fim de festa, a menos que o tal preservativo e gel tenham, como disse atrás, outros desígnios que me passem ao lado.
É absolutamente intolerável este tipo de práticas e é cada vez mais insuportável esta forma de alguma gente que não sabe bem com que se entreter não resista e invista nestas andanças politicamente correctas. Foi o fiasco das seringas, agora o snif kit. Com preservativo e gel, não esqueçamos! Para que depois de uma correcta e moderna snifadela nos entretenhamos paulatinamente a mexer na pilinha. De forma segura e indolor, está bem de ver.
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Etiquetas: cretinismo militante, politicamente correcto
1 Comments:
Tem toda a razão quanto ao kit, mas não quanto às seringas. Portugal, com as medidas que tem tomado na luta contra a toxicodepedência, tornou-se o país com menor índice de toxicodependentes da Europa exemplo dado em todos os países onde o flagelo da droga grassa, ou seja em todo o mundo. Pode ler alguns artigos na Time.
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