quarta-feira, outubro 29, 2008

Só de anzol


[2143]

Aquele senhor da Quercus que tem a missão de debitar um conselho ecológico todos os dias (todos os dias, reparem que é obra) na televisão logo pela manhãzinha tem, na verdade, uma missão espinhosa. Os conselhos são dados, supostamente, sem rir e com aquele ar compenetrado de quem vai salvar o planeta e nos tornar melhores cidadãos. Convenhamos ser uma tarefa difícil. Por outro lado, também não é fácil, para nós, cidadãos modernos e conscientes, seguirmos à risca os conselhos do senhor… pois, passa-me agora o nome.

Hoje, por exemplo, para seguir o conselho matinal, quando me sentar para almoçar e me apetecer peixe (o que acontece frequentemente) deverei ter o cuidado de perguntar à simpática brasileirinha que me serve, e juro que não há ponta de xenofobia nem machismo nesta asserção, a mocinha é mesmo uma lufada de ar fresco no atendimento aos clientes de restauração, comparada com a prata da casa, se o peixe:

- foi capturado por anzol ou por arrasto, que esta coisa do arrasto é condenável, traz muito peixe na rede ainda com muita vida e ciclos de reprodução á frente;

- Se o peixe que quero não pertence a nenhuma espécie proibida ou condicionada como os Aphanopus carbo, Hoplosthetus atlanticuso, Phycis blennoides, Coryphaenoides rupestris e o Pagellus bogaraveo;

- ou se, no caso do Gadhus morua, Clupea harengus, Platichthys flesus, não esquecendo claro o Psetta máxima, foram capturados segundo as medidas regulatórias de captura no mar Báltico, obedecendo a medidas recentes do Conselho Europeu de Agricultura e Pescas;

- Devo cuidar ainda se o peixe tem gorduras saturadas, poli-insaturadas ou pura e simplesmente sem saturação nenhuma não vá eu sofrer do colesterol. A questão do mercúrio deverá ainda ser considerada mas por acaso agora não têm falado muito no assunto, pelo que vou deixar passar;

- Finalmente deverei mirar bem as proporções do bicho, não vá o mesmo ser ainda uma criança.

Observados estes preceitos passarei à acção. Muito provavelmente, esqueço-me do senhor da Quercus e mando vir “jaquinzinhos”. Só para chatear e dar de comer à saudável costelinha de rebeldia que mantenho bem tratada e que me dá ânimo para continuar a comer peixe. E a rir. Todos os dias, se possível.

Nota: a enumeração das espécies condicionadas pelo Conselho Europeu de Agricultura e Pescas foi surripiada, com a devida vénia, do Blasfémias.

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9 Comments:

At 10:16 da manhã, Blogger Carlota disse...

Conclusão: Olhe era umas favas, se faz favor!
;)

 
At 10:23 da manhã, Blogger LurdesMartins disse...

Parece-me que isso levaria a "lufada de ar fresco" a ficar impaciente. Já estou a imaginar:
"- Moço, você qué comé ou conversá?! É quê, sabi, eu não sei chineis, não..." :)

PS - é por essas e por outras que as vendas por aqui andam como andam.

Beijinhos

 
At 10:25 da manhã, Blogger LurdesMartins disse...

(Mas aqui que ninguém nos ouve:
a chamada pescada de anzol é bastante melhor que a de arrasto).

 
At 11:32 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

custa alguma coisa preservar a natureza já que não devemos receber outra?

 
At 12:48 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

São os novos mangas de alpaca. Os mangas de alpaca das ideias. Alguma coisa terão de fazer :D

 
At 8:00 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

carlota

Só te faltou dizer favas com xóriço, para me fazeres lembrar o Zé Cid...
:)

 
At 8:03 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Lurdes

Parabéns pelo excelente sotaque. Cá para mim isso deve-se ao pulinho a Porto Santo, de onde as pessoas vêm todas mais bonitas, certo?
:))

P.S. Claro que o peixe de anzol é melhor que o de arrasto. Mas será que a Quercus acha que seria possível pôr o pessoal todo em Portugal a comer peixe de anzol? É a costumada demagogia.

 
At 8:04 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

IL

Tou contigo. Salvo seja, não desfazendo
:)

 
At 8:06 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

anónimo

Não custa nada. Este fim de semana cou já para o Cabo Raso ver se apanho um robalo...

 

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