Só de anzol
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Aquele senhor da Quercus que tem a missão de debitar um conselho ecológico todos os dias (todos os dias, reparem que é obra) na televisão logo pela manhãzinha tem, na verdade, uma missão espinhosa. Os conselhos são dados, supostamente, sem rir e com aquele ar compenetrado de quem vai salvar o planeta e nos tornar melhores cidadãos. Convenhamos ser uma tarefa difícil. Por outro lado, também não é fácil, para nós, cidadãos modernos e conscientes, seguirmos à risca os conselhos do senhor… pois, passa-me agora o nome.
Hoje, por exemplo, para seguir o conselho matinal, quando me sentar para almoçar e me apetecer peixe (o que acontece frequentemente) deverei ter o cuidado de perguntar à simpática brasileirinha que me serve, e juro que não há ponta de xenofobia nem machismo nesta asserção, a mocinha é mesmo uma lufada de ar fresco no atendimento aos clientes de restauração, comparada com a prata da casa, se o peixe:
- foi capturado por anzol ou por arrasto, que esta coisa do arrasto é condenável, traz muito peixe na rede ainda com muita vida e ciclos de reprodução á frente;
- Se o peixe que quero não pertence a nenhuma espécie proibida ou condicionada como os Aphanopus carbo, Hoplosthetus atlanticuso, Phycis blennoides, Coryphaenoides rupestris e o Pagellus bogaraveo;
- ou se, no caso do Gadhus morua, Clupea harengus, Platichthys flesus, não esquecendo claro o Psetta máxima, foram capturados segundo as medidas regulatórias de captura no mar Báltico, obedecendo a medidas recentes do Conselho Europeu de Agricultura e Pescas;
- Devo cuidar ainda se o peixe tem gorduras saturadas, poli-insaturadas ou pura e simplesmente sem saturação nenhuma não vá eu sofrer do colesterol. A questão do mercúrio deverá ainda ser considerada mas por acaso agora não têm falado muito no assunto, pelo que vou deixar passar;
- Finalmente deverei mirar bem as proporções do bicho, não vá o mesmo ser ainda uma criança.
Observados estes preceitos passarei à acção. Muito provavelmente, esqueço-me do senhor da Quercus e mando vir “jaquinzinhos”. Só para chatear e dar de comer à saudável costelinha de rebeldia que mantenho bem tratada e que me dá ânimo para continuar a comer peixe. E a rir. Todos os dias, se possível.
Nota: a enumeração das espécies condicionadas pelo Conselho Europeu de Agricultura e Pescas foi surripiada, com a devida vénia, do Blasfémias.
Aquele senhor da Quercus que tem a missão de debitar um conselho ecológico todos os dias (todos os dias, reparem que é obra) na televisão logo pela manhãzinha tem, na verdade, uma missão espinhosa. Os conselhos são dados, supostamente, sem rir e com aquele ar compenetrado de quem vai salvar o planeta e nos tornar melhores cidadãos. Convenhamos ser uma tarefa difícil. Por outro lado, também não é fácil, para nós, cidadãos modernos e conscientes, seguirmos à risca os conselhos do senhor… pois, passa-me agora o nome.
Hoje, por exemplo, para seguir o conselho matinal, quando me sentar para almoçar e me apetecer peixe (o que acontece frequentemente) deverei ter o cuidado de perguntar à simpática brasileirinha que me serve, e juro que não há ponta de xenofobia nem machismo nesta asserção, a mocinha é mesmo uma lufada de ar fresco no atendimento aos clientes de restauração, comparada com a prata da casa, se o peixe:
- foi capturado por anzol ou por arrasto, que esta coisa do arrasto é condenável, traz muito peixe na rede ainda com muita vida e ciclos de reprodução á frente;
- Se o peixe que quero não pertence a nenhuma espécie proibida ou condicionada como os Aphanopus carbo, Hoplosthetus atlanticuso, Phycis blennoides, Coryphaenoides rupestris e o Pagellus bogaraveo;
- ou se, no caso do Gadhus morua, Clupea harengus, Platichthys flesus, não esquecendo claro o Psetta máxima, foram capturados segundo as medidas regulatórias de captura no mar Báltico, obedecendo a medidas recentes do Conselho Europeu de Agricultura e Pescas;
- Devo cuidar ainda se o peixe tem gorduras saturadas, poli-insaturadas ou pura e simplesmente sem saturação nenhuma não vá eu sofrer do colesterol. A questão do mercúrio deverá ainda ser considerada mas por acaso agora não têm falado muito no assunto, pelo que vou deixar passar;
- Finalmente deverei mirar bem as proporções do bicho, não vá o mesmo ser ainda uma criança.
Observados estes preceitos passarei à acção. Muito provavelmente, esqueço-me do senhor da Quercus e mando vir “jaquinzinhos”. Só para chatear e dar de comer à saudável costelinha de rebeldia que mantenho bem tratada e que me dá ânimo para continuar a comer peixe. E a rir. Todos os dias, se possível.
Nota: a enumeração das espécies condicionadas pelo Conselho Europeu de Agricultura e Pescas foi surripiada, com a devida vénia, do Blasfémias.
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Etiquetas: peixinho para o almoço, Quercus
9 Comments:
Conclusão: Olhe era umas favas, se faz favor!
;)
Parece-me que isso levaria a "lufada de ar fresco" a ficar impaciente. Já estou a imaginar:
"- Moço, você qué comé ou conversá?! É quê, sabi, eu não sei chineis, não..." :)
PS - é por essas e por outras que as vendas por aqui andam como andam.
Beijinhos
(Mas aqui que ninguém nos ouve:
a chamada pescada de anzol é bastante melhor que a de arrasto).
custa alguma coisa preservar a natureza já que não devemos receber outra?
São os novos mangas de alpaca. Os mangas de alpaca das ideias. Alguma coisa terão de fazer :D
carlota
Só te faltou dizer favas com xóriço, para me fazeres lembrar o Zé Cid...
:)
Lurdes
Parabéns pelo excelente sotaque. Cá para mim isso deve-se ao pulinho a Porto Santo, de onde as pessoas vêm todas mais bonitas, certo?
:))
P.S. Claro que o peixe de anzol é melhor que o de arrasto. Mas será que a Quercus acha que seria possível pôr o pessoal todo em Portugal a comer peixe de anzol? É a costumada demagogia.
IL
Tou contigo. Salvo seja, não desfazendo
:)
anónimo
Não custa nada. Este fim de semana cou já para o Cabo Raso ver se apanho um robalo...
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