Tenhamos calma que um dia seremos salvos
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Há um fenómeno estranho, talvez mais fácil de explicar do que parece mas, mesmo assim, muito difícil de abordar. É o estilo e a forma como a maioria, se não a totalidade, dos programas de natureza informativa da RTP são caldeados por uma atmosfera de contestação social, desde os acontecimentos mais comezinhos de uma qualquer aldeia do interior até ao dia a dia das grandes urbes. Todas as notícias são enformadas num enquadramento de, repito, contestação, oposição e indignação. Aliás, tudo vocábulos de uma cultura recente em que o PS se sente mais à vontade do que a governar e a fazer coisas. E é assim, que um incêndio num celeiro de uma aldeia no Norte, um acidente de viação à fusão de dois bancos são notícias que a RTP nos dá como se elas fossem o resultado da sociedade injusta em que vivemos. Uma sociedade dominada por uma clique de cleptómanos, venais, compadres, caciques e inescrupulosos representantes de uma sociedade em mudança.
Isto poderá, em certa medida, ser até verdade. Há é uma ironia desarmante no facto de, como todos sabemos desde que não andemos demasiadamente distraídos, os partidos que passam pelo poder serem os principais geradores deste fenómeno, através de conhecidos e rocambolescos episódios que, quando muito, acabam por ser exprobrados mas nunca julgados, resolvidos ou punidos. Mas o que é ridículo é o estado de coisas funcionar num mecanismo estranho em que conscientemente se educa o povo a contestar as políticas pelas quais os próprios contestados são responsáveis. Tal e qual aquele episódio em que um ministro saiu uma vez do seu gabinete e veio para a rua juntar-se a uma manifestação contra ele próprio. Um episódio entre outro (populista) que metia uma refeição de mioleira em Bruxelas e ainda um outro (suspeito) em que ele era indiciado por graves atropelos á lei num "assunto" qualquer de terrenos agrícolas que já nem me ocorre bem.
Assim se padece pela forca do PS! É a dinâmica da oposição, do botabaixismo da baixa política (José Lello aplica muito este termo…) que é o que o partido do governo sabe fazer bem. Tem o inconveniente de não contribuir em nada para a nossa felicidade e de ser um insulto à inteligência de muitos de nós, mas temos de convir que a culpa não é deles mas sim de quem os elege. Quanto a isso, não há realmente nada a fazer nem a dizer…
P.S. Ilustra bem o que digo o programa informativo da RTP Bom dia Portugal. Enquanto estações normais dão as principais notícias do dia, incluindo a meteorologia, o trânsito e até uma ponta ou outra de humor, na estação estatal procede-se de imediato, todos os dias e bem cedinho, ao rol de desgraças em que os capitalistas nos atolam todos os dias desde que acordam e às iniciativas atentas e correctoras do nosso governo. Assim como quem não quer a coisa. Hoje, por exemplo, fiquei descansadíssimo em saber que o PC está muito preocupado com a fusão do BPI e do BCP e que o Governo acha que se tem de deixar funcionar o mercado mas que está atento...
Há um fenómeno estranho, talvez mais fácil de explicar do que parece mas, mesmo assim, muito difícil de abordar. É o estilo e a forma como a maioria, se não a totalidade, dos programas de natureza informativa da RTP são caldeados por uma atmosfera de contestação social, desde os acontecimentos mais comezinhos de uma qualquer aldeia do interior até ao dia a dia das grandes urbes. Todas as notícias são enformadas num enquadramento de, repito, contestação, oposição e indignação. Aliás, tudo vocábulos de uma cultura recente em que o PS se sente mais à vontade do que a governar e a fazer coisas. E é assim, que um incêndio num celeiro de uma aldeia no Norte, um acidente de viação à fusão de dois bancos são notícias que a RTP nos dá como se elas fossem o resultado da sociedade injusta em que vivemos. Uma sociedade dominada por uma clique de cleptómanos, venais, compadres, caciques e inescrupulosos representantes de uma sociedade em mudança.
Isto poderá, em certa medida, ser até verdade. Há é uma ironia desarmante no facto de, como todos sabemos desde que não andemos demasiadamente distraídos, os partidos que passam pelo poder serem os principais geradores deste fenómeno, através de conhecidos e rocambolescos episódios que, quando muito, acabam por ser exprobrados mas nunca julgados, resolvidos ou punidos. Mas o que é ridículo é o estado de coisas funcionar num mecanismo estranho em que conscientemente se educa o povo a contestar as políticas pelas quais os próprios contestados são responsáveis. Tal e qual aquele episódio em que um ministro saiu uma vez do seu gabinete e veio para a rua juntar-se a uma manifestação contra ele próprio. Um episódio entre outro (populista) que metia uma refeição de mioleira em Bruxelas e ainda um outro (suspeito) em que ele era indiciado por graves atropelos á lei num "assunto" qualquer de terrenos agrícolas que já nem me ocorre bem.
Assim se padece pela forca do PS! É a dinâmica da oposição, do botabaixismo da baixa política (José Lello aplica muito este termo…) que é o que o partido do governo sabe fazer bem. Tem o inconveniente de não contribuir em nada para a nossa felicidade e de ser um insulto à inteligência de muitos de nós, mas temos de convir que a culpa não é deles mas sim de quem os elege. Quanto a isso, não há realmente nada a fazer nem a dizer…
P.S. Ilustra bem o que digo o programa informativo da RTP Bom dia Portugal. Enquanto estações normais dão as principais notícias do dia, incluindo a meteorologia, o trânsito e até uma ponta ou outra de humor, na estação estatal procede-se de imediato, todos os dias e bem cedinho, ao rol de desgraças em que os capitalistas nos atolam todos os dias desde que acordam e às iniciativas atentas e correctoras do nosso governo. Assim como quem não quer a coisa. Hoje, por exemplo, fiquei descansadíssimo em saber que o PC está muito preocupado com a fusão do BPI e do BCP e que o Governo acha que se tem de deixar funcionar o mercado mas que está atento...
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8 Comments:
Tu és muito moderno, muito à frente! Botabaixismo? Olha que palavra tão interessante. E juro xicuembo xanhaco que não reparei no cipaio com cê; escrevi com "esse" porque sempre escrevi assim e a errada até podia ser eu, como costuma acontecer!
Beijinhos, bom fim de semana
-RTP1 é algo que só aturo nos hoteis, nomeadamente aqueles que não têm cabo nos quartos, ou então para ver futebol. Para ficar informado, temos a TSF, RCP, e mesmo a Antena 1. Em televisão apenas a SIC Notícias e o jornal das 10 na RTP2. O resto é paisagem.
Espumante
Muita coisa acontece enquanto se vai armando o espectáculo botabaixista. Tenta prestar mais atenção às entrelinhas (ou aos silêncios), há lá pin-points mais dignos do teu interesse.
Quanto à fusão dos bancos, vivam os direitos dos consumidores permitidos pela livre concorrência e demais tretas do mercado.
azulinha
Acho que tens razão e que é sipaio com "s", mas acordei agora e dá-me uma trabalheira ir ver ao dicionário :)))
Beijinho e boa semana de trabalho
antónio de almeida
E acho que tem toda a razão...
:)
antónio ferrão
A tua corrente militância relativamente ás malfeitorias do mercado (em que eu continuo a acreditar) não tem nada a ver com o sentido deste post que assenta mais em pressupostos do ponto de vista de conteúdos e formas de propaganda em que o Partido Socialista é exímio.
Mas com tanta transcrição que fazes (coordenada e activamente) de artigos de proveniência "resistente". ainda um dia me hás-de dizer que sistema é que preconizarias para podermos contornar as "entrelinhas" do mercado.
Um abraço
Espumante
Quanto a transcrições activa e resistentemente coordenadas, check this out.
antónio ferrão
Eu checkei, juro que sim, mas não vejo como é que um post tresmalhado, independentemente da minha total identificação com o seu conteúdo, possa servir de termo de comparação com a permanente transcrição de artigos "resistentes" a que te dedicas. Não creio, assim, que a comparação seja feliz ou adequada...
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