A arte do lucro
Post dedicado
[2019]
Com a devida vénia ao JCD, a transcrição deste post:
De tempos a tempos, sobe ao top de vendas um qualquer livro de um guru da esquerda mediática. E, quase sempre, não resisto a contribuir para o aumento do bem estar do autor e compro-lhe o best-seller. Um dos que habita as minhas estantes é Chomski. Outro é Ignatio Ramonet. Deste último, aprecio particularmente as permanentes previsões de queda iminente do capitalismo - vai para 20 anos que para o ano é que é. Dentro desta biblioteca de esquerda, estão dois livros que venderam milhões e que contribuíram para um vergonhoso aumento de riqueza das autoras, que me deixam muito bem disposto, porque servem para definir patamares. Há quem ache que são o máximo.
O primeiro destes livros chama-se “O Horror Económico” e é da autoria de Vivianne Forrester. É um livro que foi todo escrito com base numa premissa. A piada é que essa premissa é falsa. A autora acreditava que as pessoas vivem cada vez pior e que estamos mais pobres hoje do que estávamos há 100 ou 200 anos. O “Horror Económico” foi escrito na década de 90, nos anos em que o mundo mais enriquecia e que milhões de pessoas se livraram da miséria absoluta. O livro é uma denúncia desse mundo em empobrecimento.Há uma certa coerência no erro da Vivianne. A autora quer que as políticas que conseguiram tirar milhões da pobreza sejam abandonadas em favor de outras que, sempre que foram aplicadas, espalharam a miséria. É compreensível. Se o diagnóstico está errado, a receita nunca pode ser certa. A Vivianne também sofre de um problema matemático. Se somos 10 e entre todos temos 20, devemos distribuir 5 por cada um. Contas de somar e multiplicar são coisas complicadas e a matemática é uma arma dos capitalistas cuja utilização deve ser evitada a todo o custo. A autora pensa que os mercados são uma conspiração de alguns milionários para sugar os pobres e os excluídos. Não faz a menor ideia do que são e para que servem os instrumentos financeiros e acredita que os as coberturas de riscos são "economia de casino". Para ela, a economia é um jogo de soma nula ou de soma negativa. O pior é que, apesar de ter escrito um livro inteiro a explicar o empobrecimento dos que enriqueceram e a exigir o fim do capitalismo, não apresenta nenhuma alternativa. Não faz a menor ideia. Apenas quer que não seja como é mas não tem nada para substituir. Vendeu centenas de milhares de livros e obteve com a obra um vergonhoso lucro capitalista.
Outro grande livro de referência do género deste último é o No Logo, da canadiana Naomi Klein. Recebeu o subtítulo "A Tirania das Marcas num Planeta Vendido". Este dedica-se às Grandes Corporações. Naomi acha que as marcas são um horror. O mundo dos negócios é uma máfia e as administrações das empresas são um bando de delinquentes que usam uma terrível ferramenta, o marketing, para corromper as nossas criancinhas, os trabalhadores e os palermas dos consumidores. Claro que não se esquece da críticar aos investimentos das multinacionais no extremo-oriente, ignorando as centenas de milhões de chineses, indianos, malaios, filipinos, coreanos e taiwaneses que se livraram da miséria absoluta nos últimos 20 anos devido a esses investimentos. O livro de Naomi Klein foi publicado por uma multinacional, a autora tornou-se um símbolo da luta anti-globalização e enriqueceu.A Naomi tem um novo livro e demonstra ter compreendido como ninguém as técnicas de enriquecimento pessoal. O livro chama-se The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism. O conteúdo do livro não deve ser muito diferente do último, a julgar pelas críticas, mas a estratégia do lançamento deste novo Naomi é um exemplo da arte de bem fazer promoção e marketing para exponenciar os lucros. Com a ajuda de dezenas de jornais e televisões, a promoção é quase gratuita. Vejam o exemplo do Guardian. Aprendam com a Naomi como ganhar milhões e ser uma boa capitalista.
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[2019]
Com a devida vénia ao JCD, a transcrição deste post:
De tempos a tempos, sobe ao top de vendas um qualquer livro de um guru da esquerda mediática. E, quase sempre, não resisto a contribuir para o aumento do bem estar do autor e compro-lhe o best-seller. Um dos que habita as minhas estantes é Chomski. Outro é Ignatio Ramonet. Deste último, aprecio particularmente as permanentes previsões de queda iminente do capitalismo - vai para 20 anos que para o ano é que é. Dentro desta biblioteca de esquerda, estão dois livros que venderam milhões e que contribuíram para um vergonhoso aumento de riqueza das autoras, que me deixam muito bem disposto, porque servem para definir patamares. Há quem ache que são o máximo.
O primeiro destes livros chama-se “O Horror Económico” e é da autoria de Vivianne Forrester. É um livro que foi todo escrito com base numa premissa. A piada é que essa premissa é falsa. A autora acreditava que as pessoas vivem cada vez pior e que estamos mais pobres hoje do que estávamos há 100 ou 200 anos. O “Horror Económico” foi escrito na década de 90, nos anos em que o mundo mais enriquecia e que milhões de pessoas se livraram da miséria absoluta. O livro é uma denúncia desse mundo em empobrecimento.Há uma certa coerência no erro da Vivianne. A autora quer que as políticas que conseguiram tirar milhões da pobreza sejam abandonadas em favor de outras que, sempre que foram aplicadas, espalharam a miséria. É compreensível. Se o diagnóstico está errado, a receita nunca pode ser certa. A Vivianne também sofre de um problema matemático. Se somos 10 e entre todos temos 20, devemos distribuir 5 por cada um. Contas de somar e multiplicar são coisas complicadas e a matemática é uma arma dos capitalistas cuja utilização deve ser evitada a todo o custo. A autora pensa que os mercados são uma conspiração de alguns milionários para sugar os pobres e os excluídos. Não faz a menor ideia do que são e para que servem os instrumentos financeiros e acredita que os as coberturas de riscos são "economia de casino". Para ela, a economia é um jogo de soma nula ou de soma negativa. O pior é que, apesar de ter escrito um livro inteiro a explicar o empobrecimento dos que enriqueceram e a exigir o fim do capitalismo, não apresenta nenhuma alternativa. Não faz a menor ideia. Apenas quer que não seja como é mas não tem nada para substituir. Vendeu centenas de milhares de livros e obteve com a obra um vergonhoso lucro capitalista.
Outro grande livro de referência do género deste último é o No Logo, da canadiana Naomi Klein. Recebeu o subtítulo "A Tirania das Marcas num Planeta Vendido". Este dedica-se às Grandes Corporações. Naomi acha que as marcas são um horror. O mundo dos negócios é uma máfia e as administrações das empresas são um bando de delinquentes que usam uma terrível ferramenta, o marketing, para corromper as nossas criancinhas, os trabalhadores e os palermas dos consumidores. Claro que não se esquece da críticar aos investimentos das multinacionais no extremo-oriente, ignorando as centenas de milhões de chineses, indianos, malaios, filipinos, coreanos e taiwaneses que se livraram da miséria absoluta nos últimos 20 anos devido a esses investimentos. O livro de Naomi Klein foi publicado por uma multinacional, a autora tornou-se um símbolo da luta anti-globalização e enriqueceu.A Naomi tem um novo livro e demonstra ter compreendido como ninguém as técnicas de enriquecimento pessoal. O livro chama-se The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism. O conteúdo do livro não deve ser muito diferente do último, a julgar pelas críticas, mas a estratégia do lançamento deste novo Naomi é um exemplo da arte de bem fazer promoção e marketing para exponenciar os lucros. Com a ajuda de dezenas de jornais e televisões, a promoção é quase gratuita. Vejam o exemplo do Guardian. Aprendam com a Naomi como ganhar milhões e ser uma boa capitalista.
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Etiquetas: política
1 Comments:
Obrigado pela dedicatória, mas não conheço as obras criticadas (defeito meu). Se os resumos estão bem feitos, mais me parece que se trata de histórias para adormecer criancinhas. Se, no entanto, te interessas pelo tema, tens mais por onde te distrair: tenta perceber por que razão os bancos começam a ter problemas de liquidez. São apenas sinais dos tempos modernos, mas convém estar com atenção.
Um abraço
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