Banja
[2110]
Ainda relativamente ao post anterior, estabeleço uma associação de ideias, e vá lá perceber-se porquê, com uma cena que me ficou gravada na memória, tinha eu uns dez anitos.
África, tempo colonial, cenário reunião (banja) de chefe de posto, administrador e representante duma concessionária de algodão, cipaios e "língua" ("língua" era a designação de "intérprete" no norte de Moçambique, Niassa, Nampula e Cabo Delgado). A reunião tinha a ver com uma alocução moralista e pedagógica, em português, a um grupo de cerca de duzentos agricultores do sector familiar, em que o chefe de posto lhes explicava as vantagens de produzirem algodão, já que com o produto das colheitas poderiam comer, comprar roupas para os filhos, sabão e, até, uma bicicleta. E o chefe de posto ia falando neste registo e assim o fez durante cerca de trinta minutos ou mais. Numa forma cordata, pedagógica, melíflua, amigável, tudo muito bem explicadinho, algodão aqui, bicicleta, comida e roupa para a família ali, ele falou e falou e falou, cônscio da grande interacção que estava a gerar com a população da aldeia e do seu papel decisivo no aumento da produção de algodão que se iria sentir na temporada.
Depois de mais de meia hora de conversa pedagógica, virou-se para o "língua" e disse-lhe para traduzir devidamente para macua o que acabara de proferir. Ao que o "língua" correspondeu com uma conversa em tom de aviso, com uma expressão severa e em não mais de 15 segundos. O chefe de posto, espantado pelo facto de o "língua" ter condensado uma pedagógica sessão de quarenta minutos num par de frases em quinze segundos, perguntou-lhe:
- Afinal… você explicou tudo bem o que eu falou? Falou tudo o que eu expliquei? O que é que você disse a eles?
- Sô chefe eu falei pra eles que tem que fazer argodão, tem que semear, capinar muíííto bem e apanhar as colheita, senão sô chefe vai dar-le porrada!
Salvaguardadas as devidas diferenças e proporções, por vezes tenho a impressão que os ministros que temos, de duas uma: ou começam a pôr "línguas" para nos explicarem o que estão a dizer ou acham que, se nos portarmos mal, não precisamos de "línguas" para nada e ainda acabamos todos a levar uma carga de porrada. Tipicamente socialista!
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Ainda relativamente ao post anterior, estabeleço uma associação de ideias, e vá lá perceber-se porquê, com uma cena que me ficou gravada na memória, tinha eu uns dez anitos.
África, tempo colonial, cenário reunião (banja) de chefe de posto, administrador e representante duma concessionária de algodão, cipaios e "língua" ("língua" era a designação de "intérprete" no norte de Moçambique, Niassa, Nampula e Cabo Delgado). A reunião tinha a ver com uma alocução moralista e pedagógica, em português, a um grupo de cerca de duzentos agricultores do sector familiar, em que o chefe de posto lhes explicava as vantagens de produzirem algodão, já que com o produto das colheitas poderiam comer, comprar roupas para os filhos, sabão e, até, uma bicicleta. E o chefe de posto ia falando neste registo e assim o fez durante cerca de trinta minutos ou mais. Numa forma cordata, pedagógica, melíflua, amigável, tudo muito bem explicadinho, algodão aqui, bicicleta, comida e roupa para a família ali, ele falou e falou e falou, cônscio da grande interacção que estava a gerar com a população da aldeia e do seu papel decisivo no aumento da produção de algodão que se iria sentir na temporada.
Depois de mais de meia hora de conversa pedagógica, virou-se para o "língua" e disse-lhe para traduzir devidamente para macua o que acabara de proferir. Ao que o "língua" correspondeu com uma conversa em tom de aviso, com uma expressão severa e em não mais de 15 segundos. O chefe de posto, espantado pelo facto de o "língua" ter condensado uma pedagógica sessão de quarenta minutos num par de frases em quinze segundos, perguntou-lhe:
- Afinal… você explicou tudo bem o que eu falou? Falou tudo o que eu expliquei? O que é que você disse a eles?
- Sô chefe eu falei pra eles que tem que fazer argodão, tem que semear, capinar muíííto bem e apanhar as colheita, senão sô chefe vai dar-le porrada!
Salvaguardadas as devidas diferenças e proporções, por vezes tenho a impressão que os ministros que temos, de duas uma: ou começam a pôr "línguas" para nos explicarem o que estão a dizer ou acham que, se nos portarmos mal, não precisamos de "línguas" para nada e ainda acabamos todos a levar uma carga de porrada. Tipicamente socialista!
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6 Comments:
e como eu não quero levar uma carga de porrada....
Hoje também me deu para lembrar histórias de qundo tinha dez anos, mas as banjas eram outras...
Não era mal pensado, uns sipaios para pôr os senhores políticos na ordem, não senhor!
Beijinhos
ui o que aqui vai!
o que é que o PS fez desta vez?
;D
passada
...levas ante a "carga de porrada" aí, é?
:)
beijos
azulinha
O que tu querias era uma desculpa elegante para me corrigir cipaio para sipaio.
Eu tive dúvidas, até porque aparecem as duas expressões no Wikipédia, mas acho que tens razão. Sipaio it is. Vou já mudar :))
sinapse
Nada de particular, tirando o que faz todos os dias. Se vivesses cá perceberias melhor. Sobretudo no que se refere a seres tratada em regime de menoridade mental...
Beijinhos zangados
:)
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