A crista
[2092]
Deus deu-nos uma "crista". Não fôssemos sair uns pintos desprotegidos na capoeira europeia dos ventos, frios, chuvas e geadas com que a Europa é fustigada em regime quase permanente. E nisso, o Criador não transige. Não se dá ao luxo de que algures, num canto da Europa, um povo que nasceu intrépido, arrostando com as tempestades do Bojador e da Boa Esperança se tenha tornado num case study de hipersensibilidade às “correntes de ar”. Daí que, magnânimo mas, também, cauteloso, Deus nos tenha rodeado de uma “crista”. A chamada crista de altas pressões que é assim uma espécie de buffer zone das nuvens malvadas, traiçoeiras e carregadas de malfeitorias meteorológicas que vão avançando pela Europa. Basta olhar para uma carta meteorológica para percebermos que enquanto os desgraçadinhos para lá de Tuy, Badajoz e Huelva tiveram de se habituar a conviver com a borrasca, nós vamos por Outubros e Novembros dentro, protegidos pela tal “crista”.
Deus, na Sua omnisciência e pia consciência, protege-nos e mantém-nos neste forninho dos 26 e 27 graus que põe a diáspora a chorar rios de desespero e saudade, sobretudo aqueles que têm de suportar estoicamente as agruras das várias capitais europeias, que eu nem sei como é que resistem, e nos mantém a nós, indígenas, de colarinho desapertado todo o dia. Quando muito, baixa-nos a temperatura, por uma questão de divina decência em relação ao resto do mundo, ali para os 16 ou 18 graus, lá pela noitinha. Nada que um casaquinho de malha e umas meias de lã não resolvam. No resto, é uma questão de cuidado para não sermos acometidos por ideias estúpidas, como ligarmos os aparelhos de ar condicionado e, convenientemente não nos pormos para aí feitos maluquinhos a abrir janelas. Para não sermos surpreendidos pela “correspondência”*. E, já agora, pelos ácaros. Os ácaros assassinos que pululam aí por milhares de aparelhos de ar condicionado que os restaurantes compram porque vão muito bem com a montra dos peixes, mas que não ligam pelas razões já citadas.
* Termo alfacinha que aprendi com o meu avô quando, protegido por um conveniente casaquinho de lã, me sentava sobre os joelhos roídos pelo reumático e me explicava os perigos da correspondência que é o efeito de uma massa de ar que se desloca dentro de uma sala quando se abrem duas janelas de paredes opostas. Claro que o ar científico desta nota é da minha lavra. O meu avô limitava-se a dizer que não se devia abrir uma janela, quanto mais duas, e fim de papo. Que, no meu tempo, as formigas precisavam de algum tempo para ter catarro. O “resto” deduzi eu, portento de criança, que já sabia ler aos 5 anos e tinha uma notória e precoce capacidade para perceber a alma lusitana.
Deus deu-nos uma "crista". Não fôssemos sair uns pintos desprotegidos na capoeira europeia dos ventos, frios, chuvas e geadas com que a Europa é fustigada em regime quase permanente. E nisso, o Criador não transige. Não se dá ao luxo de que algures, num canto da Europa, um povo que nasceu intrépido, arrostando com as tempestades do Bojador e da Boa Esperança se tenha tornado num case study de hipersensibilidade às “correntes de ar”. Daí que, magnânimo mas, também, cauteloso, Deus nos tenha rodeado de uma “crista”. A chamada crista de altas pressões que é assim uma espécie de buffer zone das nuvens malvadas, traiçoeiras e carregadas de malfeitorias meteorológicas que vão avançando pela Europa. Basta olhar para uma carta meteorológica para percebermos que enquanto os desgraçadinhos para lá de Tuy, Badajoz e Huelva tiveram de se habituar a conviver com a borrasca, nós vamos por Outubros e Novembros dentro, protegidos pela tal “crista”.
Deus, na Sua omnisciência e pia consciência, protege-nos e mantém-nos neste forninho dos 26 e 27 graus que põe a diáspora a chorar rios de desespero e saudade, sobretudo aqueles que têm de suportar estoicamente as agruras das várias capitais europeias, que eu nem sei como é que resistem, e nos mantém a nós, indígenas, de colarinho desapertado todo o dia. Quando muito, baixa-nos a temperatura, por uma questão de divina decência em relação ao resto do mundo, ali para os 16 ou 18 graus, lá pela noitinha. Nada que um casaquinho de malha e umas meias de lã não resolvam. No resto, é uma questão de cuidado para não sermos acometidos por ideias estúpidas, como ligarmos os aparelhos de ar condicionado e, convenientemente não nos pormos para aí feitos maluquinhos a abrir janelas. Para não sermos surpreendidos pela “correspondência”*. E, já agora, pelos ácaros. Os ácaros assassinos que pululam aí por milhares de aparelhos de ar condicionado que os restaurantes compram porque vão muito bem com a montra dos peixes, mas que não ligam pelas razões já citadas.
* Termo alfacinha que aprendi com o meu avô quando, protegido por um conveniente casaquinho de lã, me sentava sobre os joelhos roídos pelo reumático e me explicava os perigos da correspondência que é o efeito de uma massa de ar que se desloca dentro de uma sala quando se abrem duas janelas de paredes opostas. Claro que o ar científico desta nota é da minha lavra. O meu avô limitava-se a dizer que não se devia abrir uma janela, quanto mais duas, e fim de papo. Que, no meu tempo, as formigas precisavam de algum tempo para ter catarro. O “resto” deduzi eu, portento de criança, que já sabia ler aos 5 anos e tinha uma notória e precoce capacidade para perceber a alma lusitana.
P.S. Este post é o resultado de eu acabar de ouvir e ver uma apresentadora de televisão, com ar de menino a quem deram uma "play station", de que para hoje vamos continuar com temperaturas acima dos 25º e (aqui a cara dela rasgou-se num sorriso orgás... isso,) as temperatutas amenas (!!!) vão continuar para os próximos dias.
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Etiquetas: climas amenos, me worry?
5 Comments:
de portentos de criança anda o pais cheio. Bah
anónimo
Um comentário "pepe-rápido" como este merece uma resposta "pepe-rápida".Assim:
1 - Não sei se o prezado anónimo/a se refere a país ou aos pais de alguém. Também não percebi bem o "bah" não sei se ficou a meio de alguma coisa ou se, apenas está entediado/a.
2 - Para além desta dúvida, não percebi bem o comentário e, já agora, não me apetece dar ao trabalho de perceber. Até porque já tenho idade para fazer apenas o que me apetece.
Tem graça, Espumante, que a minha avó, que não era alfacinha, estava sempre a recomendar-me que tivesse cuidado com a "correspondência"; podia provocar dores nas costas!
Beijinhos
Uma pontada, dizia-me ela.
Bom fim-de-semana, que, para mim, vai começar amanhã de manhã.
Beijinhos
laura lara
Pensei que o termo correspondência era alfacinha...
Vejo que não.
Quanto à pontada, não se trata de um dor nas costas? Ou quer dizer o mesmo que a correspondência?
Beijinho
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