domingo, julho 01, 2007

Ir à feira do Ribatejo (ou de como não se deve arrastar a asa à irmã do Pimenta)



Irmã do gajo que não gostava do Pimenta
Vingança, 20 anos depois




fez-me recordar dois episódios semi-estranhos, acontecidos exactamente na primeira e na segunda vez (segunda e última e já se verá porquê) que fui à Feira do Ribatejo.

Da primeira vez, era eu jovem, solteiro e achava que uma das formas de aferição da masculinidade de cada qual era a resistência ao álcool (coisas e mentalidades do século XX). E é assim que, ouvindo falar tanto da Feira do Ribatejo, pusemo-nos a caminho numa sexta-feira, eu e um grupo de amigos. Lembro-me vagamente do primeiro par de horas que lá passei, ressoam ainda palavras como tintol, carrascão, um homem é homem ou não é homem, vou-te ao focinho (esta, seguramente, mais de vinte vezes), olha-me aquele cu e mais meia dúzia de expressões que me ajudaram mais tarde a perceber o cantado marialvismo ribatejano. E disse vagamente porque só me recordo de ter recobrado "consciência" na segunda-feira seguinte, o que significa que devo ter estado seguramente 72 horas "totalmente" bêbedo, como "totalmente quadrúpede" era o leão de Rio Maior, como dizia o saudoso Fernando Peça.

Da segunda vez que fui à feira, já homem feito, casado, filhos, cenário completo e em obediência à minha saudável mania de dar a conhecer as diversas facetas do mundo lusitano aos meus filhos, achei que lhes devia mostrar o sítio onde o pai, uma vez… hummm… teve uma ligeira indisposição, etc., o vinho do Ribatejo, etc., enfim uma daquelas versões compostinhas que contamos aos filhos enquanto eles não têm idade para perceber a crueza de algumas verdades.

Pois é nesta segunda vez que, entrando inocentemente num restaurante chamado “borladero” , levei um formidável murro entre os olhos que me atirou ao chão e roubou a consciência durante alguns segundos. Alguém me tomara por outra pessoa. Logo por azar essa pessoa, supostamente a que deveria levar o murro, andaria a arrastar a asa à irmã do valentaço. Desfeitas as dúvidas, vejo-me com a mulher, filhos e cerca de seis homens daqueles de manga arregaçada, crucifixo ao peito perdido num mar de pêlos, a família preocupada com o meu estado de saúde e para aí seis valentões, daqueles que não gostam que lhes andem a papar as manas, era o que faltava, a pedirem-me desculpa pelo sucedido e a insistirem que tínhamos que ir beber um copo, eles pagavam, mas é que eu era muito parecido com o "Pimenta". Presumo que o Pimenta era o conquistador das irmãs do pessoal que ia para os copos na Feira do Ribatejo.

Dificuldades a dobrar. Uma era a tremenda dor que tinha, pois não é impunemente que se leva um murro de frente, sobretudo sem esperar, como direi, estamos à espera que venha o criado saber se queremos mesa e acabamos por ir ao tapete com uma murraça no nariz. A outra dificuldade era explicar aos valentões (os tais que têm manas que andam para aí a fazer safadezas com o Pimenta) que não bebia e, mesmo que bebesse, duvidava que me apetecesse, pois até o lábio estava cortado com o murro.

Dito isto (esta expressão é do professor Marcelo, mas dá muito jeito) pode-se calcular que não morro de amores pela Feira do Ribatejo. Uma vez embebedo-me e de outra levo um murro nos queixos. Ponto final parágrafo e isto tudo a propósito da Laura que me fez lembrar a coisa. E o que mais me chateia é que provavelmente o Pimenta continua ileso a sair com as manas todas daquele pessoal…

.

Etiquetas: , ,

2 Comments:

At 10:26 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Que fiz eu, Espumante? Invento uma historieta... e logo te recordas de um drama, que dava uma bela letra para um fado!
Beijinhos

 
At 8:57 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Laura Lara
Foi por teres falado na Feira do Ribatejo :))
Cada vírgula do que conto, e verdade :))

 

Enviar um comentário

<< Home