quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A licenciosidade de Dante


[775]

"Il tristo sacco
Che merda fa di quel che si trangugia
"

Usando as palavras de Vasco Graça Moura, "o florentino (Dante) chega a ver as tripas de Maomet numa metáfora de sórdida abjecção fecal".

Lendo
o artigo todo na edição de hoje do DN, espantamo-nos mais ainda (se possível) com as declarações de Freitas do Amaral. A diplomacia obriga, frequentemente, a jogos de cintura que são até facilmente perceptíveis pelo comum dos mortais (leia-se a vulgata dos não diplomatas). Mas Freitas não foi diplomata. Revelou uma mistura perigosa de salazarismo e de uma requentada esquerda de esferovite para justificar a sua (dele) posição sobre as caricaturas de Maomet. Pode parecer heréctica, esta associação de Salazar a uma esquerda que vai vegetando na sua própria obsolescência, mas quem tiver mais de 50 anos perceberá melhor o que estou a dizer.

Em nenhum caso é tolerável que se afirme que "as caricaturas incitam a uma inaceitável guerra de religiões e ofende as crenças ou sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos. Que a liberdade sem limites é licenciosidade e que a liberdade de expressão deve respeitar a religião. Que no caso dos muçulmanos é a figura de Maomet assim como para os católicos são as figuras de Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria".

De duas uma: Ou Freitas do Amaral vive na maior confusão e mistura tudo (o que não acredito, porque é um homem experiente e de sólidos conhecimentos e cultura), ou mistura diplomacia com uma forma barroca de marcar internacionalmemte a (saloia) posição portuguesa, pensando que está a fazer uma linda figura, ao mesmo tempo que uma vez mais nos passa um atestado de imbecilidade.