terça-feira, setembro 14, 2004

Pode, uma coisa destas?

Quando eu tinha 19 anos andei a partir montras em Coimbra, pela Ferreira Borges abaixo, assentava na agenda cada vez que andava à porrada com a polícia e ouvia "tiradas" género "o cagar é um acto político", que me geravam profundas reflexões até conseguir adormecer. Não sabia bem porquê... havia o Salazar, a Pide, o reviralho, a guerra colonial, a suprema humilhação quando éramos revistados (a equipa de raguebi da velha AAC), mas verdade seja dita que a minha consciência política não ia muito mais além. Em Lisboa, de férias, impressionava as miúdas (pelo menos, eu acho...) com poesia avançada género "Não foi só Nossa Senhora, que sendo virgem pariu // Tambem perto de Tondela, uma santa como ela, Stª Comba Dão // Foi parir a uma gruta // o maior filho da puta // que desgraçou a Nação". As miúdas ficavam regaladas com este espírito coimbrão e isso dava um jeitão ara os bailes particulares, por razões que omito. Entretanto, cresci... hoje tenho uma filha no segundo ano da faculdade que acha todas estas histórias profundamente ridículas e que acha que estar contra o governo é um desperdício de tempo e que diz não perceber by the least as reivindicações dos estudantes. Mas, pode, uma coisa destas? Não se arranja aí um ditadorzito para os jovens voltarem a andar ao estalo com a polícia? I rest my case...

5 Comments:

At 8:38 da manhã, Blogger Passada disse...

a descrença política é invariavelmente fruto do também cinico aproveitamento do poderio actual. Seja qual for a corrente que se fala. No entanto não pedimos retrocessos ideológicos, nem vindas de novos brutos mentalóides. Apenas e unicamente o estreitamento relacional da política, sem abusos, sem merdas e principalmente sem acharem que é tudo buçal. Concordo com a tua filha, é um desperdício fazer a crítica a todo o governo que tem orelha de toupeira.

 
At 10:50 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

na bruma das minhas memórias da biologia, a toupeira vê é mal ou é mesmo cega. Ouvir? Não me lembro :)))

 
At 1:04 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Apanhada de surpresa ao ver-me citada num post do meu pai, devo dizer (devo-TE dizer, pai) que acho que conheces um pouco melhor que isso a forma como encaro e digiro as querelas políticas que diariamente me rodeiam. Sim, penso ser uma perda de tempo o insurgimento contínuo, tão contínuo, que deixa de se dar por ele, contra o governo; o facciosismo tão característico das nossas oposições (sejam elas quais forem, à direita ou à esquerda a mer** é sempre a mesma). Agora a impressão com que fiquei ao ler-te, fiquei com a impressão de que me pintavas com uma inércia política e despida de convicções com a qual não me identifico. Como tu próprio um dia me disseste, não temos regimes ditoriais a abater, mas temos a ameaça global do terrorismo; e temos um país que se afunda diariamente qual sapinho caído numa poça de areias movediças na hipocrisia, no provicianismo e na corrupção. Não fosse o clima os caracóis e as imperiais...

 
At 1:25 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

A prole revolta-se... mas, pelo menos, constato oposição à oposição. Se fosse no meu tempo, chamavam-me tachista. Mas hoje, tenho de me vergar à realidade. É que com a oposição que temos dá vontade de partir umas montras... lá isso dá :)

 
At 4:04 da tarde, Blogger Passada disse...

a metáfora no meu tempo, é ainda corriqueira, utilizável. Querendo a "orelha de toupeira" dizer que os governos são instituições fiéis (agentes utilizados blá,blá, blá), sabes lá a quem ou melhor ainda a quê: poder o mais provável, destituindo por completo as origens pelas quais eles(as) lá foram postos(as). E como tu tão bem dizes e sabes os putos de rua são bem capazes de dar umas boas bofetadas aos que se sentem confortáveis nas cadeiras da política. A resposta da tua filha tem saber e é preciso ouvir, alías o mote desta discussão. Governo não ouve, não gosta de ouvir e paga para ser ouvido! Engraçado, certo?

 

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