domingo, setembro 05, 2004

Vou ao Guincho

Hoje vou ao Guincho. E porquê? Porque a praia do Guincho:

- Não tem um mar de águas cálidas como o Índico e não nos permite estar duas ou mais horas dentro de água;

- Não tem fundos de mar de corais com mil cores, algumas que eu nem sequer sabia que existiam, onde nadam mil peixes de mil cores, efeitos e tamanhos, crustáceos estranhos em harmonia com outros que conhecemos, como lagostas, ostras (a ostra é um molusco, mas deixem lá passar para não complicar a prosa) e caranguejos sem ser de viveiro;

- Não tem tubarões de areia com dois metros de comprimento e bocas inofensivas de quatro ou cinco centímetros nem tubarões (dos outros) que passam a poucas dezenas de metros de nós, sem nos ligar nenhuma;

- Não tem aquele mar que, mesmo calmo não perde o cariz violento e de brutalidade que só o Índico consegue ter ( África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam fruta...);

- Não tem aquela areia fina de Mombaça a cheirar a história e com Zanzibar ali tão perto;

- Não tem o mar assustador do Transkei, a célebre “Skeleton Coast” onde inúmeras naus de comerciantes portugueses, ingleses e holandeses naufragaram nos séculos XV e XVI, com ventos assustadores e tubarões aos magotes que não nos deixam sequer içar para o barco uma barracuda fisgada inteira. Chega-nos só a cabeça...

- Não tem as águas gélidas de False Bay, Lion Head ou Cape Point (onde ainda hoje Bartolomeu Dias convive com os babuínos e uma das mais extraordinárias reservas naturais de flora que conheci) e, ao fundo, colónias enormes de focas a mudar de oceano como quem muda de casa...

- Não tem as areias rigorosamente brancas das praias das Maurícias ou La Reunion, tão brancas que do avião em que para elas viajamos temos dificuldade em descortinar a linha de água. Assim um bocadinho como o Caribe, mas sem ouvir falar espanhol a cada esquina e a ter que procurar caminho entre centenas de portugueses à espera que reparem as avarias do avião da "Yes" (ia escrever dos aviões, mas eles só têm um...);

- Não tem a calmaria das praias atlânticas de Luanda, da Baía Azul de Benguela, ou a visão fantástica do “encontro” do deserto do Namibe com a corrente fria de Benguela. Muito menos aquela visão pictórica das praias do Mussulo, plana e de vegetação rasteira, onde emergem coqueiros e mangueiras (as mais deliciosas mangas do hemisfério sul), tal qual a gente pensa que as praias dos trópicos devem ser...

- Não tem, finalmente, a espuma revolta nem as neblinas de Walvis Bay, de águas com “excesso de peso” da pescada que comemos em Portugal e a mandar permanentemente uma massa de humidade para o Namibe e o Karoo que haverá de fazer florescer (florescer mesmo, com flores brancas, amarelas e lilases) o deserto, uma vez por ano durante quinze dias, todos os anos.

Mas vou ao Guincho. Que não tem nada disto. E “disto” me recordo com uma saudade e uma ternura que poderão parecer lamechas mas que farão parte, sempre, do meu álbum de recordações. Mas vou porque tem a particularidade de ser a única praia, pelo menos nesta parte do país, de que consigo gostar. Tem um olor magnífico a pinheiros, areia limpa, uma espuma branquíssima, pequenos cabozes e polvinhos nas rochas, o magnífico cenário do Cabo da Roca, da Azóia e da Malveira da Serra e, sobretudo, aquela permanente brisa que faz as delícias dos surfistas e afasta as multidões para Carcavelos, Santo Amaro de Oeiras e Costa da Caparica e me deixam caminhar sem atropelos nem gritarias e desfrutar de uma das mais belas praias portuguesas.Talvez a mais bela!

7 Comments:

At 7:12 da tarde, Blogger Blogger disse...

... e tem a senhora Mariana que nos leva uma bolas de berlim como não há em nenhuma outra praia.
Também lá estive no domingo e voltarei este fim de semana se o tempo permitir. A Praia Grande é sempre alternativa para os dias em que a brisa se assemelha a um vendaval ; )

 
At 8:36 da tarde, Blogger Blogger disse...

... e tem a senhora Mariana que nos leva uma bolas de berlim como não há em nenhuma outra praia.
Também lá estive no domingo e voltarei este fim de semana se o tempo permitir. A Praia Grande é sempre alternativa para os dias em que a brisa se assemelha a um vendaval ; )

 
At 8:56 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Caro(a)?? Resderes

O que me faz formigueiro é que já li algures num blog uma alusão às bolas de Berlim do Guincho. Por mais força que faça não me consigo recordar. E como clicando em Resderes dá "blog que não deu autorização ao blogger para ser divulgado... fico-me pela ideia que há mais gente com bom gosto que gosta do Guincho... e das BB, claro :)

 
At 2:19 da manhã, Blogger Ideiafix disse...

O das bolas de Berlim sou eu!! O texto está perfeito. Também concordo com isso tudo, mas só faltam mesmo as bolas de Berlim!

 
At 12:08 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Mistério desvendado! Claro que já tinha lido dobre bolas de berlim no Ideafix. Sabe que, para mim, as bolas de Berlim são um pouco como a segunda circular em Lisboa? É que já estive em Berlim e não vi nenhuma. Se calhar estão todas na primeira circular... :)

 
At 12:52 da manhã, Blogger Blogger disse...

Pois é, já percebi que estes comentários da blogger não deixam ver os endereços dos blogs de quem por cá passa. Não que eu tenha escondido, parece-me é que é mesmo assim. O meu é resderes e o resto da lenga-lenga.
O Ideafix também é um bom apreciador das BB e, pelos vistos, é às dúzias ; )

 
At 11:32 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Cara resderes
Desta vez a culpa não morre solteira (aprendi isto com um ou outro partido aqui da paróquia). Mas compreenda que quando recebo um comment do Ideafix a dizer que "o das bolas é ele", quem sou eu para duvidar... :) Em todo o caso já consegui ir ao seu resderes " e o resto da lenga-lenga" e já lhe vou pôr um linquinho! E com tanta matéria sobre as BB, juro que este fds vou mesmo ao Guincho à procura da D. Mariana.

 

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