Vou ao Guincho
Hoje vou ao Guincho. E porquê? Porque a praia do Guincho:
- Não tem um mar de águas cálidas como o Índico e não nos permite estar duas ou mais horas dentro de água;
- Não tem fundos de mar de corais com mil cores, algumas que eu nem sequer sabia que existiam, onde nadam mil peixes de mil cores, efeitos e tamanhos, crustáceos estranhos em harmonia com outros que conhecemos, como lagostas, ostras (a ostra é um molusco, mas deixem lá passar para não complicar a prosa) e caranguejos sem ser de viveiro;
- Não tem tubarões de areia com dois metros de comprimento e bocas inofensivas de quatro ou cinco centímetros nem tubarões (dos outros) que passam a poucas dezenas de metros de nós, sem nos ligar nenhuma;
- Não tem aquele mar que, mesmo calmo não perde o cariz violento e de brutalidade que só o Índico consegue ter ( África, terra bruta, que até à papaia lhe chamam fruta...);
- Não tem aquela areia fina de Mombaça a cheirar a história e com Zanzibar ali tão perto;
- Não tem o mar assustador do Transkei, a célebre “Skeleton Coast” onde inúmeras naus de comerciantes portugueses, ingleses e holandeses naufragaram nos séculos XV e XVI, com ventos assustadores e tubarões aos magotes que não nos deixam sequer içar para o barco uma barracuda fisgada inteira. Chega-nos só a cabeça...
- Não tem as águas gélidas de False Bay, Lion Head ou Cape Point (onde ainda hoje Bartolomeu Dias convive com os babuínos e uma das mais extraordinárias reservas naturais de flora que conheci) e, ao fundo, colónias enormes de focas a mudar de oceano como quem muda de casa...
- Não tem as areias rigorosamente brancas das praias das Maurícias ou La Reunion, tão brancas que do avião em que para elas viajamos temos dificuldade em descortinar a linha de água. Assim um bocadinho como o Caribe, mas sem ouvir falar espanhol a cada esquina e a ter que procurar caminho entre centenas de portugueses à espera que reparem as avarias do avião da "Yes" (ia escrever dos aviões, mas eles só têm um...);
- Não tem a calmaria das praias atlânticas de Luanda, da Baía Azul de Benguela, ou a visão fantástica do “encontro” do deserto do Namibe com a corrente fria de Benguela. Muito menos aquela visão pictórica das praias do Mussulo, plana e de vegetação rasteira, onde emergem coqueiros e mangueiras (as mais deliciosas mangas do hemisfério sul), tal qual a gente pensa que as praias dos trópicos devem ser...
- Não tem, finalmente, a espuma revolta nem as neblinas de Walvis Bay, de águas com “excesso de peso” da pescada que comemos em Portugal e a mandar permanentemente uma massa de humidade para o Namibe e o Karoo que haverá de fazer florescer (florescer mesmo, com flores brancas, amarelas e lilases) o deserto, uma vez por ano durante quinze dias, todos os anos.
Mas vou ao Guincho. Que não tem nada disto. E “disto” me recordo com uma saudade e uma ternura que poderão parecer lamechas mas que farão parte, sempre, do meu álbum de recordações. Mas vou porque tem a particularidade de ser a única praia, pelo menos nesta parte do país, de que consigo gostar. Tem um olor magnífico a pinheiros, areia limpa, uma espuma branquíssima, pequenos cabozes e polvinhos nas rochas, o magnífico cenário do Cabo da Roca, da Azóia e da Malveira da Serra e, sobretudo, aquela permanente brisa que faz as delícias dos surfistas e afasta as multidões para Carcavelos, Santo Amaro de Oeiras e Costa da Caparica e me deixam caminhar sem atropelos nem gritarias e desfrutar de uma das mais belas praias portuguesas.Talvez a mais bela!
7 Comments:
... e tem a senhora Mariana que nos leva uma bolas de berlim como não há em nenhuma outra praia.
Também lá estive no domingo e voltarei este fim de semana se o tempo permitir. A Praia Grande é sempre alternativa para os dias em que a brisa se assemelha a um vendaval ; )
... e tem a senhora Mariana que nos leva uma bolas de berlim como não há em nenhuma outra praia.
Também lá estive no domingo e voltarei este fim de semana se o tempo permitir. A Praia Grande é sempre alternativa para os dias em que a brisa se assemelha a um vendaval ; )
Caro(a)?? Resderes
O que me faz formigueiro é que já li algures num blog uma alusão às bolas de Berlim do Guincho. Por mais força que faça não me consigo recordar. E como clicando em Resderes dá "blog que não deu autorização ao blogger para ser divulgado... fico-me pela ideia que há mais gente com bom gosto que gosta do Guincho... e das BB, claro :)
O das bolas de Berlim sou eu!! O texto está perfeito. Também concordo com isso tudo, mas só faltam mesmo as bolas de Berlim!
Mistério desvendado! Claro que já tinha lido dobre bolas de berlim no Ideafix. Sabe que, para mim, as bolas de Berlim são um pouco como a segunda circular em Lisboa? É que já estive em Berlim e não vi nenhuma. Se calhar estão todas na primeira circular... :)
Pois é, já percebi que estes comentários da blogger não deixam ver os endereços dos blogs de quem por cá passa. Não que eu tenha escondido, parece-me é que é mesmo assim. O meu é resderes e o resto da lenga-lenga.
O Ideafix também é um bom apreciador das BB e, pelos vistos, é às dúzias ; )
Cara resderes
Desta vez a culpa não morre solteira (aprendi isto com um ou outro partido aqui da paróquia). Mas compreenda que quando recebo um comment do Ideafix a dizer que "o das bolas é ele", quem sou eu para duvidar... :) Em todo o caso já consegui ir ao seu resderes " e o resto da lenga-lenga" e já lhe vou pôr um linquinho! E com tanta matéria sobre as BB, juro que este fds vou mesmo ao Guincho à procura da D. Mariana.
Enviar um comentário
<< Home