sexta-feira, setembro 03, 2004

Repulsa

Hoje de manhã tinha uma história brejeira para aqui pôr, quando cheguei ao trabalho. Coisa ligeira. De repente soube das noticias. Fui ver. E vi crianças quase nuas a fugir em pânico, muitas delas cobertas de sangue, outras a ser transportadas em macas, mulheres em histeria, feridas, vi crianças a beberem água sofregamente e o pânico generalizado. E, mesmo tendo eu próprio já passado por cenários de morte e destruição, não resisti a um sentimento muito forte de solidariedade para com as vítimas e um ódio profundo pela cáfila de assassinos, loucos, que provocaram o drama. Aqueles que inclusivamente dispararam à queima roupa sobre as crianças que fugiam pelas ruas, que mais pareciam baratas tontas por um insecticida. Não consegui disfarçar este sentimento de repulsa pelos assassinos, dando comigo a pensar que gente desta não merece um tribunal ou uma defesa dos seus direitos, mas sim uma bala que lhes desse o desprezo de quem ama os valores da liberdade e da vida que eles não merecem viver. A mesma repulsa, aliás, por aqueles que continuam uma trágica feira de vaidades, apregoando despudoradamente a necessidade de resolver os problemas deste terrorismo com diálogo, como recentemente fez Mário Soares, manifestando ou uma total ignorância dos fenómenos do terrorismo mundial ou um total desprezo pela vida de crianças inocentes. O que vi hoje não é, afinal, nada de novo... mas foi demasiadamente brutal. Sei que vão chover crónicas, posts, artigos de opinião, reportagens que gradual e paulatinamenhte, acabarão por desaguar nas culpas da hegemonia russa, americana, no petróleo e blá blá blá. Já não é uma questão de pluralidade de opiniões. É uma questão de vergonha. E de respeito pelas crianças que hoje vi a correr, nuas, para os braços dos pais e para uma garrafa de água.