Homofobia politicamente correcta
De há uns tempos a esta parte tenho assistido a um fenómeno que, pela sua frequência, me suscita alguma reflexão. Falo de gays. Os gays que alimentam tertúlias de acaloradas discussões, inusitadas reacções e torrentes de verbo sempre que qualquer tomada de posição crítica em relação a eles é assumida. E a argumentação recorrente é a de que os gays são ignobilmente segregados e que a sociedade é claramente homofóbica, mal informada, inculta e inexoravelmente conotada com a direita liberal, conservadora e fascizante. Toda a direita, afinal. É um exemplo claro de mais uma questão aproveitada pela esquerda com o habitual oportunismo que se lhe reconhece e glosada pela direita com o seu proverbial cinismo. Poucas vezes tenho conseguido conversar sobre o fenómeno da homossexualidade (conversar, não é necessário “discutir”) sem que o tema assuma proporções de tese e não suscite clivagens iguais ao espaço entre duas linhas paralelas. Ocorre-me um episódio, há já alguns anos atrás, em que um grupo de jovens professoras do secundário analisava a possibilidade de admissão de um gay para leccionar inglês numa escola com cerca de 1000 alunos. Da conversa instalada, apercebi-me rapidamente que a facção pró se baseava claramente no facto de ele ser gay e não da desejável condição de ser um bom professor.. Quando dei a minha opinião, tanto mais que eu era amigo pessoal do gay em questão e ainda sou, “aqui d’el rei” que ia sendo deitado à fogueira por seis mulheres em fúria. Seis mulheres em fúria oratória é coisa eu não recomendo a ninguém pelo que, paulatinamente, me “demiti” da conversa. Soube mais tarde que o professor em questão foi expulso da escola por “alegado” abuso de menores. Ora, e voltando ao tema inicial, o que tenho vindo a observar no momento é um fenómeno interessante. A fúria que se instalou contra alguns ministros do CDS/PP por razões que parecem decorrer da sua má prestação, deficiente preparação ou suspeitas cumplicidades é notoriamente ligada ao facto de alguns deles serem gay. Alegadamente. E profusamente ilustrado por intervenções na rádio, na TV, nos jornais e, inevitavelmente, na blogoesfera. Nos blogs, a coisa é feita mais às claras, como não podia deixar de ser. Paulo Portas é indicado como sendo o predador (passivo? activo?) da cabeleira Deneuve, aponta-se a dedo os colegas de governo que são os namorados, os que foram, os que estão com ciúmes, os que receberam cargos políticos para estarem calados, enfim, um autêntico “goulash” de promíscuas influências, sob as quais um país como o nosso não pode sobreviver. Ora, a questão é esta. Muitos dos comentários (e vou ater-me aos blogs, apenas, por facilidade) feitos neste sentido provêm (que eu sei... ) das mesmas pessoas que se eriçam contra a homofobia reinante no pedaço. E eu pergunto. Não haverá argumentação sustentada na prestação dos visados que não tenha de passar pelo facto de se comerem uns aos outros? Mas então... os idiotas não iluminados, retrógrados e homofóbicos só o são quando não se discute o actual governo? E o posicionamento ferozmente “homofobo-fóbico” (passe o palavrão)é posto de lado quando se nutre um ódio de estimação pelos ministros em causa ao ponto de se cair na mais cínica interpretação dos amores de cada um e da sua orientação sexual? Não joga a bota com a perdigota. É um posicionamento desonesto, vaidoso e de irritante e difícil digestão. Sempre pensei que a homossexualidade deveria ser tomada e aceite com naturalidade. Aceite como um fenómeno natural e que nunca ela deveria constituir factor limitativo de quem quer que seja homossexual. Tal como deveria ser corrigida ou punida, sempre que ela remeta para ilícitos criminais, como infeliz e frequentemente acontece. Mas nem se trata de aceitar. Trata-se de “entender” e actuar em conformidade com esse entendimento. Tal como não deveria constituir bandeira para benesses, favores, ou recomendação curricular. Tenho para mim que esta é a forma mais honesta de se lidar com o fenómeno. Tenho amigos gay com quem convivo e outros que evito. Por razões óbvias e que nem merecem detalhe. E, normalmente, furto-me a grandes sabatinas sobre a homossexualidade porque são discriminatórias e servem maioritariamente os que sentem uma necessidade intestina de se armarem em salvadores daquilo que os gays não precisam que se salve. Mas a corrente geral não é essa. A espuma raivosa dos que acham que todos os que eventualmente demonstrem reservas sobre alguns aspectos do fenómeno é a mesma que se nota quando, para se exteriorizar a fúria contra um ministro se recorre, despudoradamente, ao facto de ele ser gay. Mal comparado, ocorre-me a legião de brancos que nos anos 80 iam a correr para África porque achavam que os pretos “tinham” de ser ensinados a ser democratas. Faziam um escarcéu dos diabos, participavam em manifestações de rua, promoviam grandes debates, atacavam ferozmente o colonialismo e os colonialistas e quando chegavam a casa soltavam uma série de impropérios com o cozinheiro (preto) porque a sopa estava salgada... É um bocadinho o género. Se a estes brancos democratas, ao chegarem a casa, lhes saltava o pé para a chinela, aos paladinos defensores da homossexualidade em termos e forma em que a homossexualidade não precisa de ser defendida, salta-lhes a mão para a testosterona. Ou progestrona, porque a idiotia não é exclusivo dos machos. Já agora. Eu também acho que Paulo Portas e os seus correligionários estão a fazer uma triste figura. Para que conste.
3 Comments:
Obrigado pelo link. Deu-me oportunidade de conhecer o seu blogue de escrita solta e eufónica, mesmo confessando a sua geração, para variar do mundo cinzento que nos traz governados da maneira que estamos.
A questão gay é lá com quem gosta. Desde que não envolva menores de 16 anos - porque, aí, como dizia o Camilo é que um certo animal torce uma certa parte do corpo... O que me custa é a defesa íntima, e ostensiva quando existe à-vontade com os interlocutores, de que isso não tem importância, eles eram muito vividos, com 9 e 10 anos sabiam mais do que muitos com 30, etc., etc.
Por isso, não perco a impressão de que uma parte significaticva dos gays gosta mesmo dos efebos, sem pelos, meninos, referidos no poema de Boto e nas biografias dos escritores homossexuais.
A pertinência do seu comentário é clara. Faço apenas uma ressalva: A minha reflexâo não era exactamente sobre a condição gay ou os seus defensores e/ou detractores. A questão era mais sobre a hipocrisia dos que defendem a intocabilidade dos gays (uma atitude, no mínimo paternalista e de pretensa superioridade intelectual) e que não hesitam em invocar essa qualidade (a homossexualidade) sempre que decidem atacar politicamente as pessoas que, por isto ou por aquilo, não colhem os favores daa suas preferências. Mas provavelmente, expressei-me menos bem...
uuuaauuuu!!! A homosexualidade uma qualidade!! Adorei, adorei, adorei, tá a ver?
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