"Ele há" dias assim
“Ele há” dias assim. O almoço sensaborão, o trabalho meio estéril, um céu de capacete a manter-nos em banho-maria, uns posts sem interesse, a eterna clivagem esquerda-direita já (ou desde sempre?) amplamente instalada na “blogoesfera” e a perspectiva de um fim de semana que, por razões extrínsecas, vai ser chato e comprido. Ainda tive um fugaz momento de excitaçao: convidado para ir almoçar ao Martinho da Arcada e porque o 25 dos Prazeres pára à porta do meu escritório e “desagua” no Terreiro do Paço decidi ir de eléctrico, cumpria uma fantasia-desejo de alguns anos e até não perderia o estacionamento do carro. A viagem prometia... rua de Buenos Aires, Santos, mas eis que o pesadelo se instalou. De Santos ao Terreiro do Paço o eléctrico parou três vezes, bloqueado por viaturas cujos donos as estacionaram ali “por um bocadinho”,. Enquanto, certamente, estariam “a trabalhar”. Um deles, ao vir retirar a viatura ainda vociferou com aquele timbre de voz e entoação que só as almas lusas conseguem ter: - Oh menina (era uma mulher que conduzia o eléctrico), eu deixei os quatro piscas ligados ! Ficou tudo estragado. Nem o passeio de eléctrico salvou a dia. Corrijo. Há uma exposição de fotos gigantes no Terreiro do Paço que merece ser vista. Uma delas chamou-me particularmente a atenção, a de um bando de milhares de flamingos - rosa num banco de areia. Deu para me recordar as vezes sem conta que os vi, ao vivo e a cores, quando passava no “saco de Santa Maria” (para quem não sabe, uma ilha remota que, a haver paraíso na terra, é ela com certeza) com o barco a 15 nós e a não mais de vinte ou trinta metros deles, os via olharem-me condescendentemente, parecendo dizer-me: “Passa lá, não levantamos vôo, porque já te conhecemos”.
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