O Código de Avintes
Houve um Presidente da República do Brasil, conhecido pela sua escassa cultura e frequentes “gaffes” (onde é que eu já vi disto?) que tinha um assessor para os assuntos culturais. Este assessor ter-lhe-ia recomendado ( teria-lhe, segreda-me Fernandes Tomás, mas acho que eu é que tenho razão...) um leilão de arte onde a presença do Presidente seria politicamente aconselhável. Decorria o leilão quando o assessor lhe terá indicado que a seguir iriam apresentar um quadro de um famoso pintor. E o pregoeiro anuncia : - Leonardo da Vinci”. O Presidente olha em redor, puxa o cinto das calças para cima, abana as medalhas e grita; - Costa e Silva dá chinquenta.
Ora eu não quero correr este tipo de riscos. Desconfio que sou o único português que ainda não leu o Código da Vinci e eu não quero arriscar-me a estar distraidamente numa sala de espera de um consultório médico e ouvir a recepcionista perguntar a uma colega se já leu o Código da Vinci e eu começar a questionar-me se Avintes (simpática vila nortenha que eu conheço razoavelmente) terá um novo código. Das estradas, de licenças de alvarás ou até, quem sabe, de honra. Por isso, estou a considerar a séria possibilidade de ler o tal livro. Perguntar-me-ão (perguntarão-me...? F. Tomás? Ajude lá aqui...) o porquê desta angústia e eu explico. É que todos temos dentro de nós um alter-ego de estimação, lá dizia o Meupipi que todo o português tinha um camionista dentro de si e até a Vieira diz que tem uma intestina manicura que dialoga frequentemente com a Madonna. Ora eu tenho aquele puto birrento que cada vez que o pai lhe recomendava um livro, gerava de imediato um sentimento de rejeição dificilmente ultrapassado. Recordo-me de quando o meu pressuroso pai achou que eu devia ler “A Cabana do Pai Tomás” e que eu, só de olhar para o nome da escritora senti uma espécie de azia... ainda por cima, eu que comecei a aprender inglês de pequenino, achava que Harriet Beecher Stowe tinha muito mais a ver com “a D. Henriqueta leva o fogão para a praia” do que com um nome de autora de livro. Uma questão fonética, certamente. E o meu pai achava que era um livro importante, a escravatura na América do Norte, etc., desconfio mesmo que se desenhava já algum anti-americanismo, muito antes de Bush, como se pode ver.
Lembro-me que andava encantado com Mark Twain e os seus fascinantes contos, de que me ocorre agora “A Célebre Rã Saltadora do Distrito de Calaveras”, mais as fascinantes aventuras de Tom Sawyer, Becky e Huck Finn... e o meu pai impingia-me a Harriet. E não era só. Era a personalidade forte dos 12 anos, a fase em que começamos a fazer apenas e só os disparates que achamos que devemos fazer. E isso justificava bem a reacção negativa, sempre que me diziam que eu devia fazer isto ou aquilo, incluindo livros para ler.
Passa-se um pouco o mesmo com o “Código da Vinci”, comentado nos blogs, nos jornais, nas revistas, no barbeiro, na praia, nos taxis e até nas caixas do Pingo Doce. E eu, puto birrento mal resolvido desde pequenino, tenho reagido. Mas a coisa está a tornar-se incomportável. Quer queiramos (quêiramos...??... F. Tomas... please help...), quer não. Eu não quero ser confrontado com alguma situação que me envergonhe. Tanto mais que, ao que parece, “o enredo é pobre, mas a sua linguagem encriptada e sublinearidade interlinear aborda questão actuais e torna-as (torna-las??) acessíveis ao grande público”. E cito apenas comentários respigados de muitos que oiço at random (F.Tomás... shiuuuu, esta está em inglês). Portanto, “Código”, aí vou eu. Vou ler-te as criptas todas, as entrelinhas e outras virtualidades sublineares. E se ouvir falar de ti no barbeiro, assumo uma expressão paternal e dou uma “lecture” a preceito sobre o impacto que tiveste na cultura portuguesa e, já agora, na retoma que se avizinha.
5 Comments:
Como dizia o poeta: "Os problemas de merda/ A merda dos problemas!"
,,,
... cara Francisca, pensando melhor, verifiquei que o seu comment só poderia ser destinado ao meu post acima "Maresia e Plano B" e terá caído neste por algum inesperado e metacárpico lapso... :) E falando de poetas, cá para mim, o cheiro na Parede é capaz de vir já do séc XIX, quando Bocage, eventualmente, se poderá ter agachado lá para as bandas da Trafaria. Senão reparemos no final de um seu conhecido soneto, ainda que de gosto duvidoso:
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou cagando ao vento.
:)
Não, caro nmncr, não é o único português que não leu o "Código da Vinci".
Em todo o caso, creio que somos apenas dois...
PSA, http://www.comosefosseumabaleia.com/
a baleia mudou-se para um endereço de acesso difícil, quando lá vou só à segunda ou terceira é que consigo. Será algum "código"? :))
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