domingo, maio 01, 2016

Aí estão eles de novo. Que nem praga do Egipto.



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E aí temos a febre outra vez. Que esta gente não brinca em serviço. Há cerca de um ano, as parangonas anunciavam o glifosato como potencialmente cancerígeno. A «coisa» abrandou, o glifosato continuou a ser o herbicida mais vendido e a população mundial beneficiou dos extraordinários resultados da aplicação de um dos menos tóxicos herbicidas do mundo. DL50 oral, rato=5.600 mg/kg, seguro para mamíferos, peixes e abelhas, não carcinogénico (US EPA categoria E), não mutagénico, destituído do desenvolvimento de toxicidade e com total degradação no solo em menos de 60 dias. Estes valores são atingidos pelas grandes empresas multinacionais através dos seus departamentos de pesquiza e desenvolvimento, por técnicos especialmente preparados para o efeito (cientistas, químicos, patologistas, botânicos, matemáticos e outra gente mais preocupada com a ciência e a tecnologia do que com o tempo novo) e aprovados e ratificados por organismos oficiais.

O glifosato é um produto de grande valor económico. Numa descrição muito sucinta, é um herbicida sistémico, de acção foliar, com translocação nas plantas tratadas e, consequentemente, atingindo o sistema radicular, evitando assim o desenvolvimento de um novo ciclo vegetativo. O glifosato foi, assim, substituindo com êxito e segurança evidentes produtos mais antigos com uma forte acção de choque, mas não evitando o recrescimento das plantas tratadas. Era o caso, por exemplo do paraquat, de resto com um grau toxicológico muito elevado e sem antídoto conhecido.

O problema é que o glifosato é um produto da Monsanto, a maior companhia do mundo na produção de sementes transgénicas e uma das maiores empresas de agro-químicos (agro-tóxicos, para a Esquerda). Logo, um alvo apetecível para aqueles apostados em destruir as economias (isso mesmo), não se importando, no caso vertente e noutros, com os resultados catastróficos que podem causar. E é assim, que em quarenta e oito horas se volta ao ataque. Depois de um ano de «pousio», eis que os paladinos do tempo novo e da saúde das borboletas voltam ao ataque. Nestes conta-se uma organização meio esquisita (como a Íbis, aquele pássaro do Egipto…), a Plataforma Transgénicos Fora, a sedutora Ségolène Royal, o (não tão sedutor) André do Pan (ainda excitado com as descobertas que fez sobre o Butão), o Capoulas Santos e, inevitavelmente, a nossa Comunicação Social que nas últimas horas nos metralha com os perigos do glifosato. Desde o aumento de mortos na Argentina por causa do glifosato, até às deformidades das borboletas que pousaram em flores de plantas tratadas com glifosato, passando pelo nosso distinto agrónomo e ministro de agricultura que vai mandar analisar as sementes de centeio. Não resisto a fazer uma chamada aqui sobre o facto de serem as borboletas que põem os ovos de onde nascerão as lagartas que virão a comer as culturas (há a polinização, não me esqueci) e que, no meu entendimento, um pé de centeio «atacado» de glifosato deverá, teoricamente, morrer antes de criar espiga. Mas eles lá sabem. Por mim, achei que devia fazer este breve resumo, em defesa de um dos mais eficazes produtos conhecidos no capítulo de protecção de plantas, contribuindo para a economia e para a alimentação «tout court» de milhões de pessoas em países subdesenvolvidos (*). E, já agora, vale  a pena ler alguns dos comentários da página do FB da tal Plataforma Transgénicos Fora. Absolutamente surrealista.


(*) Um pequeno exemplo: Há cerca de meia dúzia de anos, um grande rio africano foi infestado por uma planta aquática, o jacinto de água. A planta tem uma exposição de folhagem pequena à superfície da água e longas raízes submersas que podem atingir os dois metros de profundidade. Esse rio é muito rico em peixe, dieta básica de cerca de quatro milhões de habitantes ribeirinhos. Quando a infestação atingiu grandes proporções (quase que se podia caminhar à superfície do rio), essas populações sofreram um autêntico drama, já que a agricultura é quase inexistente (bordas do Saara) e o peixe é o seu principal alimento. Vários produtos foram experimentados, sem resultado, porque, sem translocação, não atingiam a raiz. O corte manual também nada resolveu porque as plantas «rebentavam» de novo. Finalmente optou-se pelo glifosato, com assinalável êxito. As populações puderam pescar de novo, comer peixes e sorrir outra vez. Não sei se, entretanto, alguém morreu de cancro. Mas não me consta. Talvez a Ségolène e alguém da Plataforma lá pudessem ir verificar, mas aviso que a temperatura atinge facilmente os 46º, há mosquitos (ah! E lacraus) e ultimamente têm aparecido por lá uns jihadistas que se entretêm a cortar umas cabeças e a roubar miúdas. Acção muito mais tóxica que o glifosato. Sobretudo muito mais real e que devia suscitar mais reflexão a esta patetice endémica que se instalou no homem novo do tempo novo.


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1 Comments:

At 12:03 da tarde, Blogger Unknown disse...

No vinte...

 

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