quinta-feira, março 10, 2016

Palmas por alma de quem?



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Espanta-me que os portugueses se espantem com a falta de espanto da Esquerda perante o discurso de posse do novo Presidente da República, por muito espantosas que fossem.

Alguém deveria explicar melhor aos espantados portugueses com a ausência de aplausos, que a extrema Esquerda dispõe de um inigualável estatuto, qual seja o de serem livres numa sociedade livre que eles gostariam de transformar numa sociedade em que todos fossem livres, sim, mas de concordar com eles. Não entendo ainda como é que as pessoas não entendem este simples desiderato e, ainda por cima, se espantem. A extrema Esquerda não tem cultura de liberdade e convive mal com ela. Não é preciso ler muitos livros, mas sempre ajuda. Mas, a falta de paciência e porque a partir de uma certa idade esses livros adquirem aquele tom monocórdico que provoca em qualquer maior de cinquenta anos aquela sensação chata do «não há pachorra», basta fazer um pequeno exercício de observação para se perceber que qualquer extrema Esquerda tem por objectivo único a destruição de qualquer sistema político, reduzi-lo a pedaços (não, não estou a exagerar) e emergir depois como uma nova força política, com um homem novo, num tempo novo. Eu sei que isto cheira demasiado a déjá vu mas é assim mesmo.

Não faria assim sentido bater palmas a um homem que represente o establishment que a extrema Esquerda vitupera e não tolera. As coisas são o que são e não há por que mudá-las. E, assim sendo, é deixá-los estar até que acabem por extinguir-se como um fósforo. Não havia era necessidade de haver socialistas, uma têmpera estranha de sentimentos difusos, ambiciosos e razoavelmente enovelados que se aloja ainda numa considerável parte da população que acham que devem e podem estabelecer consensos com gente que jamais os respeitará – até porque serão sempre contra a sua própria essência. E quanto à esquerda extrema, já que não rezam nem fazem promessas, ao menos que acendam uma velinha pelo facto inestimável de poderem respirar e dizer o que lhes apetece e dá na gana, numa sociedade livre como a nossa.


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