sábado, março 12, 2016

Abditae causae



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E é isto. Depois de ter resistido estoicamente a uma actualização que se anunciava fantástica, mudando-me o “Windows” para a última versão (a versão 10), o meu computador ontem deixou de me passar cartão e resolveu fazer tudo sozinho. Uma forma de masturbação informática para que eu não estava preparado. Qualquer coisa tipo: Ai não me actualizas? Então “wait for it”.

E foi assim que estive cerca de quatro horas sem acesso ao computador. No ecrã surgiu um anúncio enorme dizendo 

O COMPUTADOR VAI REINICIAR-SE VÁRIAS VEZES 
NÃO DESLIGUE 

E, por baixo, um enorme círculo que registava 1%. E ainda, por baixo do 1%, três fases de reinício que, percebi depois, estavam em curso, sendo que a última anunciava NOVAS APLICAÇÕES, o que, de imediato, me causou uma sessão de pânico que tive dificuldade em controlar.

O cenário era magnífico. Tratando-se de “WINDOWS”, aparecia uma janela do tipo de vidraça daquelas antigas mansardas do Bairro Alto por onde penetrava uma luz viva. Tudo em tons de azul. E, milagre das cores, o fundo azul ia passando de azul carregado, céu de verão, a azul clarinho, muito ténue, céu de primavera tímida ou paredes de quarto de bebé-menino, do tempo em que se permitia a diferenciação de género dos bebés. Rosa fofo para as meninas e azul clarinho para os meninos.

Ao fim de cerca de quinze minutos em que permaneci especado perante o monitor, os 1% mantinham-se inalterados… e o teclado deixou de obedecer a fosse o que fosse, sempre que tentei «acabar com aquilo» e permanecer com o Windows antiguinho, de boa memória. Como aquilo não andava nem para trás nem para a frente, fui ver um filme. Um filme de alto coturno, com o inenarrável Adam Sandler, mas como estava de barba e tinha uma mulher bonita que eu não conhecia (e eu estava com sono) fui ficando. Acho que dormi duas horas porque o filme já tinha acabado. Saltei para o computador onde vi que o enorme círculo apresentava agora uns desconsoladores 12%. Senti-me frustrado, impotente e rendido à ditadura informática. Desisti de pensar nestas coisas, fui ao banho, o tempo passou, escanhoei-me meticulosamente, fazendo render o peixe, até que exactamente uma hora e meia depois de acabar o filme do Adam Sandler e da mulher bonita que não cheguei a ir ver quem era, o monitor iluminou-se, o furta-cores de azul aumentou de intensidade e cadência e tchan-tchan-tchan-tchan, o monitor informa-me, com garbo (e quiçá consolado depois de tão longa função masturbatória) de que a actualização estava feita.

Sou agora um digno possuidor de uma versão actualizada do Windows. Juro-vos pelo que há de mais sagrado que ainda não consegui descobrir como chegar a uma infinitesimal parte de tudo o que preciso. Para chegar ao Word, por exemplo, desenvolvi um esforço ciclópico de tentativas até descobrir como abriria um novo documento, como o que estou a fazer agora. Uma operação que me levava um nano-segundo, de olhos fechados. Entretanto, descobri que tenho uma exposição COMPLETAMENTE diferente do ambiente de trabalho, desktop e patatipatatá. O que me faz antever um período dolorosamente longo até «dar» com as coisas de que necessito.

Isto, cada um é para o que nasce. Quando era jovem acabei um curso que, entre outras obscenidades, me ensinava o ciclo evolutivo da Prodenia, por exemplo, um estupor de uma lagarta que dá imenso prejuízo à agricultura, QUASE tanto como o prejuízo que os ecologistas dão ao mundo por acharem que não se deve matar a Prodenia. E questionei-me se eu gostaria mesmo de conhecer em detalhe o ciclo evolutivo do bichinho, para saber a melhor altura para o matar. Quando descobri que nem por isso o assunto me interessava, estudei mais coisas, rumei por outros azimutes até descobrir qualquer coisa que me satisfizesse. Mas esta rapaziada dos computadores, não. Quando lhes dá para deixar os computadores «pensarem», como eles gostam de dizer, está tudo estragado e GOZAM tanto como os próprios computadores. Só que não dizem, mas a gente percebe. Com a agravante de «acharem» que toda a gente tem de amar e «compreender» os computadores como eles amam, compreendem e desculpam. Ao mesmo tempo que sentem uma profunda comiseração pelos mortais estúpidos que tentam furtar-se às actualizações.

Preparado agora para um período de aprendizagem, reparo que este percalço teve uma grande virtude. Por uma vez, não falei do António Costa sorrindo e a falar uma espécie de português (este sim, precisando de uma urgente actualização). O que é, no mínimo, saudável. Bom fim-de-semana para todos.


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3 Comments:

At 1:36 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Como o compreendo caro amigo...

 
At 6:19 da tarde, Anonymous IL disse...

Ao fim deste tempo todo, pensei que estivesses mais agiornammentado, não é assim que se diz? :D

 
At 8:33 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

O Casino Estoril que provocou o maior despedimento colectivo e o maior fado deste drama é juizes serem pagos por offshores e com isto destruírem centenas de famílias tudo para o Sr. egoísta ter razão. substituir trabalhadores por capricho de um administrador que faz negocio com o próprio Casino é de suspeitar a ordem do despedimento colectivo.

 

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