Abditae causae
E é isto. Depois de ter resistido estoicamente a uma
actualização que se anunciava fantástica, mudando-me o “Windows” para a última
versão (a versão 10), o meu computador ontem deixou de me passar cartão e resolveu fazer tudo
sozinho. Uma forma de masturbação informática para que eu não estava preparado.
Qualquer coisa tipo: Ai não me actualizas? Então “wait for it”.
E foi assim que estive cerca de quatro horas sem acesso ao computador.
No ecrã surgiu um anúncio enorme dizendo
O COMPUTADOR VAI REINICIAR-SE VÁRIAS
VEZES
NÃO DESLIGUE
E, por baixo, um enorme círculo que registava 1%. E ainda,
por baixo do 1%, três fases de reinício que, percebi depois, estavam em curso,
sendo que a última anunciava NOVAS APLICAÇÕES, o que, de imediato, me causou
uma sessão de pânico que tive dificuldade em controlar.
O cenário era magnífico. Tratando-se de “WINDOWS”, aparecia
uma janela do tipo de vidraça daquelas antigas mansardas do Bairro Alto por
onde penetrava uma luz viva. Tudo em tons de azul. E, milagre das cores, o
fundo azul ia passando de azul carregado, céu de verão, a azul clarinho, muito
ténue, céu de primavera tímida ou paredes de quarto de bebé-menino, do tempo em
que se permitia a diferenciação de género dos bebés. Rosa fofo para as meninas
e azul clarinho para os meninos.
Ao fim de cerca de quinze minutos em que permaneci especado
perante o monitor, os 1% mantinham-se inalterados… e o teclado deixou de obedecer
a fosse o que fosse, sempre que tentei «acabar com aquilo» e permanecer com o
Windows antiguinho, de boa memória. Como aquilo não andava nem para trás nem
para a frente, fui ver um filme. Um filme de alto coturno, com o inenarrável Adam
Sandler, mas como estava de barba e tinha uma mulher bonita que eu não conhecia
(e eu estava com sono) fui ficando. Acho que dormi duas horas porque o filme já
tinha acabado. Saltei para o computador onde vi que o enorme círculo apresentava
agora uns desconsoladores 12%. Senti-me frustrado, impotente e rendido à ditadura
informática. Desisti de pensar nestas coisas, fui ao banho, o tempo passou,
escanhoei-me meticulosamente, fazendo render o peixe, até que exactamente uma
hora e meia depois de acabar o filme do Adam Sandler e da mulher bonita que não
cheguei a ir ver quem era, o monitor iluminou-se, o furta-cores de azul
aumentou de intensidade e cadência e tchan-tchan-tchan-tchan, o monitor informa-me,
com garbo (e quiçá consolado depois de tão longa função masturbatória) de que a
actualização estava feita.
Sou agora um digno possuidor de uma versão actualizada do
Windows. Juro-vos pelo que há de mais sagrado que ainda não consegui descobrir como
chegar a uma infinitesimal parte de tudo o que preciso. Para chegar ao Word,
por exemplo, desenvolvi um esforço ciclópico de tentativas até descobrir como
abriria um novo documento, como o que estou a fazer agora. Uma operação que me
levava um nano-segundo, de olhos fechados. Entretanto, descobri que tenho uma
exposição COMPLETAMENTE diferente do ambiente de trabalho, desktop e
patatipatatá. O que me faz antever um período dolorosamente longo até «dar» com
as coisas de que necessito.
Isto, cada um é para o que nasce. Quando era jovem acabei um
curso que, entre outras obscenidades, me ensinava o ciclo evolutivo da
Prodenia, por exemplo, um estupor de uma lagarta que dá imenso prejuízo à
agricultura, QUASE tanto como o prejuízo que os ecologistas dão ao mundo por
acharem que não se deve matar a Prodenia. E questionei-me se eu gostaria mesmo
de conhecer em detalhe o ciclo evolutivo do bichinho, para saber a melhor altura
para o matar. Quando descobri que nem por isso o assunto me interessava, estudei
mais coisas, rumei por outros azimutes até descobrir qualquer coisa que me
satisfizesse. Mas esta rapaziada dos computadores, não. Quando lhes dá para
deixar os computadores «pensarem», como eles gostam de dizer, está tudo
estragado e GOZAM tanto como os próprios computadores. Só que não dizem, mas a
gente percebe. Com a agravante de «acharem» que toda a gente tem de amar e
«compreender» os computadores como eles amam, compreendem e desculpam. Ao mesmo
tempo que sentem uma profunda comiseração pelos mortais estúpidos que tentam
furtar-se às actualizações.
Preparado agora para um período de aprendizagem, reparo que
este percalço teve uma grande virtude. Por uma vez, não falei do António Costa
sorrindo e a falar uma espécie de português (este sim, precisando de uma
urgente actualização). O que é, no mínimo, saudável. Bom fim-de-semana para
todos.
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Etiquetas: acutalizações, computadores, disfunção informática
3 Comments:
Como o compreendo caro amigo...
Ao fim deste tempo todo, pensei que estivesses mais agiornammentado, não é assim que se diz? :D
O Casino Estoril que provocou o maior despedimento colectivo e o maior fado deste drama é juizes serem pagos por offshores e com isto destruírem centenas de famílias tudo para o Sr. egoísta ter razão. substituir trabalhadores por capricho de um administrador que faz negocio com o próprio Casino é de suspeitar a ordem do despedimento colectivo.
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