Ao velhinho já não se torce o pepino…
… a menos que sejamos europeus, imbuídos deste convencimento
endémico de que o mundo não só não pode passar sem nós como, sem recalcitrar,
deverá agir, pensar e sentir como nós. Nós que, por qualquer capricho do divino
ou, pensando melhor, por um arremedo perfeccionista do darwinismo que nos
tornou eleitos, temos a responsabilidade de zelar pelo bem-estar da humanidade.
No caso vertente trata-se de alergias. E se aos pepinos
conseguimos torcê-los, de pequeninos, por forma a que eles fossem para o
mercado prontinhos a ser consumidos desde que tivessem todos o mesmo tamanho e se
apresentassem irrepreensivelmente erectos, como se impõe num continente onde o
crescimento demográfico deixa muito a desejar, já os perfumes tinham de ser
igualmente domesticados. Ao ponto de fórmulas quase centenárias, como o lendário Chanel 5, serem agora questionadas sobre o perigo de nos provocarem horrendas alergias
por causa de um tal de citral, uma coisa que existe no limão e na tangerina
que, tanto quanto julgo saber, se consomem às toneladas por esse mundo fora.
Sempre tive horror aos amanuenses encartados. Uns porque não
sabem fazer mais nada e merecem algum desconto. Outros, porque não sabem fazer
mais nada na mesma, mas acham que sabem fazer tudo. E têm a aviltante mania de
acharem que não podemos passar sem eles. E que eles é que têm de nos proteger,
educar, pastorear e, enfim, fazer como que sejamos todos como deve ser. É o socialismo
no seu melhor.
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Etiquetas: brincar com coisas sérias, Europa
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