segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Perdoai-lhes, Senhor


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Tive o privilégio de viver no seio de uma comunidade de pescadores desportivos ( * ). Partíamos do Clube Naval e sabíamos exactamente onde íamos e quando íamos, já que havia lugares e tempos específicos para o atum, para o dorado, o wahoo, o marlin, a barracuda e o veleiro. Curiosamente, o tubarão não fazia parte desta lista. A baleia é o maior animal do mundo, mas o tubarão é o rei dos oceanos. Um pouco à semelhança do que se passa na selva entre o elefante e o leão. Henrique Galvão, um militar que nos intervalos em que assaltava o Santa Maria e outras judiarias, escrevia livros lindíssimos, centrados em África e na sua inigualavel fauna, discordava de mim e dizia no seu «Da Vida e da Morte dos Bichos» que o elefante era o verdadeiro rei da selva e que o leão não passava de um cliché. Com o devido respeito por quem sabia muito mais do que eu de bichos e de selva, discordo. Porque um rei não tem a ver só com o tamanho. Tem a ver com o garbo, pundonor, beleza, harmonia estética e respeito que infunde à sua volta.

Dito isto, está mais ou menos explicado porque é que eu acho que o tubarão é o rei dos oceanos. Vi-os várias vezes e aprendi a respeitá-los e admirá-los. E num período iniciático de «game fishing» apanhei um par deles. Um tubarão cinzento e um tubarão-martelo (este levou-me cerca de duas horas a içar...). À medida que fui percebendo alguns dos códigos de honra dos pescadores desportivos, passei a considerar os «esticões» de tubarões (muito frequentes, aliás) como «acidentes de percurso» e, respeitavelmente, cortava a linha. Ninguém apanhava tubarões e no mar alto acho que isso funcionava como uma acordo de cavalheiros. Os homens não os pescam e eles não os atacam - limitam-se a circular e vão-se embora.

Ver as fotos (subtraídas ao meu amigo Rui Santos) deste Great White apanhado há menos de duas semanas na costa de Inhambane, em Moçambique, provocou-me um profundo desconforto. Sobretudo porque eu sei que os próprios moçambicanos normalmente também não pescam os tubarões. Mas percebi, então, que os chineses pagam verdadeiras fortunas (relativizadas, claro) pelas barbatanas. E o resultado é este. Um magnífico Great White a ser barbaramente amputado, numa praia, antes de ser largado aos caranguejos!

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Mal comparado é como se um tubarão nos atacasse e nos comesse paulatinamente os pés... depois, as mãos...depois, as pernas, os antebraços, as coxas e, no fim, os braços.

Nota: Clicar nas fotos

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