segunda-feira, janeiro 28, 2013

Sticky, thicky, tricky, chilly, greasy and blurry (ish)


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Para quem está familiarizado com viagens aéreas frequentes, o nevoeiro ganha um conceito filosófico. Por vezes voamos confortavelmente a 35.000’, banhados de sol brilhante e radioso e iniciamos a descida para o destino. Com nevoeiro, há aquele período deprimente em que percebemos estar a atravessar uma densa cortina de nuvens e somos invadidos por um assinalável desconforto, mesmo sabendo que o avanço da técnica permitirá aos pilotos aterrar com visibilidade reduzida. Depois, é sair do avião e embrenharmo-nos na atmosfera pegajosa, difusa, espécie de fotografia tremida, fria e que nos penetra o corpo e a alma. Outras vezes, entramos num avião, seatbelts fasten, seats in upright position e aí vamos nós, céu acima, o pássaro metálico furando as quase microscópicas gotículas, furando, subindo, subindo e furando, o ambiente vai-se tornando mais claro, eis que pela janela vemos que estamos passar o «cucuruto» da massa de nevoeiro e o sol se nos oferece, quente e brilhante e nos reconcilia com o mundo.

A idade aumenta-nos a sabedoria e a sabedoria concede-nos um bem inestimável que dá pelo nome de pragmatismo. Se conseguirmos chegar à plenitude do pragmatismo, percebemos que nos dias de denso nevoeiro, o melhor é apanharmos um avião e içarmo-nos ao conforto dos 35.000’. Ou, por oposição, se já lá estamos em cima, o melhor é não aterrar. E deixarmo-nos estar. Não sei como a coisa acaba, porque há detalhes como autonomia de voo e outras esquisitices mas… lá está. O pragmatismo ajuda e vamos pensando que dá para ficarmos lá em cima. Se e quando acabar a gasolina, pois a solução pragmática permanece. É uma questão de aterrarmos. E quando sairmos do avião, enfrentar o cinzento e fingir que a vida é mesmo assim e o nevoeiro faz parte dela.
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2 Comments:

At 8:11 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

Muito bom. Vejo que apesar de ter voado muito, ainda gosta de o fazer. Eu também.

 
At 8:11 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

Muito bom. Vejo que apesar de ter voado muito, ainda gosta de o fazer. Eu também.

 

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