Sticky, thicky, tricky, chilly, greasy and blurry (ish)
Para quem está familiarizado com viagens aéreas frequentes, o
nevoeiro ganha um conceito filosófico. Por vezes voamos confortavelmente a
35.000’, banhados de sol brilhante e radioso e iniciamos a descida para o destino.
Com nevoeiro, há aquele período deprimente em que percebemos estar a atravessar
uma densa cortina de nuvens e somos invadidos por um assinalável desconforto,
mesmo sabendo que o avanço da técnica permitirá aos pilotos aterrar com visibilidade
reduzida. Depois, é sair do avião e embrenharmo-nos na atmosfera pegajosa, difusa,
espécie de fotografia tremida, fria e que nos penetra o corpo e a alma. Outras
vezes, entramos num avião, seatbelts fasten, seats in upright position e aí
vamos nós, céu acima, o pássaro metálico furando as quase microscópicas gotículas, furando, subindo, subindo e furando, o ambiente vai-se
tornando mais claro, eis que pela janela vemos que estamos passar o «cucuruto»
da massa de nevoeiro e o sol se nos oferece, quente e brilhante e nos
reconcilia com o mundo.
A idade aumenta-nos a sabedoria e a sabedoria concede-nos um
bem inestimável que dá pelo nome de pragmatismo. Se conseguirmos chegar à
plenitude do pragmatismo, percebemos que nos dias de denso nevoeiro, o melhor é
apanharmos um avião e içarmo-nos ao conforto dos 35.000’. Ou, por oposição, se
já lá estamos em cima, o melhor é não aterrar. E deixarmo-nos estar. Não sei
como a coisa acaba, porque há detalhes como autonomia de voo e outras esquisitices
mas… lá está. O pragmatismo ajuda e vamos pensando que dá para ficarmos lá
em cima. Se e quando acabar a gasolina, pois a solução pragmática permanece. É
uma questão de aterrarmos. E quando sairmos do avião, enfrentar o cinzento e
fingir que a vida é mesmo assim e o nevoeiro faz parte dela.
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Etiquetas: brincar com coisas sérias, nevoeiro
2 Comments:
Muito bom. Vejo que apesar de ter voado muito, ainda gosta de o fazer. Eu também.
Muito bom. Vejo que apesar de ter voado muito, ainda gosta de o fazer. Eu também.
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