Mexeram na vaca sagrada
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E de repente fez-se luz. A RTP dá lucros e as explicações de peritos encartados despejam uma catadupa de algarismos que ninguém entende, mas de onde releva a palavra lucro (aparentemente um vocábulo de virtude e geometria variáveis, conforme o contexto) mas se escamoteia uma coisa qualquer que dá pelo nome de dívida acumulada de centenas de milhões de euros, vou repetir, centenas de milhões de euros, decorrente de má administração e créditos avalizados pelo Estado. Há ainda o pormenor do ridículo, o Expresso, por exemplo, ir ao cúmulo de fazer um exercício de antecipação e num anteprojecto tipo 3 x 9 = 27 e vão dois, noves fora nada, concluindo que os privados, contando com a contribuição dos cidadãos vão ter um exercício positivo de € 20 milhões. «Ganda Ricardo Costa». Via Blasfémias.
Paralelamente multiplicam-se abaixo assinados e «likes» da RTP2, uma estação que eu duvido que a maioria dos portugueses se lembra que existe. Mas nós continuamos a ter uma espécie de intelectualidade de mansarda parisiense, que é pequena mas tem a força que falta ao português profundo e que é preciso cultivar e daí à multiplicação à náusea de «likes» à RTP 2 foi um passo. Admira-me só a rara referência ao «Acontece», imagem de marca que, aparentemente, os intelectuais têm indesculpavelmente votado ao ostracismo. «Passou-se-lhes», acontece!
Não tenho uma ideia sólida sobre este cenário que foi passado ao público por António Borges. Tenho uma ideia sólida de que foi uma forma inábil e inaceitável, má, sem jeito, a de usar esta forma de comunicar. Mas, para mim, o fundamental é o «bueiro» de euros em que a RTP se tornou e que todos nós sustentámos, as elites amiguistas e seguidistas geradas e alimentadas a salários e honorários milionários e a medíocre qualidade de uma estação que dispõe de modernos e dispendiosos meios de produção. E fica esta imagem peregrina de se querer passar a imagem que o nosso serviço público é o mais barato da Europa. Primeiro, porque é mentira. Segundo, porque comparar a RTP com a BBC, por exemplo é um exercício de pura fantasia e demagogia.
Assim sendo, acabe-se com o forró. E acabe-se ainda com a vaca sagrada dos trabalhadores que poderão ser dispensados. Se os trabalhadores de uma fábrica de sapatos ou de têxteis podem (e são-no, frequentemente, sem ninguém colocar «likes» no FB) ser despedidos, não percebo esta preocupação com os trabalhadores (milhares…) da RTP.
Nota: No meio desta generalizada incompetência e forma relapsa de tratar dos nossos problemas, lembro-me que conviria que alguém se lembre de preservar o valioso espólio da estação. Parece ser do conhecimento geral que o arquivo tem uma importância histórica muito para além do seu valor intrínseco.
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Etiquetas: comunicação social, rtp
2 Comments:
"... a palavra lucro (aparentemente um vocábulo de virtude e geometria variáveis, conforme o contexto)..."
Mt. Bom.
A palavra lucro pronunciada pelo homem da RTP, no contexto do seu exercício de gestão, mas com um sorriso amarelo, diga-se.
Santa ignorância?. Desbragada tentativa de manipulação?.
Triste espetáculo televisivo numa TV "pública".
A esquerda anda frenética e se lhe perguntarem porquê, nem sabem o que dizer. A reacção à venda da RTP é ideológica e patológica porque não se baseia em qualquer argumento credível mas apenas em matéria de ideologia. O que é pouco sério e só tem a ver com a velha máxima de que os socialistas são óptimos a usar o dinheiro, desde que seja o dos outros!!!
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