Chapeau
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«Ontem li na revista suplementar do Expresso uma reportagem sobre uns meninos e umas meninas com dezoito anos. A "ideia" era retratá-los "sociologicamente" (o que em linguagem de jornal quer dizer superficialmente) no "contexto" do país: o que andam a estudar, a família, a política, as ambições, o sexo. Estes ainda não fazem parte da mitológica "geração mais bem preparada de sempre" mas é para isso que querem caminhar e, muito patrioticamente, de preferência daqui para fora. Na capa vinha um rapaz politicamente correcto, algures "entre o PS e PSD", em metonímia saltitante de jogador de basquetebol, filho de pais separados (são praticamente todos os entrevistados), praticante de sexo com preservativo e que ambiciona casar e ter filhos. Na mochila carrega Maquiavel e estuda (o que é que ele havia de estudar?) direito. Depois há um "beto" de Cascais, silencioso em matéria sexual, mas muito interessado no "empreendedorismo" e na sua "scooter". Ou um outro do interior que queria ser modelo e umas raparigas mais dadas a preocupações sociais e "artísticas". Embirro com esta monomania de apresentar a geração mais nova como "especial". A minha, para não ir mais longe, está hoje nas empresas, nas universidades, nas magistraturas, na função pública e no governo. Não é nem foi mais nem menos "especial" do que qualquer outra e, perdoem-me a vaidade, foi seguramente muito mais bem apetrechada na escola, da primária ao ensino superior, do que jamais poderá alguma vez vir a ser a "geração Bolonha", tão vitimada pelo desemprego como casais de 40 ou 50 anos de idade, necessariamente menos mediáticos, mais feios e com menos hipóteses no "terreno" que os primeiros. A única coisa que se pode "invejar" a esta gente é a juventude mas, sobre isso, a estética literária e o fast food social, cultural e sexual já disseram o que tinham a dizer. Mas como dizia a Magnani, não me tirem as minhas belas rugas que tanto trabalho deram a arranjar».
João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos
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«Ontem li na revista suplementar do Expresso uma reportagem sobre uns meninos e umas meninas com dezoito anos. A "ideia" era retratá-los "sociologicamente" (o que em linguagem de jornal quer dizer superficialmente) no "contexto" do país: o que andam a estudar, a família, a política, as ambições, o sexo. Estes ainda não fazem parte da mitológica "geração mais bem preparada de sempre" mas é para isso que querem caminhar e, muito patrioticamente, de preferência daqui para fora. Na capa vinha um rapaz politicamente correcto, algures "entre o PS e PSD", em metonímia saltitante de jogador de basquetebol, filho de pais separados (são praticamente todos os entrevistados), praticante de sexo com preservativo e que ambiciona casar e ter filhos. Na mochila carrega Maquiavel e estuda (o que é que ele havia de estudar?) direito. Depois há um "beto" de Cascais, silencioso em matéria sexual, mas muito interessado no "empreendedorismo" e na sua "scooter". Ou um outro do interior que queria ser modelo e umas raparigas mais dadas a preocupações sociais e "artísticas". Embirro com esta monomania de apresentar a geração mais nova como "especial". A minha, para não ir mais longe, está hoje nas empresas, nas universidades, nas magistraturas, na função pública e no governo. Não é nem foi mais nem menos "especial" do que qualquer outra e, perdoem-me a vaidade, foi seguramente muito mais bem apetrechada na escola, da primária ao ensino superior, do que jamais poderá alguma vez vir a ser a "geração Bolonha", tão vitimada pelo desemprego como casais de 40 ou 50 anos de idade, necessariamente menos mediáticos, mais feios e com menos hipóteses no "terreno" que os primeiros. A única coisa que se pode "invejar" a esta gente é a juventude mas, sobre isso, a estética literária e o fast food social, cultural e sexual já disseram o que tinham a dizer. Mas como dizia a Magnani, não me tirem as minhas belas rugas que tanto trabalho deram a arranjar».
João Gonçalves, Portugal dos Pequeninos
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Etiquetas: blogosfera
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