Congratular-me com quê?
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O Partido Comunista Português fez noventa anos. A coisa tem passado mais ou menos despercebida e não fora uma ou outra alusão avulsa ao acontecimento na comunicação social, arriscava-se mesmo a passar como o vento. Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, referiu-se à efeméride naquele estilo de sim, não, talvez, pode, não pode, trocado por miúdos, ele está nos antípodas da doutrina do Partido mas acha que lhe devemos muito, trocado por mais miúdos ainda, não prestam mas prestaram um grande serviço ao país, ao povo, à liberdade e à democracia, emprestando, enfim, aquela filigrana estética que terão dito a Marcelo que ele manejava como poucos e o resultado é o que frequentemente se vê nos seus comentários políticos. É uma maneira de estar bem com Deus e com o diabo.
Por mim, mesmo com o risco não calculado de me chamarem nomes, sinto que nada devo ao PCP. Pelo contrário. Antes de tudo, não partilho a ideia de que a Nação e a liberdade lhe devem seja o que for, pela convicção firme que tenho de que o Partido não lutava por isso mas apenas pela sua implantação no espectro político português, após o que geneticamente tomaria o poder e transformaria o país naquilo que toda a gente sabe ou deveria saber. Não era, assim, uma luta pela liberdade mas antes uma luta por um objectivo bem definido e claramente enquadrado em estratégias gizadas ao milímetro. Com o desenvolvimento do processo revolucionário, o Partido foi gradualmente ganhando consistência, muito por força do romantismo dos seus simpatizantes e pela férrea disciplina e proselitismo a que os seus membros eram sujeitos, não sendo mesmo excluídos o ostracismo violento, os misteriosos desaparecimentos e os assassínios. O culto da personalidade, um dos baluartes do sistema foi ganhando forma também e se as dificuldades criadas pela recém-conquistada liberdade (o paradoxo de os comunistas se movimentarem sempre melhor na clandestinidade do que na transparência dos processos livres) lhe tolhiam movimentos e limitavam o discernimento, por outro lado justificavam um apuro estratégico na emulação desse culto como pedra angular na construção de figuras intocáveis no presente e perpetuáveis na memória futura.
A necessidade de o Partido Comunista Português se enquadrar no regime democrático, condição absoluta para ser aceite no jogo político, fez com que aceitasse as regras do parlamentarismo e participasse no jogo colegial, mesmo que a contra-gosto, já que eram práticas exóticas à sua essência. Neste quadro, o Partido procurou e conseguiu com êxito estabelecer uma rede de influências através do qual pôde (e continua a poder) controlar aspectos fundamentais da nossa vida colectiva, como o trabalho, o ensino, a saúde, a justiça e o estabelecimento de novos paradigmas sociais, com destaque para o ataque continuado à religião católica, instituição familiar e mesmo quando alguns objectivos não se coadunavam com a sua doutrina (o comunismo não tolera a homossexualidade, por exemplo) não hesitou em fazer vista grossa sempre que isso constituía uma via segura para alcançar a destruição dos valores tradicionais da sociedade portuguesa, facilitando um caldo de cultura mais propício aos seus objectivos.
Pelo caminho, o Partido Comunista Português destruiu a economia, conseguiu o estabelecimento de um dos mais rígidos regimes laborais da Europa, contribuindo, assim, para o crescimento do desemprego e empobrecimento das pessoas, condicionou criminosamente o processo de descolonização dos territórios africanos atirando milhares de portugueses para a morte ou para um penoso recomeço de vida e milhões de africanos para a guerra civil, promoveu e alimentou um permanente estado de guerrilha entre várias instituições e o Estado, não por qualquer objectivo especial mas tão somente porque a guerrilha servia (e serve) os seus propósitos, alimentou ódios, conseguiu instilar nos trabalhadores a ideia de que os empresários são «o inimigo» a abater, os vilões, os capitalistas detentores do grande capital, a burguesia maldita e causadora de todos os males, escondendo, porém a grande verdade de que eram esses «malfeitores» que iam gerando empregos e segurança, ao contrário do Estado totalitário que o Partido defende que em nenhum país do mundo, repito, nenhum, conseguiu estabelecer um quadro social decente para os seus cidadãos e, muito menos, capaz, de suprir as suas necessidades básicas, com excepção dos seus dirigentes.
Não vejo bem o que é que o Partido Comunista Português me possa trazer que sirva para me congratular com os seus noventa anos. Lutou por ele próprio, não por mim, estabeleceu as suas vias de obtenção de objectivos, roubou bancos, matou, raptou, prendeu, torturou, denunciou, exilou, rendeu-se ao internacionalismo proletário, contribuiu objectivamente para o atraso de gentes simples e bem intencionadas, promoveu e mantém alianças com terroristas sanguinários, proclamou as virtudes de sociedades «livres» como a Coreia do Norte, contribuiu para o saneamento de quadros de empresas, jornalistas, técnicos, poetas, pensadores, professores e todos aqueles que não quisessem ser «livres» como os seus acólitos, fez alianças com outros países para guarida e segurança de assassinos, como no caso dos FP-25, colaborou no indulto de crimes de sangue a que chamaram de natureza política, prestou-se ao encobrimento e cumplicidade em matérias de legalidade duvidosa ou de ilegalidades sem dúvida nenhuma e permanece, por via dos seus «galarós» da liberdade, debitando prosa na Assembleia da República.
Assim sendo, congratular-me com quê?
O Partido Comunista Português fez noventa anos. A coisa tem passado mais ou menos despercebida e não fora uma ou outra alusão avulsa ao acontecimento na comunicação social, arriscava-se mesmo a passar como o vento. Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, referiu-se à efeméride naquele estilo de sim, não, talvez, pode, não pode, trocado por miúdos, ele está nos antípodas da doutrina do Partido mas acha que lhe devemos muito, trocado por mais miúdos ainda, não prestam mas prestaram um grande serviço ao país, ao povo, à liberdade e à democracia, emprestando, enfim, aquela filigrana estética que terão dito a Marcelo que ele manejava como poucos e o resultado é o que frequentemente se vê nos seus comentários políticos. É uma maneira de estar bem com Deus e com o diabo.
Por mim, mesmo com o risco não calculado de me chamarem nomes, sinto que nada devo ao PCP. Pelo contrário. Antes de tudo, não partilho a ideia de que a Nação e a liberdade lhe devem seja o que for, pela convicção firme que tenho de que o Partido não lutava por isso mas apenas pela sua implantação no espectro político português, após o que geneticamente tomaria o poder e transformaria o país naquilo que toda a gente sabe ou deveria saber. Não era, assim, uma luta pela liberdade mas antes uma luta por um objectivo bem definido e claramente enquadrado em estratégias gizadas ao milímetro. Com o desenvolvimento do processo revolucionário, o Partido foi gradualmente ganhando consistência, muito por força do romantismo dos seus simpatizantes e pela férrea disciplina e proselitismo a que os seus membros eram sujeitos, não sendo mesmo excluídos o ostracismo violento, os misteriosos desaparecimentos e os assassínios. O culto da personalidade, um dos baluartes do sistema foi ganhando forma também e se as dificuldades criadas pela recém-conquistada liberdade (o paradoxo de os comunistas se movimentarem sempre melhor na clandestinidade do que na transparência dos processos livres) lhe tolhiam movimentos e limitavam o discernimento, por outro lado justificavam um apuro estratégico na emulação desse culto como pedra angular na construção de figuras intocáveis no presente e perpetuáveis na memória futura.
A necessidade de o Partido Comunista Português se enquadrar no regime democrático, condição absoluta para ser aceite no jogo político, fez com que aceitasse as regras do parlamentarismo e participasse no jogo colegial, mesmo que a contra-gosto, já que eram práticas exóticas à sua essência. Neste quadro, o Partido procurou e conseguiu com êxito estabelecer uma rede de influências através do qual pôde (e continua a poder) controlar aspectos fundamentais da nossa vida colectiva, como o trabalho, o ensino, a saúde, a justiça e o estabelecimento de novos paradigmas sociais, com destaque para o ataque continuado à religião católica, instituição familiar e mesmo quando alguns objectivos não se coadunavam com a sua doutrina (o comunismo não tolera a homossexualidade, por exemplo) não hesitou em fazer vista grossa sempre que isso constituía uma via segura para alcançar a destruição dos valores tradicionais da sociedade portuguesa, facilitando um caldo de cultura mais propício aos seus objectivos.
Pelo caminho, o Partido Comunista Português destruiu a economia, conseguiu o estabelecimento de um dos mais rígidos regimes laborais da Europa, contribuindo, assim, para o crescimento do desemprego e empobrecimento das pessoas, condicionou criminosamente o processo de descolonização dos territórios africanos atirando milhares de portugueses para a morte ou para um penoso recomeço de vida e milhões de africanos para a guerra civil, promoveu e alimentou um permanente estado de guerrilha entre várias instituições e o Estado, não por qualquer objectivo especial mas tão somente porque a guerrilha servia (e serve) os seus propósitos, alimentou ódios, conseguiu instilar nos trabalhadores a ideia de que os empresários são «o inimigo» a abater, os vilões, os capitalistas detentores do grande capital, a burguesia maldita e causadora de todos os males, escondendo, porém a grande verdade de que eram esses «malfeitores» que iam gerando empregos e segurança, ao contrário do Estado totalitário que o Partido defende que em nenhum país do mundo, repito, nenhum, conseguiu estabelecer um quadro social decente para os seus cidadãos e, muito menos, capaz, de suprir as suas necessidades básicas, com excepção dos seus dirigentes.
Não vejo bem o que é que o Partido Comunista Português me possa trazer que sirva para me congratular com os seus noventa anos. Lutou por ele próprio, não por mim, estabeleceu as suas vias de obtenção de objectivos, roubou bancos, matou, raptou, prendeu, torturou, denunciou, exilou, rendeu-se ao internacionalismo proletário, contribuiu objectivamente para o atraso de gentes simples e bem intencionadas, promoveu e mantém alianças com terroristas sanguinários, proclamou as virtudes de sociedades «livres» como a Coreia do Norte, contribuiu para o saneamento de quadros de empresas, jornalistas, técnicos, poetas, pensadores, professores e todos aqueles que não quisessem ser «livres» como os seus acólitos, fez alianças com outros países para guarida e segurança de assassinos, como no caso dos FP-25, colaborou no indulto de crimes de sangue a que chamaram de natureza política, prestou-se ao encobrimento e cumplicidade em matérias de legalidade duvidosa ou de ilegalidades sem dúvida nenhuma e permanece, por via dos seus «galarós» da liberdade, debitando prosa na Assembleia da República.
Assim sendo, congratular-me com quê?
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Etiquetas: A força do PC, comunistas
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