sábado, fevereiro 19, 2011

Gerações, geracional...















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Muito genuinamente afirmo que tenho vivido à revelia do conceito institucionalizado das gerações. Ou andei distraído ou sempre pautei a minha conduta cívica, ética e humana por valores que pouco teriam a ver com a idade que tinha. E já fui infante, adolescente, jovem adulto, adulto maduro e, se Deus Nosso Senhor me der saúde e dinheiro para gastos, um dia destes serei velho. Lidei com jovens, trabalhei com velhos, brinquei com crianças, conversei com muita gente sem nunca curar de adaptar o meu discurso à idade dos meus interlocutores.

De repente, algo mudou. Uma banda sofrível compõe uma musiqueta medíocre e apõe-lhe uma letra a resvalar para o mau e as gerações excitam-se com a força genuina da «geração parva». A comunicação social excita-se, as plateias estremecem e as correntes politicas descobrem e apropriam-se de verdades incontornáveis e dramas intensos à volta da problemática das gerações. Transformam mesmo a cançoneta dos Deolinda em «hino». A reacção massiva (psicologia de massas) faz o resto e os Deolinda vêem-se alcandorados ao pico da fama e a ganhar uns cobres inesperados. E a problemática das gerações ganha um lugar que sempre teve mas que é ciclicamente renovado, ou mesmo reciclado, de acordo com as idiossincrasias da época. Os jovens acham que os velhos não entendem, os velhos acham que os jovens não sabem e condiciona-se, assim, um desejável terreno de diálogo e coexistência em face das certezas de cada qual e cava-se um fosso frequentemente difícil de superar.

Por mim acho que nada disto é muito novo, que atravessei gerações tão diversas como a de Maio de 68, a dos Yuppies, a «rasca» do Vicente Jorge Silva, entre outras, pelo que a actual «geração parva» não me suscita uma excitação muito especial. Mas isso não é caso para que os parvos me achem, desdenhosamente, bota de elástico ou que eu ache, condescendente, os jovens demasiadamente parvos. É a vida, lá diria um representante da minha geração e que hoje não deve andar muito preocupado com o «hino» dos Deolinda.
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1 Comments:

At 2:09 da tarde, Blogger Nada de novo na frente ocidental disse...

Na temática das gerações e dos dramas, em geral e ciclicamente exagerados, que sempre se criaram, ou reciclaram, estou inteiramente de acordo consigo. Ao que aponho um pensamento simples, que gosto de fazer também meu, de nunca designar o passado como ' o tempo', pelo que isso representa, para mim, de desistência e resignação, quando, afinal, o nosso tempo é todo. Todo o que formos capazes, ou a nossa genética e condições físicas e mentais, nos fizer capazes de viver. Mas, concordando ainda com a mediania da composição e até do grupo musical, se algum mérito se lhes pode outorgar, parece-me que tem a ver com a quase fatalidade do futuro, para 'os parvos' e os outros, antes e depois, um futuro já hoje muito comprometido, por excessos e desajustamentos. Excessos e desequilíbrios, na formação, que a sociedade e a economia não será, provavelmente capaz de absorver. Um futuro que, estou quase certo, mas não totalmente ainda, vir a ser mais degradado, mais inseguro, e, principalmente menos 'abastado'. Piores vencimentos não são certos, mas piores reformas, graças a Vieira da Silva, o actual mal entronado 'responsável pela reforma da segurança social'. Futuro pior, para que os da geração de Soares, e os actuais da de Sócrates tenham podido abusar, de recursos, ainda por cima importados, e não por cá gerados. Isso é o que me lembra e toca, por já há muito ser o que penso, nesta tal canção, que provavelmente não merece a fama que granjeou.

 

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