quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Sexo fraco???


[4055]

Saí do pequeno shopping onde me levara uma pequena tarefa, caminhei a centena de metros que me separava do carro estacionado num pequeno largo com um sinal de estacionamento interdito, excepto a moradores e onde toda a gente estaciona as viaturas, menos os moradores, claro, que quando lá chegam deparam com o largo cheio, fiz uma pequena manobra de inversão de marcha e segui caminho. Mais uma centena de metros e deparo com o semáforo no vermelho. Obediente e cívico, parei.

De repente, o dilúvio, a praga do Egipto. O caos. No remanso do anoitecer e a música de fundo baixinho, sou sobressaltado com tremendas pancadas no vidro do meu lado, pum pum pum pum, vigorosa e repetidamente. Olhei, ainda assustado com o verdadeiro tropel e deparei com uma mulher de pequena estatura, muito loura, de olhos faiscantes e dedo em riste, que vocifera na minha direcção:

- Sua besta cavalar. Eu vou chamar a polícia.

Tentando perceber o que se passava, ainda balbuciei um tímido (mesmo assim, temerário, face à perigosidade clara do momento) «tenha calma minha senhora, o que se passa

- O que se passa? Eu vi-o EU VI. O senhor bateu no meu carro. O senhor amolgou-me a porta e vai a fugir. Eu vou chamar a polícia.

Este é o momento em que a senhora de estatura meã, loura e de olhos faiscantes, rodopia, literalmente, sobre o seu eixo de gravidade por duas vezes e repete:

- O senhor bateu no meu carro. O senhor bateu-me na porta. Eu chamo a polícia.

Reposta a calma interior e arrumada a adrenalina, saí do carro e aventurei um novo «tenha calma, diga-me exactamente o que se passou».

É aqui que fico a saber que tinha batido no carro da loura meã de olhos faiscantes. Diz ela que não estava lá, mas estava a sair do shopping e viu perfeitamente a manobra que eu tinha feito para retirar o carro do estacionamento. Que chegou ao carro, viu a porta amolgada e «só podia ter sido eu». Porque o carro ainda agora tinha saído da oficina. Porque um vagabundo ordinário, um mostrengo malcriado tinha batido no carro e ainda tinha sido agressivo para a filha. Porque estava farta de homens malcriados que batiam nos carros das mulheres e fugiam sem nada dizer. Porque…e por aí fora. Fui insultado, vilipendiado, vítima inocente das malfeitorias infligidas àquela senhora loura, até bonitinha… mas feia de tanto ódio que destilava e com os olhos ainda lançando chispas, até conseguir, pouco a pouco, etapa a etapa, dizer-lhe que eu não era grosseiro, não tinha o hábito de andar a bater nos carros de senhoras, muito menos nos carros de filhas de senhoras e, coisa inimaginável,não costumava brincar ao «toca-e-foge».

Amainada a «beast» e já em «mode» de transição para «beauty», lá passámos à verificação dos estragos que ela tinha dito que eu tinha ocasionado. Após algumas diligências, descobrimos então um risco (!!!) e, ceguinho eu seja destes que a terra há-de comer, com não mais de uns dez centímetros.

-Está aqui. Olhe. Vê?

Eu disse que sim, que via, com dificuldade, mas via e que, se alguma consolação lhe pudesse levar eu devia ter uns quatro ou cinco riscos daqueles no meu carro…

O resto da história é irrelevante. Acabei por me encontrar com a senhora em Murches… na companhia de seguros… porque a comadre dela trabalhava lá… e faria o favor de esperar por nós… e faria o preenchimento da declaração amigável. Ainda arrisquei um tímido «mas… uma declaração amigável por causa de um risco de dez centímetros?» Mas achei melhor não despertar a fera adormecida, entretanto, com alguma habilidade que me fez imaginar num circo, brandindo um chicote perante uma dúzia de leões ferozes.

E tudo acabou em bem, com risadinhas no escritório dos seguros e a comadre da senhora loura de estatura meã e olhos chispantes a rir, dizendo que a comadre «era assim», que «só quem não a conhecesse»… isto quando ela perguntou no preenchimento da declaração. Feridos? Não houve, claro e eu disse:

- Não houve, mas ia havendo.

Aí a senhora loura, meã e chispante acabou por deixar cair o ar guerreiro e passou a dar risadinhas de dez em dez segundos.

Voltei para casa, pensando no sexo fraco. Murros no vidro? Besta cavalar? Polícia? E para quê, se pouco depois a vulnerabilidade inata do gineceu veio ao de cima com uma vulgar ponta de humor quando eu disse que não houve feridos, mas ia havendo?

Só falta dizer que eu juro, pelo que há de mais sagrado, que não senti o menor encosto no carro… ainda agora estou convencido que nem toquei no carro da senhora loura, meã de olhos chispantes.

Deus nos livre da força do sexo fraco…

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8 Comments:

At 3:53 da tarde, Blogger Dulce Braga disse...

..."a vulnerabilidade inata do gineceu"...ah este androceu!...um dia ainda apanha de verdade de um gineceu acabado de sair de uma academia de defesa pesoal e depois escreve um post dizendo que só pode ter sido de um androceu travestido!:)*

 
At 5:31 da tarde, Anonymous IL disse...

Estou com a Dulce. Kéké isso da vulnerabilidade inata do gineceu?!!!! :D

IL

 
At 10:04 da tarde, Blogger estouparaaquivirada disse...

Era LOURA!!!
xx

 
At 10:57 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

as mulheres assumem uma postura belicosa porque na maior parte dos casos são mal tratadas por condutores energúmenos...
J.D.

 
At 12:31 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Dulce Braga

Que os há, ó se há :)) Achei graça foi que este comentário quase ia espoletando uma cadeia reactiva em defesa da honra dos carpelos (mai-los seus belicosos estigmas estiletes e ovários, contra a pesporrência dos estames, ciosos dos seus antera, conectivo e filete (tudo nomes a puxar para que o androceu tenha peças bem definidas)
:)*

 
At 12:32 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

IL

O comentário que fiz à Dulce é, no todo ou mesmo em partes :))))) bem aplicado em ti :))

 
At 12:33 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

papoila

Era, sim senhor. Loura e meã :) E chispava

 
At 12:33 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

J.D.

Até entendo... mas que culpa tenho eu que haja energúmenos? :))

 

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