domingo, fevereiro 13, 2011

O conforto de ler coisas boas, com as ideias em ordem (2)

[4061]

«Custa a compreender como qualquer pessoa com QI acima de 50 pode votar ou apoiar o Bloco de Esquerda. O Bloco foi um produto da televisão. Tinha quatro ou cinco caras bem falantes e não tinha mais nada. Era suposto ser uma aliança do radicalismo que ficava para além (ou para aquém?) do PC ou, por outras palavras, de trotskistas e de leninistas. Mas Trotsky, o único verdadeiro intelectual e o único verdadeiro escritor do bolchevismo (basta ler A Revolução Russa e A Minha Vida) com certeza que os desprezaria. E Lenine, um primitivo e um terrorista, se não os matasse logo, também não os levaria a sério. Aquelas criaturas que por ali andavam traziam por toda a bagagem ideológica e programática a sua raiva ao PC, que não os queria, e ao PS, que não precisava deles. Ao princípio, o Bloco ainda trouxe ao Parlamento algumas causas, as "questões fracturantes", que, embora por si não chegassem para fazer um partido, eram meritórias e profícuas. Principalmente, porque, nesse capítulo, o catolicismo militante de Guterres deixara o PS paralisado e mudo. Só que Sócrates, para quem a Igreja não contava, tornou desnecessária a retórica de Louçã, resolvendo ele o que havia para resolver. E o Bloco, de repente vazio e sem destino, sem organização e sem dinheiro, resolveu concorrer com o PC, como autêntico representante dos "trabalhadores". Não percebeu, porque pouco percebe, que existe em Portugal uma velha e forte cultura comunista, em que ele não podia penetrar e que, de facto, não penetrou. Subsiste agora num limbo de irrelevância e de frustração. Mas, por isso mesmo, se começou a agitar como um desesperado, ou como um louco.Primeiro veio a campanha de Alegre, uma jornada sentimental absurda, que previsivelmente acabou num vexame. E, depois, quinta-feira, foi o melodrama da moção de censura, que a direita, se não endoideceu (o que não é garantido), rejeitará; e que o próprio Louçã declarara na véspera "sem utilidade prática". Não vale a pena discutir os meandros tácticos desta fantochada.Vale a pena constatar que o Bloco de Esquerda não hesita em comprometer a vida ao país, com o fim faccioso e estúpido de embaraçar o PC, até quando o exercício manifestamente beneficia e fortalece Sócrates. Raras vezes se viu na política portuguesa um espectáculo tão triste.

Vasco Pulido Valente no Público, sem link
.

Etiquetas: ,

3 Comments:

At 6:15 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

Julgo que espectáculos tristes nos vêm sendo dados, pelo Dr. Louçã, há muito tempo...Pena tenho eu que os intelectuais blasés, muitos deles veneradores de VPV, tenham embarcado no mesmo barco. Estão a acordar.

 
At 12:34 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Margarida CF

Não estou bem certo que os intelectuais blasés estejam a acordar. Pode ser até que nunca tenham adormecido e que tenham a consciência exacta do logro e da fraude que é o BE. Mas a vaidade, polvilhada de um tremendo complexo de intelectualidade assente em ideologia de esferovite, impede-os de parar de «jiboiar» neste caldo de cultura :))))

 
At 5:54 da tarde, Blogger MargaridaCF disse...

gosto do "complexo de intelectualidade" e da "ideologia de esferovite"...eheh

 

Enviar um comentário

<< Home