sábado, novembro 22, 2008

Esquerdas

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A pequena burguesia radical não é uma invenção do léxico marxista. Existe. É uma realidade social. Os seus representantes políticos, dizem-se arautos de uma sociedade igualitária, mas reservam para si o direito de decidir quem é que será igual a quem. Não confiam em eleições, nem na vontade popular. A particularidade que melhor os caracteriza é a recusa em assumirem a sua condição de classe. Daí, o terem desenvolvido uma estranha obsessão por se fazerem passar por representantes da classe operária ou do povo trabalhador, conforme as circunstâncias e as conveniências. Não têm um projecto de sociedade. Por isso, parasitam: quando conseguem tomar o poder, mais cedo ou mais tarde, acabam a copiar o modelo dos verdadeiros representantes da classe operária. Fundam partidos comunistas e arvoram-se em herdeiros da Revolução de Outubro. Há dois exemplos, um mais antigo, outro mais recente, de tomada do poder pela pequena burguesia radical: em Cuba, com Fidel Castro, e na Venezuela, com Hugo Chávez.
Em Portugal, a luta pela liderança da «revolução» entre a pequena burguesia radical e a classe operária tem, desde a fundação do Partido Comunista, no início dos anos 20 do século passado, três etapas: a primeira, foi travada no interior do Partido Comunista até aos anos 60 (excepção feita a correntes residuais, anarco-sindicalistas ou trotskistas, que actuavam fora do PCP). A luta entre as duas linhas, os desvios de esquerda e de direita na história do PCP, e outras coisas do género são o reflexo dessa obsessão da pequena burguesia radical em querer dirigir o «processo revolucionário». A segunda etapa, tem início em meados dos anos 60. Sobretudo, entre os finais dos anos 60 e a primeira metade dos anos 70, quando a pequena burguesia radical travou o seu primeiro combate pela hegemonia do «movimento operário e popular» fora do Partido Comunista. Foi a altura em que, inspirados pela cisão do movimento comunista internacional, a pequena burguesia radical, a partir do movimento estudantil, procurou constituir um outro Partido Comunista, o verdadeiro, que substituísse o partido da classe operária. Provocaram alguns danos ao partido da classe operária, sobretudo em 74/75, mas a pequena burguesia radical de fachada socialista perdeu a contenda. Ainda apresentou publicamente simulacros de partidos comunistas: o PCTP/MRPP, o PCP (m-l) ou PCP (Reconstruído), mas a coisa não pegou. Depois de muitas «reflexões» e muitos desaires, em meados dos anos 90, encapotaram as vaidades pessoais, próprias da «classe», e iniciaram uma nova etapa, a terceira, de luta pela liderança da «revolução»: juntaram-se todos numa caldeirada explosiva: os que estavam dentro do partido da classe operária, mas que perceberam que aí o espaço de manobra para a pequena burguesia radical desaparecera, os que fundaram partidos comunistas alternativos, com Estaline entre os cinco violinos, os velhos trotskistas, gente dispersa e sem paradeiro certo.
Hoje, disputam ao PCP, a liderança da «revolução», no terreno da «democracia parlamentar».
Continuam, como sempre, sem modelo de sociedade. Ora se acham apenas «socialistas de esquerda», – o desvio de direita – ora se acham únicos herdeiros de todas as tradições revolucionárias da humanidade, desde a guilhotina até ao gulag – desvio de esquerda. Medeiam entre a impaciência e castração. A pequena burguesia radical é assim: revolucion
ariamente pequeno-burguesa, apesar de se terem em alta consideração.

Um post notável do Tomás Vasques no Hoje há conquilhas
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