A tal saudade
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Não conheço pessoalmente o Miguel Castelo Branco, mas sei do que ele fala. Porque também eu, por opção, me libertei da Europa quando precisei dela e ela me fez caretas que desagradaram profundamente e me fizeram repudiá-la. Como ele, olhava de soslaio o que o Expresso e os jornais desportivos me mostravam, fresquinhos de quarenta e oito horas e não lia os blogues porque ainda não os havia. E julgava que me ia esquecendo dos cheiros de Lisboa, do ministro das colheitas, do reposteiro-mor e preboste que comanda a guarda e, realmente, tudo estava longe do coração e dos olhos. Saía do trabalho e entrava nos restaurantes para comer camarões, caranguejos, caris de muitas cores e sabores, matapas e galinhas assadas ou a nadar em molhos esquisitos com amendoim e gengibre, ou inhames e quiabos e nada de bacalhaus com batatas nem pão de côdea rija e o vinho raramente era português. Voltava a casa e, como ele, mergulhava na tepidez duma piscina e respirava em trinta graus.
Curiosamente nunca me esqueci daquilo que eu julgava que queria esquecer. Percebi-o quando me instalei em definitivo em Lisboa e reparei que os tais cheiros, carrancas crispadas e maus modos e tudo aquilo que na altura me fez saltar borda fora me era estranhamente familiar. E como essa pequenez e mesquinha atmosferazinha do português se diluía num sentimento de pertença que vez alguma eu sentira enquanto andei pelos tais trinta graus e exotismo tropicais.
A minha impressão é que Miguel Castelo Branco não quer e, provavelmente, não repara, mas está roidinho de saudades. É um dos insondáveis mistérios destes pouco menos que 90.000 km2.
Não conheço pessoalmente o Miguel Castelo Branco, mas sei do que ele fala. Porque também eu, por opção, me libertei da Europa quando precisei dela e ela me fez caretas que desagradaram profundamente e me fizeram repudiá-la. Como ele, olhava de soslaio o que o Expresso e os jornais desportivos me mostravam, fresquinhos de quarenta e oito horas e não lia os blogues porque ainda não os havia. E julgava que me ia esquecendo dos cheiros de Lisboa, do ministro das colheitas, do reposteiro-mor e preboste que comanda a guarda e, realmente, tudo estava longe do coração e dos olhos. Saía do trabalho e entrava nos restaurantes para comer camarões, caranguejos, caris de muitas cores e sabores, matapas e galinhas assadas ou a nadar em molhos esquisitos com amendoim e gengibre, ou inhames e quiabos e nada de bacalhaus com batatas nem pão de côdea rija e o vinho raramente era português. Voltava a casa e, como ele, mergulhava na tepidez duma piscina e respirava em trinta graus.
Curiosamente nunca me esqueci daquilo que eu julgava que queria esquecer. Percebi-o quando me instalei em definitivo em Lisboa e reparei que os tais cheiros, carrancas crispadas e maus modos e tudo aquilo que na altura me fez saltar borda fora me era estranhamente familiar. E como essa pequenez e mesquinha atmosferazinha do português se diluía num sentimento de pertença que vez alguma eu sentira enquanto andei pelos tais trinta graus e exotismo tropicais.
A minha impressão é que Miguel Castelo Branco não quer e, provavelmente, não repara, mas está roidinho de saudades. É um dos insondáveis mistérios destes pouco menos que 90.000 km2.
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Etiquetas: Ai Portugal, bloggers, saudade
2 Comments:
Que belíssimo post! Estou consigo, as saudades falam línguas estranhas.
Joana
joana
Concordo em absoluto. Acho graça que a Miss Pearls também teve a mesma percepção que eu tive e fez um post com um vídeo sobre Lisboa.
Obrigado pelo cumprimento.
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