Namorar nos parques...

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"...fujam dos centros comerciais e levem os vossos filhos aos jardins, namorem nos bancos dos parques..."

Eu bem que tentei. A Rititi tem razão e demonstra exactamente o mesmo tipo de sentimento que eu experimentava quando vivia fora de Portugal. Mas, como dizia, eu tentei, pelo menos na parte deste parágrafo que transcrevi. Dos centros comerciais não precisei de fugir porque há dois anos que não vou a nenhum. Pensei então em levar os meus filhos ao jardim, mas só me resta uma por perto e preferiu sair com o namorado, o que acho saudável e me encheu o ego já que sempre aspirei ter filhos parecidos comigo e era o que me faltava se eu, aos 22 anos, trocasse a namorada por uma saída ao Jardim da Estrela com os meus pais. Restou-me tentar ir namorar nos bancos dos parques. Fui ao Eduardo VII mas só vi machos e não me deu muito jeito, fui ao Jardim da Estrela, vi mulheres, é certo, mas tentei namorar com uma e levei uma estalada. Tive de me ficar pelo Jardim de Santo Amaro, do Abrupto, muito mais sossegado e onde pouco acontece mas onde o tempo passa continuamente.

Por isso, Rititi, eu acho que tens razão. Mas nem sempre é possível nós mudarmos as coisas que exprobras com mestria no teu post. Temos mesmo que cair na vil tristeza. Comprar um fato de treino da Adidas e um par de ténis e ir passear para o Colombo. Alternativamente arvorar-me em emplastro de gradação superior àquele que conhecemos do Porto (sempre tenho dentes e uma licenciatura) e vou para a televisão dizer mal do ministro da saúde. Ou melhor, da ministra da educação. Embirração por embirração sempre embirro mais com a Maria de Lurdes. E com alguns professores, já agora, mas também não se pode ter tudo. Deixo o ministério das finanças de reserva pois, acredites ou não, a televisão já hoje disse em noticiário, pelo menos dez vezes, que 25% dos portugueses pagam as contas e não lhes fica dinheiro nenhum na carteira. Lá está… uns queixinhas. Claro que há os que não pagam as contas, mas o banco de Portugal agora não dá tréguas, vai tudo para a lista negra. Uma lista do género daquela que as finanças agora têm para dizer que lhes devemos dinheiro. Nem que seja uma multa relativa a 2006 que motivou um mail que me foi enviado às 05:15 da manhã do dia 1 de Janeiro (boas entradas…) a dizer que se não pagasse me penhoravam e me mandavam para uma lista de caloteiros. E depois, há o Sócrates. O PS. O Vitalino. O Louçã e o Armando Vara e uma data deles mais. E o surro de Lisboa, o cocó dos cães da Lapa, os carros nos passeios, os restaurantes a cheirar a fritos e os motoristas de táxi a cheirar a quinze dias de cama, os autarcas, as matronas do jet-set e os homens que usam bigode. Os jornalistas que dizem ilecópteros e que escrevem duas gramas. Os zelotas da paróquia. Os anti-tabagistas primários. E mesmo os secundários, ou seja os que tendo a nobre missão de cuidar da tua saúde vão para o restaurante do casino fumar uma cigarrilha e espoletam uma discussão académica sobre quem tem razão.

Olha, Rititi, tu já viste que “isto” dá pano para mangas. De resto, não estou a dizer nada que não saibas, por isso, “xacáver”, olha vou mudar de jardim e tentar namorar outra vez. Pode ser que não leve uma estalada. Um besito para aí, onde as pessoas enchem as ruas, os restaurantes, os museus, os bares, as esplanadas e, sobretudo, se riem. E onde fazem demonstrações com, aparentemente, dois milhões de pessoas sobre a família e sobre as zapaterices que a imprensa portuguesa, com um pudor idiota, ou só idiota sem pudor algum, escamoteia.

Pensando melhor, nem namorar vou. Vou ali ao Corte Inglés comprar uma coisa qualquer. Não sei bem o quê, mas compro qualquer coisa.