domingo, agosto 12, 2007

Fora das linhas



[1940]


Às vezes não é bem falarmos ou escrevermos mal. É a distracção, a superficialidade, a forma estouvada de nos exprimirmos. Sabemos falar bem mas fazemo-lo mal, assim como quem guia bem e arruma o carro por cima dos traços do parqueamento.

Isto vem a propósito de uma expressão muito comum do Estado Novo e que rematava a maioria dos ofícios e que era atento, venerador e obrigado. Conhecida a nossa irresistível tendência para abandalharmos a nossa própria língua, a expressão tem-se transformado em atentos, venerandos e obrigados, aqui pela blogoesfera, com uma irritante frequência. Mesmo que a memória falhasse, bastava reparar que venerador é o que venera e venerando é o que é venerado, como era a "veneranda figura do Chefe de Estado", pelo que a expressão correcta teria de ser sempre atentos, veneradores e obrigados.

Isto não teria grande importância, se não se tratasse de gente de quem se espera uma linguagem escovada e correcta.


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