quinta-feira, julho 05, 2007

Voltam as alcinhas


[1860]
Lisboa entra hoje naquele período de magia, que eu gosto. Menos gente, menos carros, restaurantes mais vazios e salas de cinema com dois ou três indefectíveis das matinés de ar condicionado forte e cadeira vazia à frente para pôr o pezinho, ao qual se retirou, previamente, o sapato.

As sombras do Jardim da Estrela vão estar mais escuras e os patos mais preguiçosos. Voltam as alcinhas às mulheres bonitas de Lisboa (e do Porto, e do Porto, pronto, perdoem-me as minhas confrades portuenses, mas eu não estou lá, não vejo…), as sandálias e areja-se as áreas do corpo que durante meses viveram em regime anaeróbio, escondidas e a criar brancura mirrada que só o sol pode tratar.

Não gosto muito de sol. A não ser no mar, de barco, com o sal da espuma de uma ou outra onda mais rebelde a depositar-se nas sobrancelhas e no canto da boca. Altura para verter uma garrafinha de água pela cara abaixo e comer uma pequena barra de chocolate. Mas gosto de ver os efeitos do sol, sobretudo num grupo de pessoas, nós, que não sabemos viver sem sol, por qualquer razão que me escapa mas que um dia destes o nosso governo nos explica, se não achar que há motivo para inquérito disciplinar. Ainda hoje, os noticiários da manhã reflectiam um desusada excitação… porque Lisboa ia chegar aos 30º. O próprio "weather man" do canal 1 (a RTP agora tem um cientista que leva meia hora a dizer banalidades para nos informar se chove ou faz sol) não conseguia esconder uma inusitada excitação de menino a quem deram uma Play Station a dizer que o sol estava aí, o sol ia trazer 30 º e, importante, estava para ficar. O que vale é que no folheio habitual de “qualquer coisa” enquanto tomo o pequeno-almoço, a Bibá Pitta me dizia que temos de ter cuidado com o sol por causa do cancro da pele. Imaginem que eu não lia o Jornal da Região e me descuidava com o cancro da pele. As coisas que esta gente aqui de Cascais sabe…

P.S. Entretanto... já há um fogo qualquer na Arrábida. Já cá faltava!

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