O post que eu gostava de ter escrito
[1857]
Simples e sem espinhas
Michael Cunningham, o autor de “As Horas” e “Dias Exemplares” (livros que não li, não vou ler e não gostei), em entrevista a Carlos Vaz Marques (Pessoal e Transmissível, TSF, segunda-feira dia 2), deu o mote e avançou com a doutrina: para nos subtrairmos à angina, à usura e à tísica, deve adoptar-se uma disposição «paranóica», de desconfiança permanente. “When in doubt”, disse Cunningham, paranóia já. Porquê? Porque, com o tempo, o inacreditável revelou-se real, o inverosímil passou a provável, o impossível deixou de o ser. É, portanto, mais seguro ser-se assim. Acerta-se mais e combate-se a dissimulação. Deu como exemplo o tabaco. Disse ele que se alguém, há uns anos atrás, porventura lançasse no ar a teoria conspirativa segundo a qual as tabaqueiras passariam a colocar nos cigarros aditivos potenciadores do vício, seria obviamente alvo de chacota e acusado de demente ou, no mínimo, de «alarmista». Pois é. Acontece que, segundo Cunningham, o tempo viria a dar razão ao então «maluquinho» porque é precisamente isso que passou a acontecer: as tabaqueiras passaram a inquinar o bom do tabaquinho, alienando meio mundo e matando a outra metade. Ora, aconselhou-nos o escritor, num mundo em que a realidade tende a ultrapassar a ficção, adoptar uma atitude «paranóica» é o caminho. É uma espécie de seguro de vida, que nos protege do mal e evita que nos tomem por parvos. A «paranóia» potencia mecanismos de defesa - se exagerados ou infundados pouco interessa.
Ia a conversa neste caldo meio pateta meio neurótico, quando Cunningham dá um salto ao Iraque (tinha que ser), com o objectivo de salvar a face em relação à sua própria doutrina. Não terá sido essa a disposição adoptada pelo governo norte-americano e por boa parte da opinião pública mundial, face aos indícios e às duvidas que colocavam nas mãos do déspota de Bagdad armas de destruição em massa, já produzidas ou em fase de produção? Não. No caso do Iraque, afirmou Cunningham, a atitude sensata teria sido a do «desbelief», a do «deixa andar», a do «tudo na boa». No caso do Iraque a «paranóia» não fazia sentido. E porquê? Porque, explicou Cunningham, os EUA são a nação mais perigosa do mundo. Um cancro. “O” mal. Então e o Irão de Ahmadinejad? Cordeirinhos. E a Coreia do Norte de Kim Jong-il? Do melhor que há. E o Sr. Chavez? Um misto de Ghandi e Calimero. E a Rússia do Sr. Putin? Um exemplo de Democracia. E pronto, já está. O mundo explicado em pouco mais de dez minutos. O Cunningham? Um génio.
E gostava de ter escrito, porque ouvi a entrevista na íntegra. E porque hesitei em mudar de estação ao fim de duas ou três patacoadas que o post menciona, não fosse o engenho do Carlos Vaz Marques em nos prender ao tema.
Quem escreveu o post
foi um tal de Carapinha, Simples e sem espinhas
Michael Cunningham, o autor de “As Horas” e “Dias Exemplares” (livros que não li, não vou ler e não gostei), em entrevista a Carlos Vaz Marques (Pessoal e Transmissível, TSF, segunda-feira dia 2), deu o mote e avançou com a doutrina: para nos subtrairmos à angina, à usura e à tísica, deve adoptar-se uma disposição «paranóica», de desconfiança permanente. “When in doubt”, disse Cunningham, paranóia já. Porquê? Porque, com o tempo, o inacreditável revelou-se real, o inverosímil passou a provável, o impossível deixou de o ser. É, portanto, mais seguro ser-se assim. Acerta-se mais e combate-se a dissimulação. Deu como exemplo o tabaco. Disse ele que se alguém, há uns anos atrás, porventura lançasse no ar a teoria conspirativa segundo a qual as tabaqueiras passariam a colocar nos cigarros aditivos potenciadores do vício, seria obviamente alvo de chacota e acusado de demente ou, no mínimo, de «alarmista». Pois é. Acontece que, segundo Cunningham, o tempo viria a dar razão ao então «maluquinho» porque é precisamente isso que passou a acontecer: as tabaqueiras passaram a inquinar o bom do tabaquinho, alienando meio mundo e matando a outra metade. Ora, aconselhou-nos o escritor, num mundo em que a realidade tende a ultrapassar a ficção, adoptar uma atitude «paranóica» é o caminho. É uma espécie de seguro de vida, que nos protege do mal e evita que nos tomem por parvos. A «paranóia» potencia mecanismos de defesa - se exagerados ou infundados pouco interessa.
Ia a conversa neste caldo meio pateta meio neurótico, quando Cunningham dá um salto ao Iraque (tinha que ser), com o objectivo de salvar a face em relação à sua própria doutrina. Não terá sido essa a disposição adoptada pelo governo norte-americano e por boa parte da opinião pública mundial, face aos indícios e às duvidas que colocavam nas mãos do déspota de Bagdad armas de destruição em massa, já produzidas ou em fase de produção? Não. No caso do Iraque, afirmou Cunningham, a atitude sensata teria sido a do «desbelief», a do «deixa andar», a do «tudo na boa». No caso do Iraque a «paranóia» não fazia sentido. E porquê? Porque, explicou Cunningham, os EUA são a nação mais perigosa do mundo. Um cancro. “O” mal. Então e o Irão de Ahmadinejad? Cordeirinhos. E a Coreia do Norte de Kim Jong-il? Do melhor que há. E o Sr. Chavez? Um misto de Ghandi e Calimero. E a Rússia do Sr. Putin? Um exemplo de Democracia. E pronto, já está. O mundo explicado em pouco mais de dez minutos. O Cunningham? Um génio.
E gostava de ter escrito, porque ouvi a entrevista na íntegra. E porque hesitei em mudar de estação ao fim de duas ou três patacoadas que o post menciona, não fosse o engenho do Carlos Vaz Marques em nos prender ao tema.
Quem escreveu o post
que uns conhecem e outros não, mas isso são outras histórias que não vêm agora ao caso. E só mais um registo para um pormenor que
CCC não mencionou e que achei delicioso. O ar trágico e revoltado com que Michael Cunningham nos informou que as fábricas americanas de pasta de dentes misturavam açúcar no produto. Açúcar, imagine-se. Os bandidos...
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Etiquetas: bloggers, Pessoal e intransmissível
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