quinta-feira, maio 03, 2007

Parâmetros desiguais



[1716]

A questão não se põe em termos da frivolidade do discurso, dos maneirismos e tiques da esquerda democrática e dos amanhãs que andam para cantar há uma data de tempo e nunca mais cantam (e nunca mais cantam porque a própria esquerda nao deixa, estraga tudo, complica tudo, mistura tudo e é, habitualmente, incompetente. E a incompetência não casa com a utopia, mesmo que embrulhada em retórica de papel de fantasia). A questão não está aí. A questão está no permanente recuo do desenvolvimento dos paises que ainda olham a esquerda na perspectiva salvífica da solidariedade e da justiça, nao curando de perceber que não há registo ou memória de um regime de esquerda que tenha colocado os povos num estádio do desenvolvimento e do bem estar que apregoam em prolíficas campanhas eleitorais (quem não se lembra da campanha de Guterres, ao som de Vangelis onde a sua clara impreparação era disfarçada com cenas populistas e idiotas das quais me ocorre, avulso e porque raiou o absurdo, uma carga da GNR sobre uma multidão qualquer lá para os lados de Lamego, seguida de uma brigada de socorristas cheios de mercurocromo e pensos rápidos que iam tratando do povo, tudo devidamente filmado pela RTP?). E recuo porque a realidade e a complexidade dos problemas politicos não se compadecem com lirismos idiotas retirados das cartilhas que se aprendiam pelas faculdades.

A questão está no facto de os problemas serem cada vez mais difíceis de resolver e mais exigentes do ponto de vista de preparação, competência e honestidade politica. Ouvir, ontem, Ségolène Royal usar o estilo, a técnica e a vacuidade "guterrista" para tentar desbaratar os argumentos de Sarkozy, ao mesmo tempo que ripostava com a ligeireza do costume (constrangia ouvir Sakorzy pegar no discurso de Ségolène e colocar-lhe perguntas concretas a que ela não sabia responder, mas sobre as quais debitava mais uns longos minutos de retórica estéril e terminava com um voilá ma reponse...).

Nada de novo, portanto. O que preocupa. Porque a França não é Portugal. Porque a França tem problemas intrincados e muito delicados para lidar como o da imigração, o desemprego, a saúde e a segurança social e a esquerda acha que para resolver estes problemas a solução está em trabalhar menos horas, ganhar mais, receber mais do estado em reformas, tudo temperado com a demagogia e populismo do costume, mesmo que disfarçados por parâmetros estéticos (ela é, realmente, uma mulher muito bonita...) com que Sarkozy não pode competir.

Ficou particularmente bonita quando Sarkozy lhe disse que estava muito nervosa e ela disse que não. Estava apenas en colère. Mas isto é um aparte machista que não vem ao caso, saiu-me...

NOTA:
Hoje li algures por aí (e não faço link, peço desculpa, porque não consigo lembrar-me onde foi que li) qualquer coisa como (palavras minhas) “os comunistas vivem o glorioso farol do comunismo mas que nao é bem comunismo, porque todos sabemos que os regimes comunistas não são bem-bem comunistas, mas apenas o comunismo possível, antes do comunismo total que chegará um dia. Mas para já, é o que se pode arranjar..."

Com os socialistas é a mesma coisa, ou não fosse o socialismo, no fundo, no fundo, aquilo que em botânica se chama uma degenescência. Quando estão no poder,vai-se metendo o socialismo na gaveta, porque todos os socialistas estão carecas de saber que o socialismo só funciona na gaveta. Quando voltam para a oposição, la vão eles à gaveta buscar o estandarte outra vez. É que já não há pachorra!...


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5 Comments:

At 7:56 da manhã, Blogger cristina disse...

Não tenho acompanhado as eleições francesas. O pouco (muito pouco!) que "sei" até tem sido por comentários blogosféricos (em especial as tuas reticências relativamente a Ségolène). Ou seja, não tenho "como" comentar o teu post. No entanto, duas passagens me fizeram parar a leitura corrida de toda essa tua argumentação:

«a França não é Portugal. Porque a França tem problemas intrincados e muito delicados para lidar como o da imigração, o desemprego, a saúde e a segurança social»

«todos os socialistas estão carecas de saber que o socialismo só funciona na gaveta»

Eu sei que agora devia contrapor alguma coisa... Mas, para já, fico-me apenas pelo questionar dessas tuas afirmações, pode ser? :)

 
At 8:52 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

cristina
Claro que pode. Tenho muito gosto nos teus comentários.

 
At 9:52 da tarde, Blogger A. A. Barroso disse...

É a espuma a falar...

 
At 9:55 da tarde, Blogger A. A. Barroso disse...

É a espuma a botar faladura...

 
At 11:45 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

a.a.barroso
Aqui não se bota faladura. Da mesma maneira que não se bota comentários. Escrevem-se comentários como o seu. E só cá vem quem quer ou quem gosta. Tal como no seu blog, presumo.
Apareça sempre.

 

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