sexta-feira, maio 18, 2007

Acordar sem pré-aviso



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Isto de acordar com a televisão ligada tem destas coisas. Esta gente não avisa e um dia destes dá-me três coisas com notícias dadas de chofre, assim sem avisar nem respeito pelo gradual regresso das meninges ao “mode activo”. Então não é que por entre as brumas do sono eu oiço que a Irlanda proibiu um medicamento que, por acaso e devido a uma dor na articulação úmero-clavicular (uau, as coisas que eu aprendo a dizer…), eu ando a tomar? O produto tem uma substância activa chamada nimesulida (para os ignorantes destas coisas, saiba-se que os nomes das moléculas escrevem-se sempre em letra minúscula, não tem nada a ver com a
fernanda câncio, é assim mesmo, e permitam-me que me espante de novo com as coisas que eu sei…) que deveria acabar com as tais dores. Deveria, mas ainda não tirou, o que me faz pensar que estou a entrar numa fase irreversível de deterioração do esqueleto que nenhuma nimesulida resolve.

Depois de ouvir as razões da retirada do produto do mercado irlandês, apareceu (ouvi, estava de olhos fechados) um senhor com voz de médico (há a letra de médico que é aquela que ninguém entende e há a voz de médico que é aquela própria de alguns médicos que as televisões desencantam para ir falar 30 segundos num programa qualquer e que a gente ouve mas não decifra. Não que a semântica seja complicada, está ao alcance de qualquer um com 9º ano, não se entende é bem o que o homem está a dizer) a explicar que não só mas que também e berebeubéu, aquele registo oral em que os portugueses, médicos, trolhas ou jogadores de futebol são exímios, entenda-se a faculdade de falar enrolado, com “huuuuus” entremeados, “é assins” a cada passo, “repare” em cada canto e “ainda bem que faz essa pergunta” de dois em dois minutos. Resultado, fiquei na mesma, depois do tal médico falar. Ou seja, basicamente, o medicamento é perigoso na Irlanda e foi proibido e cá em Portugal não sei quê não sei quantos, depois logo se vê.

Conhecidos a seriedade e rigor com que tratamos destes assuntos, adivinhem o que é que fiz à caixa de pacotinhos de nimesulida que tinha na gaveta dos medicamentos. E agora, como é que eu trato a síndrome dolorosa da articulação úmero-clavicular com ramificações para o úmero, com possível origem psico-somática, agravada com um alegado aumento de 4 kg (já foram oito) de peso devido à interrupção brusca do tabagismo há dezoito meses (ainda a tempo de ter escapado à multa de € 0,20 do Scolari e da Rosa Mota)?


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