segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O choro da virgem


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Fernanda Câncio acomete furiosamente sobre a campanha obscena do “não”. Diz que puseram a Virgem a chorar, fotografaram fetos aos bocadinhos, puseram cartas escritas por embriões nas mochilas dos putos e que andaram a “caminhar” com bebés sob temperaturas negativas.

Fernanda Câncio sabe, porque nao é estúpida, que está a tentar fazer passar um padrão comportamental dos adeptos do "não", como se todos eles fossem como a Fernanda sugere serem. Um rancho de lorpas incultos, obscuros e exemplo vivo de um povo subproduto da época salazarenga. E que os que eventualmente forem mais “iluminados” serão exactamente os mentores destas obscenidades. Por isso eu acho que a crónica dela no DN de hoje (nao consigo o link) é tão obscena quanto as lágrimas de virgem ou as temperaturas negativas (below zero, by the way...) que ela retrata. E mais. É um exemplo de jornalismo rasteiro, objectivamente dirigido e parcial. Porque nao suporta que um rancho de parolos e de beatas incultos lhe ganhem um referendo. É a chamada militância de claque.

Outra hipótese é a
Fernanda ser alérgica ao povo, assim a modos que Jaime Gama e as moscas africanas. Só que Jaime Gama deixou de ir a Africa e a Fernanda Câncio continua a escrever num jornal que me custa € 0,90. Que ninguem me obriga a ler, eu sei, mas o DN é assim um bocadinho como o tabaco. Habituamo-nos, sabemos que faz mal e vamos fumando.

A militância dos adeptos do sim nao me é estranha. Nem sequer a obscenidade com que se desenvolve. Basta ler por aí. Desde o feto que nao é mais que um “resto de período” até às “coisas humanas” há muito por onde escolher. Com uma agravante. É que estas obscenidades vêm de gente culta e engomada. Nao remete para iletrados de velinha na mão a venerarem as lágrimas da Virgem.

A questão é que há obscenidades mais obscenas que outras. Tovavia, a obscenidade é a mesma. Mudam as moscas. Umas são broncas e, quiçá, sinceras. Outras sao polidinhas, escovadas e terrivelmente cínicas.