Uma Lição do Papa.
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Não deve haver académico que, lá no fundo, não tenha um especial fraquinho pelo Papa Bento XVI. Afinal, ele faz parte da corporação e, mais, foi durante muito tempo um motivo de orgulho para a corporação. Fala o dialecto da seita, escreve no dialecto da seita e, se não pensa como a seita, pensa segundo as regras da seita. Só que é Papa e que, sendo Papa, de quando em quando, esquece o mundo cá de fora e reverte ao seu velho papel de universitário. O "escândalo" de Ratisbona não passa disto. Bento XVI, querendo explicar a irracionalidade da conversão pela violência, citou o imperador Manuel II Paleólogo. Num diálogo com um persa, Paleólogo dissera: "Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava". O mais preliminar assistente de Literatura, História, Filosofia ou Teologia percebe logo três coisas. Primeira, que o Papa não dá o imperador Paleólogo como um intérprete autorizado da religião muçulmana, mas como um como um opositor inteligente à perseguição religiosa. Segunda, que o Papa não esqueceu as perseguições da sua própria Igreja e que usou o imperador por conveniência ilustrativa da desordem moderna. E, terceiro, como o título e o resto da conferência comprovam, que Ratzinger não estava interessado em "atacar" ninguém, estava interessado na dualidade da fé e da razão. Infelizmente, a "rua" islâmica não é o público letrado da Universidade de Ratisbona e começou rapidamente a usual campanha de ódio contra o Bento XVI, que de toda a evidência o deixou estupefacto. O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristã um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele.
Não deve haver académico que, lá no fundo, não tenha um especial fraquinho pelo Papa Bento XVI. Afinal, ele faz parte da corporação e, mais, foi durante muito tempo um motivo de orgulho para a corporação. Fala o dialecto da seita, escreve no dialecto da seita e, se não pensa como a seita, pensa segundo as regras da seita. Só que é Papa e que, sendo Papa, de quando em quando, esquece o mundo cá de fora e reverte ao seu velho papel de universitário. O "escândalo" de Ratisbona não passa disto. Bento XVI, querendo explicar a irracionalidade da conversão pela violência, citou o imperador Manuel II Paleólogo. Num diálogo com um persa, Paleólogo dissera: "Mostra-me então o que Maomé trouxe de novo. Não encontrarás senão coisas demoníacas e desumanas, tal como o mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava". O mais preliminar assistente de Literatura, História, Filosofia ou Teologia percebe logo três coisas. Primeira, que o Papa não dá o imperador Paleólogo como um intérprete autorizado da religião muçulmana, mas como um como um opositor inteligente à perseguição religiosa. Segunda, que o Papa não esqueceu as perseguições da sua própria Igreja e que usou o imperador por conveniência ilustrativa da desordem moderna. E, terceiro, como o título e o resto da conferência comprovam, que Ratzinger não estava interessado em "atacar" ninguém, estava interessado na dualidade da fé e da razão. Infelizmente, a "rua" islâmica não é o público letrado da Universidade de Ratisbona e começou rapidamente a usual campanha de ódio contra o Bento XVI, que de toda a evidência o deixou estupefacto. O papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa. Não podia pedir. Nem pelo incidente, fabricado pelo fanatismo e a ignorância, nem pelo teor geral da conferência de Ratisbona. Ratzinger insistiu que a fé não é separável da razão e que agir irracionalmente "contraria" a natureza de Deus. Não vale a pena entrar nas complexidades do assunto. Basta lembrar que desde o princípio (desde Orígenes, por exemplo) se construiu sobre a fé cristã um dos mais sublimes monumentos à razão humana e que o Ocidente, apesar da "Europa", não existiria sem ele. A fé muçulmana não produziu nada de remotamente comparável e, durante quinze séculos, sustentou uma civilização frustre e parada. A conferência de Ratisbona reafirmou a essência do cristianismo. Se o islão se ofendeu, pior para ele.
Vasco Pulido Valente no Público de ontem
6 Comments:
Nã gosto particularmente da criatura, mas reconheço-lhe a inteligência e a articulação. Acho nojento retirarem 3 linhas do discurso do homem e transformarem isso numa desculpa para mais badernas!
Irrita-me. Mais até do que aquele golo marcado com a mão...
Mosca cojonera Ska-P lyrics
Artist: Ska-P
Album: Planeta Eskoria
Year: 2000
Title: Mosca cojonera
Quien es ese que siempre de blanco va?
Imponiendo les normas de su moral,
Bendiciendo a las masas que le persiguen,
Y de nombre le llaman su Santidad?
Que no, que no canta en un grupo de rock!
No hace cine, ni television
Es el lider de una religion!
Ay!La madre de Dios!
Ay!Que ver con el viejo cuando poder
Vaya labiaque tiene pa convencer
Hacen cola los ricos y los famosos
Pa comprar su parcela en el nuevo eden!
Que no, que no es ningun as del balon!
No ha ganado en Eurovision
Es el lider de una religion!
Ay!La madre de Dios !
Cuanto talento, embaucamiento!
Y ese es el baile, el baile del papa...
Es un personaje de ficcion, es la mosca cojonera!
Profesional embaucador, es la mosca cojonera!
Es un personaje de ficcion, es la mosca cojonera!
Profesional embaucador
Cojonera, cojonera oaiaio, cojonera, cojonera rastato...(X2)
Me han contado que tiene su proprio Estao,
El mas rico del mundo,que desgrarciao
Hay que ver lo que renta vuestra doctrina
En el nombre de Cristo os habeis forrao
Que no, cuantos muertos en nombre de dios ?
Que recuerdos de la inquisicion!
Siempre al lado de algun dictator!
Ay!La madre de dios!
Cuanto talento, embaucamiento!
Y esto es un son para todos los santo y las santas del vaticano !
Es un personaje de ficcion, es la mosca cojonera!
Profesional embaucador, es la mosca cojonera!
Es un personaje de ficcion, es la mosca cojonera!
Profesional embaucador
Cojonera, cojonera oaiaio, cojonera, cojonera rastato...(X2)
Fuera de aqui, fuera de mi, maldita mosca cojonera(X3)...fuera!!!
Lo que tienes que pensar pa librarte de currar
No me creo de esta mierda de ensalada clerical
...............LADRON!.............
Por acaso estava mesmo a ouvir Ska-P qdo li este post e resolvi partilhar :P
125_azul
O golo marcado com a mão, sim. Foi uma coisa vergonhosa poderia ter contribuído decisivamente para o equilíbrio da precária paz mundial :))) Quando ao não gostares da criatura, fiquei sem perceber se é do papa, do VPV ou, no extremo, de mim :))
beijinho
gosto muitissimo de ler o pulido valente, considero_o um homem inteligente, sarcastico do modo justo e incisivo. contudo, ha certas coisas que, como nao catolica, me parecem contraditorias.
Para ja parece ninguem por em causa qual a autoridade do papa para interferir de forma critica numa outra religiao, o que faz presumir que ele se considera o grande chefe religioso do mundo e nao apenas um mais. O que, obviamente, me coloca algumas duvidas em relacao ao seu respeito multicultural.
depois, como pode o Pulido Valente afirmar o lado a lado entre a razao e a fe sobre um papa que defende o criacionismo em deterimento do evolucionismo... bom podia continuar. mas nao quero perder as boas graças de ontem! :)
Miss Spring
Não, nunca deixas de estar em boas graças :))
Mas olha... leste bem o VPV? Ele faz bem a destrinça entre um discurso religioso e uma aula num registo puramente académico. Que foi o que aconteceu... que mais te poderei dizer? Quanto ao criacionismo... sou um indefectível crente no evolucionismo mas isso não me inibe de ouvir gente que sabe muito mais do que eu, que são crentes e que o negam em favor do criacionismo. E é um tema vastíssimo que se pode discutir sem assumirmos o negacionismo que pareces assumir, tal a convicção que tens em Darwin. A mesma que eu, parece-me - Mas não podemos ser axiomáticos.
beijinho para ti
eu percebo isso perfeitamente. mas poderá um papa fazer um discurso puramente académico, dado o seu papel de chefe religioso?
acredita que isto não é um assunto ligeiro para mim. quando, vivendo em itália, observei a interferência do mesmo em assuntos de matéria totalmente civil (os mesmos de sempre aborto, matrimonios gays etc mas outros: se calhar nao sabes mas em itália nao podes comprar a pilula sem uma receita especialissima, passada por um dos poucos médicos que nao se recusa, por questoes "eticas" a faze-lo), deixei de admitir a sua autoridade para falar de temas que nao fossem exclusivamente da ordem da comunidade católica.
E a igreja tem tantas, tantas máculas. Será que tem, de facto, alguma autoridade para apontar o dedo às barbáries realizadas em nome de outras religiões? É só isso. O meu não é um discurso "esquerdista-ateu-revoltado", é simplesmente uma tentativa de ser justa. E quantos supostos católicos estão, exactamente neste momento, a mal tratar islâmicos? E porque é que isso não é tema de conversa do Bento XVI e só ataca o alvo mais conveniente?
Enfim, aqui ficam os meus (longos, e talvez chatos) pensamentos!
um beijinho!
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