O labrego nacional
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O labrego nacional tem entre quarenta a cinquenta anos, é obeso, tem bigode, transpira da testa e tem barba de anteontem. O labrego nacional é chefe de uma oficina de reparação de automóveis de marca conhecida e intuiu a gloriosa missão que tem em mãos, depois de empacotar um vocabulário muito específico que inclui embaladeiras, grelhas, painel e chapa vincada. Olha, com um misto de desdém e de especialista em ver se os melões estão maduros quando vai ao Continente, para os miserandos ignorantes da coisa automóvel e o seu bigode eriça-se quando o ignorante é uma mulher. Porque as mulheres guiam mal e não fazem a mínima ideia do que têm em mãos quando seguram entre os dedos um guiador automóvel.
Como o labrego nacional não gosta de paneleiros, olha para a mulher/cliente com um ar intermédio de indiferença de quem papa uma gaja todos os dias e, glória suprema, as “despacha” entre três ou quatro minutos sem precisar das paneleirices dos preliminares e um olhito guloso, porque uma pita é uma pita e nunca se sabe quando uma queca lhe cai no prato da sopa. O labrego nacional acha que quem quer que precise de se deslocar á oficina de reparações onde ele é chefe tem a obrigação estrita de o ouvir e não deve, não pode, saber mais do que ele. Muito menos, sugerir que percebe minimamente o que ele lhe diz. A mulher cliente deverá mesmo esboçar um ar de admiração por aquele ser dotado que percebe de embaladeiras, “aparelho” e substituição à razão de €35/hora. O labrego nacional recebe, displicente, o relatório da companhia de seguros que fez a peritagem de um pequeno acidente, agita o relatório numa das mãos, sem ler, e vai ditando umas ordens para o séquito de operários a quem ele há-de ministrar doutos ensinamentos sobre a melhor forma de desvincar um chapa. O labrego nacional lê o relatório da companhia de seguros quando bem lhe apraz e depois de atingir um orgasmo mental (ia a dizer intelectual mas isso seria um total disparate…) por ter feito esperar a cliente uns bons cinco minutos antes de se dignar olhar para o relatório, para, finalmente, lhe dizer, com um ar de quem acabou uma tese de doutoramento em embaladeiras: - “Estes gajos não percebem nada, isto está tudo mal, menina, olhe táver, a grelha tem o suporte partido e eles não puseram a grelha na requisição, aqueles gajos olham para o carro e vêem o que está partido e mainada. Farol e tá andar. É preciso abrir o capô e ver os pormenores derivado à pancada, táver? Como é que vou fazer um trabalho assim? E depois quem é que me paga?”
Se esta gente não tivesse direito a subsídio de desemprego era bem feito que fossem para casa arranjar as embaladeiras da carrinha dos biscates e meterem imigrantes a trabalhar. Podem não perceber tanto de embaladeiras mas são, frequentemente, mais bem educados. E não são labregos.
O labrego nacional tem entre quarenta a cinquenta anos, é obeso, tem bigode, transpira da testa e tem barba de anteontem. O labrego nacional é chefe de uma oficina de reparação de automóveis de marca conhecida e intuiu a gloriosa missão que tem em mãos, depois de empacotar um vocabulário muito específico que inclui embaladeiras, grelhas, painel e chapa vincada. Olha, com um misto de desdém e de especialista em ver se os melões estão maduros quando vai ao Continente, para os miserandos ignorantes da coisa automóvel e o seu bigode eriça-se quando o ignorante é uma mulher. Porque as mulheres guiam mal e não fazem a mínima ideia do que têm em mãos quando seguram entre os dedos um guiador automóvel.
Como o labrego nacional não gosta de paneleiros, olha para a mulher/cliente com um ar intermédio de indiferença de quem papa uma gaja todos os dias e, glória suprema, as “despacha” entre três ou quatro minutos sem precisar das paneleirices dos preliminares e um olhito guloso, porque uma pita é uma pita e nunca se sabe quando uma queca lhe cai no prato da sopa. O labrego nacional acha que quem quer que precise de se deslocar á oficina de reparações onde ele é chefe tem a obrigação estrita de o ouvir e não deve, não pode, saber mais do que ele. Muito menos, sugerir que percebe minimamente o que ele lhe diz. A mulher cliente deverá mesmo esboçar um ar de admiração por aquele ser dotado que percebe de embaladeiras, “aparelho” e substituição à razão de €35/hora. O labrego nacional recebe, displicente, o relatório da companhia de seguros que fez a peritagem de um pequeno acidente, agita o relatório numa das mãos, sem ler, e vai ditando umas ordens para o séquito de operários a quem ele há-de ministrar doutos ensinamentos sobre a melhor forma de desvincar um chapa. O labrego nacional lê o relatório da companhia de seguros quando bem lhe apraz e depois de atingir um orgasmo mental (ia a dizer intelectual mas isso seria um total disparate…) por ter feito esperar a cliente uns bons cinco minutos antes de se dignar olhar para o relatório, para, finalmente, lhe dizer, com um ar de quem acabou uma tese de doutoramento em embaladeiras: - “Estes gajos não percebem nada, isto está tudo mal, menina, olhe táver, a grelha tem o suporte partido e eles não puseram a grelha na requisição, aqueles gajos olham para o carro e vêem o que está partido e mainada. Farol e tá andar. É preciso abrir o capô e ver os pormenores derivado à pancada, táver? Como é que vou fazer um trabalho assim? E depois quem é que me paga?”
Se esta gente não tivesse direito a subsídio de desemprego era bem feito que fossem para casa arranjar as embaladeiras da carrinha dos biscates e meterem imigrantes a trabalhar. Podem não perceber tanto de embaladeiras mas são, frequentemente, mais bem educados. E não são labregos.
11 Comments:
oh Espumante, não me digas que foste ao mecânico disfarçado de mulher?...
Beijinhos, confusos,
Sinapse
Não...
Eu explico
Fui pessoalmente à peritagem com a minha filha, no carro dela, por causa de uma pequena mossa e de um farol partido. Fui eu porque tanto o carro como o seguro estão em meu nome. O meu seguro fez a peritagem, a requisição para a oficina e eu disse à minha filha (20 aninhos de esmerada educação...) :) que podia lá ir sozinha, marcar o dia da reparação. Acontece que o suporte da grelha estava partido e o seguro não reparou...
O resto está no post. A cliente era a minha filha, claro.
A coisa ficou resolvida quando a minha filha me ligou e eu, pelo telemóvel, dei uma de portuga e soltei umas labreguices também,
Já descarreguei.
Beijinhos labregos
:))))
Juro, mas juro mesmo, que à medida que ia lendo pensei na tua filha, por causa da história do Kolmi meloso "pai, trocas-me o pneu"?
Nós a dar-te miminhos o dia todo e tu com esse mau feitio!
É que é mêmo assim... Mai nada!!
Parabéns pelos 1000 posts.
Céus!
Até me arrepia a fotografia que puseste!
Espero não ter pesadelos esta noite... :)
Beijola.
125_azul
É... reparei que me estragaste com mimos :))) Um dia destes ainda me convenço que tenho graça :)beijinho
Sinapse
Aquele comentário logo a seguir ao teu lá em cima é, naturalmente, dirigido a ti...
c_mim
Obrigado pela visita
Carlota
Diz lá que aquele bigode não foi bem escolhido :))
Beijolas
Infelizmente estamos rodeados por "montes" de exemplares destes...
Nunca mais temos esta espécie em vias de extinção!!!
Livra!
BJs
papoila saltitante
estou contigo
É uma espécie absolutamente execrável...
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