Execrável
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"...É seguramente a mais obscena de toda a publicidade que actualmente se vê na televisão e ouve na rádio. Na primeira, um rapaz atravessa um jardim e dirige-se a acolhedora casa. Leva nos braços uma bela mulher. Toca a campainha. Um senhor mais velho abre a porta. O rapaz diz: "Depois de três dias de casamento, acho que a sua filha não é mulher para mim... Por isso...". E entrega a mulher, bonita, passiva, dócil, com o ar doce de animal de estimação e tão expressiva como um electrodoméstico. O senhor recebe a mulher. O rapaz vai-se embora. O publicitário ataca: "Era bom se pudesse sempre experimentar primeiro... O Opel Astra oferece-lhe um teste... E manutenção durante dois anos e 60.000 quilómetros...". E mostra o carro...
Na rádio, a mesma marca de automóveis opta mais directamente pela pura grosseria. Um senhor vai a um comércio de animais protestar. Quer devolver o cão que comprara. Afinal, diz ele, não se trata realmente de um "fiel amigo". O cão em causa "Roubou-me o lugar na cama e tomou banho com a minha mulher"! A conclusão moral é evidente: fiel, só o carro...Já ouço a gargalhada boçal de alguns amantes da modernidade e de outros tantos lusitanos marialvas, que não se impedirão de tratar de politicamente correctos os que não gozam com o gosto dos ordinários. Mas gostaria mais de ouvir uma mulher, um homem, indignar-se perante tal vulgaridade. Ou de ver uma estação de televisão ou rádio recusar este género de publicidade. Não sei se este anúncio passa noutros países, é possível. Mas tenho a certeza de que nalguns, democráticos e sem censura, não passaria.
Foi a isto que as mulheres chegaram? Depois de uma meia existência pública e legal, depois de serem donas de casa, criadas e concubinas sem direitos, passaram a ser profissionais e empregadas, que acumularam com a maternidade e a educação. Faltava-lhes serem animais de estimação, mercadoria e electrodoméstico. E serem usadas à experiência. Já está. Ou, melhor dizendo, foi a isto que os homens chegaram..."
"...É seguramente a mais obscena de toda a publicidade que actualmente se vê na televisão e ouve na rádio. Na primeira, um rapaz atravessa um jardim e dirige-se a acolhedora casa. Leva nos braços uma bela mulher. Toca a campainha. Um senhor mais velho abre a porta. O rapaz diz: "Depois de três dias de casamento, acho que a sua filha não é mulher para mim... Por isso...". E entrega a mulher, bonita, passiva, dócil, com o ar doce de animal de estimação e tão expressiva como um electrodoméstico. O senhor recebe a mulher. O rapaz vai-se embora. O publicitário ataca: "Era bom se pudesse sempre experimentar primeiro... O Opel Astra oferece-lhe um teste... E manutenção durante dois anos e 60.000 quilómetros...". E mostra o carro...
Na rádio, a mesma marca de automóveis opta mais directamente pela pura grosseria. Um senhor vai a um comércio de animais protestar. Quer devolver o cão que comprara. Afinal, diz ele, não se trata realmente de um "fiel amigo". O cão em causa "Roubou-me o lugar na cama e tomou banho com a minha mulher"! A conclusão moral é evidente: fiel, só o carro...Já ouço a gargalhada boçal de alguns amantes da modernidade e de outros tantos lusitanos marialvas, que não se impedirão de tratar de politicamente correctos os que não gozam com o gosto dos ordinários. Mas gostaria mais de ouvir uma mulher, um homem, indignar-se perante tal vulgaridade. Ou de ver uma estação de televisão ou rádio recusar este género de publicidade. Não sei se este anúncio passa noutros países, é possível. Mas tenho a certeza de que nalguns, democráticos e sem censura, não passaria.
Foi a isto que as mulheres chegaram? Depois de uma meia existência pública e legal, depois de serem donas de casa, criadas e concubinas sem direitos, passaram a ser profissionais e empregadas, que acumularam com a maternidade e a educação. Faltava-lhes serem animais de estimação, mercadoria e electrodoméstico. E serem usadas à experiência. Já está. Ou, melhor dizendo, foi a isto que os homens chegaram..."
Tanto tempo a discutir quotas que depois não se repara nste tipo de coisas!
8 Comments:
Sinceramente, não vejo qual é o problema em qualquer um dos anúncios...
Fora eu publicitária e teria muito gosto em tê-los criado e ter cobrado uma bela maquia à Opel.
Já tive o cuidado de ver o anúncio da televisão com atenção e percebi que é dobrado, o que significa que não foi feito só para Portugal.
Quanto ao António Barreto, que muito gosto de ler, parece-me que deveria antes continuar a dar machadadas no sistema das quotas, que para isso tem mais jeito!
Beijola.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Concordo plenamente com a Carlota!!
Bjs
Carlota
Há aqui duas coisas distintas. O ponto de vista de um publicitário (e eu acho-o excelente) e há o reconhecimento implícito (mesmo que a brincar) que a mulher é uma coisa que um homem experimenta e guarda ou devolve, de acordo com aquilo que lhe soube. Nada de mais, sobretudo porque há muitas mulheres que fazem isso em relação aos homens (ui, se há...) :))
Mas o que está aqui em causa (e foi por isso que eu gostei do artigo) é o facto de tantas mulheres tão prontas a espumar por causa das quotas por exemplo e não tugirem nem mugirem sobre um anúncio que as conota, realmente, com qualquer coisa parecida com um Opel Astra. Quase apetece dizer, ainda se fosse com um Aston Martin...
E convenhamos que o anúncio pode até ter sido feito por uma mulher, mas está ali o ferrete do homem, naquilo que tem de pior - machista, caprichoso e sem fazer a mínima ideia daquilo que uma mulher é.
Beijolas e alguma vez haveríamos de discordar!
:)
Papoilasaltitante
Com acordo tão pleno com a Carlota, só poderei remeter-te mesmo para o comentário que lhe fiz
Beijinho
E prontos, pela primeira vez "desconcordo" com a Carlota e com a Papoila. Nem que fosse com um Mercedes! Mas eu, é sabido, tenho mau feitio...
125_azul
Isso agora é lá entre vocês :))
Tambem considero a propaganda de mal gosto...
não só pelo fato de comparar a mulher a um bem de consumo, mas por uma proposição um pouco mais sutil. Qual, o que não lhe agrada deve ser dispensado, ignorando a individualidade do ser, ou voce se enguadra ou esta fora do ideal deve ser posto a margem, dispensado, "devolvido", imagino que esta propanga não seja tão inofensiva, ao meu ver ajuda a propagar uma tendencia atual, que inibe o individuo a possuir e preservar sua singularidade, pois pode ser considerado inapropriado ao meio, um mal muito facilmente percebido entre adolecentes, mas não se restringe só a estes, pode ser percebido em varios campos, do esporte a arte, onde acaba por ocorrer um constante mimetismo entre as partes,
Mas não sei ce é o caso de uma empresa dispensar a campanha,
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